O que é o câncer?
O câncer é uma grave doença que surge quando alguma célula do nosso organismo sofre uma mutação, perde suas características naturais e passa a se multiplicar de forma desordenada, invadindo órgãos e vasos sanguíneos.
Câncer é um termo genérico que se aplica a mais de 100 doenças diferentes. Cada tipo de câncer apresenta causas, evolução, agressividade, sintomas e tratamentos completamente distintos. Apenas como analogia, podemos dizer que dois cânceres diferentes, como a leucemia e o câncer de pele, possuem tantas semelhanças quanto a pneumonia e o tétano, ambas doenças infecciosas causadas por bactérias.
Por isso, quando os pacientes vão à internet à procura de informações sobre “sintomas do câncer” dificilmente vão encontrar o que desejam. Cada tipo de câncer possui sintomas distintos. Não há um sintoma característico de câncer que seja comum a todos os tipos. O que a maioria dos cânceres costuma manifestar são sinais e sintomas inespecíficos, como emagrecimento, cansaço, dor no corpo, etc., que podem ocorrer também em centenas de outras doenças.
Neste artigo citaremos os 14 sintomas mais comuns que pessoas que recebem o diagnóstico de câncer costumam apresentar.
Lembre-se que a chance de cura para qualquer tipo de câncer é maior se este for detectado precocemente. Se você apresenta alguns dos sinais e sintomas que serão descritos abaixo, procure atendimento médico, não fique à espera de uma melhora espontânea com o passar do tempo. Se for um câncer, a espera pode fazê-lo perder o tempo ideal para o tratamento. O recorrente pensamento “vou esperar para ver se passa” pode se transformar em um “esperei demais e perdi a chance de cura”.
Sinais e sintomas de câncer
A lista com os sinais e sintomas comuns em pacientes com câncer que será discutida neste artigo é:
- Lesões de pele.
- Nódulo na próstata.
- Nódulo na mama.
- Sangue nas fezes.
- Tosse com expectoração sanguinolenta.
- Sangramento vaginal.
- Nódulo na tireoide
- Perda de peso não intencional.
- Dificuldade para engolir.
- Sangue na urina.
- Aumento dos linfonodos.
- Rouquidão se motivo claro.
- Anemia
- Alterações nos testículos.
Lesões de pele
O câncer mais comum em todo mundo é o câncer de pele. Portanto, uma lesão na pele talvez seja o sinal ou o sintoma que mais habitualmente indica a presença de um câncer.
Dividimos os cânceres de pele em melanoma e não-melanoma, sendo o primeiro grupo muito agressivo e o último mais brando.
O melanoma costuma se apresentar com uma mancha escura na pele de aparecimento recente, em locais habitualmente expostos ao sol, como costas, braços, pernas e face. A lesão costuma se apresentar como uma nova “pinta” assimétrica, com bordos irregulares e alterações na tonalidade da cor.
Explicamos o melanoma com mais detalhes no artigo: Melanoma – Câncer de pele.
O câncer de pele não-melanoma também surge em áreas da pele mais expostas ao sol e costuma se apresentar como lesões avermelhadas, muitas vezes com elevações e escamações da pele. Uma aparência de pequena ferida que não cicatriza também é comum.
Nódulo na próstata
O câncer da próstata é câncer mais comum do sexo masculino, por isso, alterações na próstata, principalmente em indivíduos acima dos 50 anos, devem ser sempre levadas a sério.
O sinal mais típico do câncer da próstata é um nódulo na próstata encontrado durante o exame de toque retal ou através de uma ultrassonografia.
O tumor da próstata se estiver próximo à uretra pode causas sintomas como jato urinário fraco, dificuldade para iniciar a micção e necessidade de urinar com frequência, sempre pequenos volumes.
Alguns tumores da próstata, entretanto, crescem longe da uretra e podem não causar nenhum sintoma até fases bem avançadas da doença. Por isso, o rastreio do câncer da próstata com o toque retal, o exame de PSA e a ultrassonografia são importantes na detecção precoce do tumor.
Falamos sobre o câncer da próstata com detalhes no artigo: Câncer de próstata | Sintomas e tratamento.
