O que é o câncer de pulmão?
O câncer de pulmão é um dos tipos mais comuns de câncer que existe, sendo o que mais mata homens e mulheres no mundo todo.
Os pulmões são órgãos localizados no nosso tórax, responsáveis pela respiração. Quando respiramos, o ar entra pelo nosso nariz ou boca e chega aos pulmões através da traqueia. Da traqueia saem dois tubos chamados de brônquios principais, que vão se ramificando em brônquios cada vez menores, até chegar a tubos bem pequenos chamados bronquíolos. No fim de cada bronquíolo está o alvéolo, estrutura onde ocorre efetivamente a respiração, com troca de oxigênio que inspiramos pelo gás carbônico que expiramos.

O câncer de pulmão se origina habitualmente a partir de mutações nas células que revestem os brônquios, os bronquíolos ou os alvéolos.
Se você quiser entender como se desenvolve um câncer, leia: Como surge o câncer?
Tipos de câncer de pulmão
Quando o câncer se origina nas células pulmonares, é chamado de câncer de pulmão primário. Tumores de outros órgãos também podem se espalhar e acometer os pulmões, mas neste caso não são chamados de câncer de pulmão, mas sim de metástases pulmonares.
O câncer de pulmão é classificado conforme o tipo de célula a partir do qual ele surgiu. Essa classificação é importante porque os dois principais tipos crescem de forma diferente e, consequentemente, possuem prognóstico e formas de tratamento diferentes.
Câncer de pulmão de pequenas células
O câncer de pulmão de pequenas células é o tipo menos comum, representa cerca de 10 a 15% dos diagnósticos. Este tipo é mais agressivo, cresce e se espalha mais rapidamente que o câncer de pulmão não-pequenas células, sendo frequente a existência de doença já disseminada no momento do diagnóstico.
Câncer de pulmão não-pequenas células
O câncer de pulmão não-pequenas células é o tipo mais comum, responsável por cerca de 85% de todos os casos. Estes podem ser subdivididos em carcinoma de células escamosas, adenocarcinoma e carcinoma de grandes células. Estes três tipos ficam agrupados porque apesar de serem diferentes entre si, o prognóstico e tratamento deles é semelhante.
Fatores de risco
Nesta seção resumiremos os principais fatores de risco do câncer de pulmão. Para informações mais detalhadas, acesse o artigo: Fatores de risco do câncer de pulmão.
Tabagismo
Sem dúvida, o principal fator de risco para o desenvolvimento de câncer de pulmão é o tabagismo. Estima-se que cerca de 90% dos casos de câncer de pulmão estejam relacionados ao tabagismo. O risco de desenvolver câncer de pulmão aumenta de 10 a 30 vezes em fumantes, quando comparados a não fumantes.
Fatores como a idade com a qual o hábito foi iniciado, o número de cigarros consumidos por dia e o tempo de tabagismo são determinantes no risco de desenvolver câncer. O uso de cachimbo e charuto também aumenta o risco.
Por outro lado, a interrupção do tabagismo tem um efeito importante na redução do risco. Depois de 5 anos sem fumar, já começa a haver uma redução perceptível no risco, que continua a baixar à medida que o tempo avança e a abstinência se mantém.
Estudos mostram que pessoas que estão há 15 anos ou mais sem fumar apresentam risco de câncer de pulmão cerca de 80 a 90% menor do que os que mantiveram o hábito de fumar.
Infelizmente, mesmo com a interrupção definitiva do tabagismo, quem fumou durante algum período da vida tem sempre um risco maior de desenvolver câncer de pulmão do que as pessoas que nunca fumaram.
Fumo passivo
A fumaça do cigarro, charuto e cachimbo de outras pessoas também aumenta o risco de câncer de pulmão em quem nunca fumou. O risco será maior quanto mais tempo a pessoa for exposta à fumaça tóxica do cigarro.
Exposição à radiação
O radônio é um gás derivado do urânio. Presente em lençóis freáticos, nas rochas e no solo em quantidades muito pequenas, o gás fica no ar que respiramos e os níveis podem aumentar de forma significativa em locais fechados, como edifícios, casas e minas de urânio.
A realização de radioterapia no tórax também aumenta as chances de câncer de pulmão.
Exposição ocupacional a substâncias tóxicas
Pessoas expostas ao amianto, arsênio, cromo, cádmio, berílio, sílica, níquel, fuligem ou alcatrão no local de trabalho têm maior risco de desenvolver câncer de pulmão, especialmente se houver tabagismo concomitante.
Poluição do ar
Os gases provenientes da exaustão de motores a diesel e outros poluentes presentes no ar estão ligados ao aumento do índice de câncer de pulmão.
História familiar
Pessoas que possuem um parente de primeiro grau com câncer de pulmão têm maior risco de desenvolver a doença também.
Doenças pulmonares
Fibrose pulmonar, enfisema e bronquite crônica estão ligadas ao aumento do risco de desenvolver câncer de pulmão.
Idade
A incidência de câncer de pulmão vai aumentando à medida que a idade avança, sendo mais frequente em pessoas acima dos 40 anos de idade.
Sintomas do câncer de pulmão
O câncer de pulmão, especialmente em suas fases iniciais, pode ser assintomático, ou seja, não causar sintomas perceptíveis. Por isso, muitas vezes ele só é diagnosticado em estágios mais avançados, quando já houve crescimento significativo do tumor ou disseminação para outras partes do corpo.
Os sintomas variam consoante a localização e extensão do tumor, podendo envolver diretamente o pulmão, estruturas vizinhas ou ser decorrente de efeitos sistêmicos da doença.
Sintomas mais comuns:
- Tosse persistente ou agravamento de uma tosse crônica preexistente: é um dos sintomas mais frequentes e ocorre devido à irritação ou obstrução das vias aéreas pelo tumor. Pacientes com histórico de tabagismo e tosse crônica podem notar uma mudança no padrão habitual da tosse.
- Expectoração com sangue (hemoptise): Tosse com expectoração sanguinolenta pode ocorrer na forma de escarro com raias de sangue ou sangue vivo, resultado do comprometimento de vasos sanguíneos nas vias respiratórias pelo tumor.
- Falta de ar (dispneia): a falta de ar decorre da obstrução das vias aéreas, presença de líquido na pleura (derrame pleural) ou diminuição da função pulmonar pelo crescimento do tumor.
- Chiado no peito (sibilos): pode resultar da obstrução parcial das vias respiratórias, de forma semelhante à asma, mas causado por compressão ou invasão tumoral da árvore brônquica.
- Dor torácica: dor torácica geralmente em pontada, localizada, persistente, e não relacionada com esforço físico. Surge quando o tumor invade a pleura (membrana que reveste os pulmões) ou estruturas da parede torácica.
Sintomas menos frequentes, mas clinicamente relevantes:
- Rouquidão: ocorre quando o tumor afeta o nervo laríngeo recorrente, responsável pela movimentação das cordas vocais. É mais comum em tumores localizados no ápice do