Nódulo na mama
O câncer mais comum nas mulheres é o câncer de mama.
O primeiro sinal ou sintoma do câncer de mama costuma ser o aparecimento de um nódulo palpável em uma das mamas. Um nódulo maligno costuma ser duro, de formato irregular e bem aderido aos planos profundos.
A presença de gânglios na axila, alterações no mamilo, secreção sanguinolenta e alterações na textura da pele na mama também são sinais de alerta que podem indicar câncer de mama.
O autoexame das mamas deve ser realizado mensalmente para que pequenas anormalidades possam ser detectadas precocemente. Porém, nem todo câncer de mama é detectável à palpação; na verdade apenas 10% o são, por isso, o exame preventivo com mamografia é essencial.
Falamos sobre o câncer da mama com detalhes no artigo: Câncer de mama | Sintomas e diagnóstico.
Sangue nas fezes
O quarto tipo de câncer mais comum é câncer de cólon e reto.
Os dois sintomas mais comuns do câncer colorretal são o sangramento nas fezes e a prisão de ventre de início recente. Como muitos indivíduos sofrem de constipação intestinal crônica, esse sinal acaba não ajudando muito, já que o paciente não nota muita alteração do seu padrão habitual de evacuação. A presença de sangramento anal, por outro lado, é um sinal que é mais fácil de ser notado.
É importante salientar que existem várias causas para sangramento nas fezes além do câncer de intestino. Hemorroidas, por exemplo, são causas comuns de sangramento anal (leia: Hemorroidas | Sintomas e tratamento).
No caso do câncer de cólon, quando há sangramento, o tumor costuma já estar bem avançado. Nas fases inicias o tumor pode até sangrar, mas o faz em pequenas quantidades, não sendo perceptível ao olho nu. Nestes casos o paciente pode apresentar anemia com carência de ferro, por perdas pequenas, porém constantes de sangue nas fezes. A pesquisa de sangue oculto nas fezes e a colonoscopia ajudam no diagnóstico.
Falamos sobre a perda de sangue nas fezes com detalhes no artigo: Sangue nas fezes | Hemorragia digestiva.
Tosse com sangue
O câncer de pulmão é outro tumor extremamente comum, só perdendo em incidência para o câncer de pele quando consideramos homens e mulheres juntos. 90% dos casos de câncer de pulmão ocorrem em fumantes (para saber mais sobre os fatores de risco para o câncer de pulmão, leia: Câncer de pulmão | Cigarro e outros fatores de risco).
Portanto, o aparecimento de alguns sinais e sintomas em fumantes deve acender um sinal de alerta. Cerca de 70% dos pacientes com câncer de pulmão apresentam tosse persistente. 50% apresentam tosse com escarro sanguinolento.
É importante salientar que várias doenças, entre elas a tuberculose e a bronquite crônica, esta última também causada pelo fumo, também pode se manifestar com tosse e secreção sanguinolenta (para ver a lista completa de causas, leia: Tosse com sangue | Principais causas).
O fato é que, independentemente de ser causada ou não por um câncer de pulmão, a presença de tosse com escarro sanguinolento quase sempre indica alguma doença potencialmente grave, sendo necessária avaliação médica imediata.
Sangramento vaginal
O sangramento vaginal fora do período menstrual, durante a menopausa ou após relação sexual é um dos sintomas possíveis do câncer do colo do útero. Uma alteração do padrão menstrual, com aumento do volume de sangue, também é um sinal de alerta, principalmente em mulheres acima dos 45 anos.
A maioria dos casos de câncer de colo de útero é assintomática nas fases inicias, daí a importância do exame preventivo. Quando surgem os sintomas descritos acima, geralmente o tumor está em fase avançada.
Mais uma vez cabe ressaltar que há várias outras causas para sangramento vaginal, sendo a avaliação médica essencial para diferenciá-las.
Nódulo na tireoide
Um nódulo na tireoide é um achado muito comum, acometendo até 1/3 da população em geral. O nódulo geralmente é assintomático, mas pode ser palpável em alguns casos. Ter um nódulo na tireoide não costuma indicar uma doença mais grave, entretanto, cerca de 5% dos casos são, na verdade, um câncer de tiroide.
O aparecimento de um nódulo durante a vida adulta é algo relativamente comum e na maioria das vezes não indica a presença de um câncer. Já em crianças, a presença de um nódulo não é tão comum e deve ser encarada com mais cuidado. Um nódulo de tireoide em um criança tem o dobro de chances de ser um câncer quando comparado a um nódulo em um adulto.
Portanto, qualquer nódulo na tireoide deve ser avaliado por um médico endocrinologista para que a hipótese de câncer possa ser descartada. O principal fator de risco para o câncer de tireoide é a exposição à radiação durante infância/juventude.
Para saber mais sobre nódulos da tireoide, leia: Nódulo de tireoide.
Perda de peso não intencional
Há vários mecanismos responsáveis pela perda de peso em pacientes com câncer. Anorexia e perda de peso estão presentes em mais de 50% dos pacientes com câncer no momento do diagnóstico. Até 35% dos pacientes com emagrecimento sem causa aparente têm câncer.
O câncer costuma causar perda de apetite, mas o paciente pode perder peso e massa muscular sem que ainda tenha havido uma grande redução na sua ingestão de calorias. Ou seja, o paciente com câncer emagrece mesmo que ainda mantenha uma boa ingestão de alimentos. Esta perda de peso ocorre pela produção de substâncias pelo tecido tumoral que leva ao consumo de massa muscular e gordura. Nas fases mais avançadas o paciente com câncer perde o apetite e o emagrecimento fica ainda mais evidente.
Além da anorexia e da ação direta de substâncias produzidas pelo tumor, existem também outros fatores associados à perda de peso no câncer, incluindo dor, distensão abdominal, náuseas, vômitos, infecções, dificuldade para engolir, saciedade precoce, má absorção dos alimentos ou efeitos adversos da quimioterapia ou radioterapia.
Quando o paciente já apresenta perda de peso, o câncer habitualmente já causa algum outro tipo de sintoma, o que ajuda no seu diagnóstico. Nestes casos, o tumor costuma ser facilmente identificável após uma simples investigação pelos médicos.
Disfagia (dificuldade para engolir)
A dificuldade para engolir recebe o nome de disfagia; é um sintoma comum de câncer do esôfago.
A disfagia geralmente é progressiva. Inicialmente o paciente começa a notar que algumas comidas mais sólidas parecem ficar transitoriamente impactadas no esôfago. Com o tempo essa impactação começa a incomodar mais e o paciente involuntariamente passa a dar preferência a alimentos mais pastosos. Em fases avançadas, apenas líquidos conseguem ser ingeridos.
Além da dificuldade para engolir alimentos sólidos, o paciente também costuma apresentar episódios de engasgos e sensação de queimação no peito. A presença de refluxo gastroesofágico é um fator de risco para o câncer de esôfago.
Além do câncer, existem outras doenças que podem causar disfagia, entre elas: lesões neurológicas, refluxo gastroesofágico, acalásia, esclerodermia, entre outros.
Para saber mais detalhes sobre a disfagia, leia: Disfagia – dificuldade para engolir.
Sangue na urina
A presença de sangue na urina, chamada de hematúria, é um sinal de que há alguma lesão do trato urinário, acometendo geralmente rins, ureteres, bexiga ou uretra.
Muitas vezes a hematúria é microscópica, só sendo identificada através de exames de urina. Quando a presença de sangue na urina é visível, damos o nome de hematúria macroscópica. Os cânceres de bexiga ou de rim costumam causar hematúria visível, deixando a urina avermelhada.
Várias doenças podem causar sangue na urina, como infecção urinária, cálculo renal, glomerulonefrite, etc. O câncer não costuma ser a primeira hipótese diagnóstica na maioria dos casos, porém, deve ser pensado quando o paciente apresentar também as seguintes características:
- Idade maior que 40 anos.
- Fumante.
- Grande quantidade de sangue na urina.
- História de uso prolongado de analgésicos.
- História de radiação na região pélvica
- História de contato prolongado com tinta
Falamos com mais detalhes da hematúria neste artigo: Hematúria – Urina com sangue.
Aumento dos linfonodos
O aumento dos linfonodos (conhecidos também como gânglios ou ínguas), seja de forma generalizada ou apenas em uma região do corpo, pode também ser um sinal de câncer. A principal causa do aparecimento de gânglios palpáveis são as infecções. Algumas delas causam aumento generalizado dos gânglios, como tuberculose, sífilis, mononucleose ou HIV. Outras infecções causam aumento localizado, como gânglios no pescoço nos casos de amigdalite.
Quando não há uma causa infecciosa óbvia para o aumento dos linfonodos, a origem pode ser um câncer. A neoplasia que mais causa linfonodos difusamente é o linfoma. Alguns cânceres também causam linfonodos localizados, como gânglios na axila no caso de câncer de mama, ou gânglios no pescoço no caso de tumores da face e cabeça.
Linfonodos na região do cotovelo, axila ou clavícula são os mais associados à presença de um câncer e devem ser avaliados por um médico o mais depressa possível. Gânglios na região da virilha costumam ser benignos, geralmente causados por doenças sexualmente transmissíveis ou feridas de depilação. Porém, cânceres de útero, ovário, ânus ou pênis podem provocar o aumento de linfonodos nesta região.
Os linfonodos de origem maligna costumam ser duros e bem aderidos aos planos profundos da pele. Linfonodos de origem infecciosa tem consistência mais elástica e são dolorosos. A febre pode estar presente em ambos os casos, mas costuma ser alta nas infecções e baixa nas neoplasias malignas.
Rouquidão
O surgimento de rouquidão é um sinal de lesão das cordas vocais. Ele é comum em pessoas que abusam da voz ou após quadros de laringite. Cantores podem desenvolver nódulos nas cordas vocais que provocam alteração da voz. Pacientes com refluxo gastroesofágico grave também têm riscos de desenvolver rouquidão.
O câncer na região da laringe pode acometer as cordas e provocar rouquidão. Cigarro e álcool são os dois principais fatores de risco para este câncer. A presença de dor de gargante, rouquidão, dificuldade para engolir e emagrecimento fala fortemente a favor de um tumor na região do pescoço, principalmente em fumantes de longa data.
Anemia
A anemia é um sinal muito comum de câncer e pode ocorrer em qualquer tipo de tumor. As células tumorais costumam produzir substâncias que agem na medula óssea, inibindo a produção de hemácias (glóbulos vermelhos), o que leva à anemia.
A anemia também pode ser provocada por perda de sangue, como nos casos dos cânceres do intestino e do estômago. Estes tumores costumam causar sangramentos que podem provocar anemia por carência de ferro. Nem sempre há sangue visível nas fezes. A perda de sangue pode ser pequena, porém constante, levando o paciente a ficar anêmico sem que a origem seja óbvia.
Para saber mais sobre as causas de anemia, leia: Anemia | Sintomas e causas.
Alterações nos testículos
O câncer de testículo é pouco comum na população geral, porém é o tumor maligno mais comum em homens entre 15 e 35 anos, um grupo que não costuma apresentar neoplasias malignas.
O achado mais comum no câncer de testículo é a presença de um massa na bolsa escrotal, que pode ser dolorosa ou não, associado à sensação de peso e a um testículo mais endurecido.
A dor no testículo não é dos sintomas mais comuns no câncer, sendo a presença de uma massa palpável um sinal que merece mais preocupação.
Para ler sobre as causas de dor nos testículos: Dor nos testículos | Principais causas.
Assim como as mulheres fazem no autoexame das mamas, todo homem deve fazer uma avaliação periódica da sua bolsa escrotal, procurando palpar massas ou alterações na consistência dos seus testículos. O câncer de testículo tem atualmente uma elevada taxa de cura, acima de 90% nas fases iniciais. Portanto, qualquer alteração deve ser imediatamente avaliada por um médico urologista.
Referências
- Signs and Symptoms of Cancer – American Cancer Society.
- Symptoms of Cancer – National Cancer Institute – NIH.
- Signs and symptoms of cancer – Cancer Research UK.
- What are cancer’s symptoms? 10 signs you shouldn’t ignore – The University of Texas MD Anderson Cancer Center.
- Niederhuber JE, et al., eds. Abeloff’s Clinical Oncology. 6th ed. Elsevier; 2020.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.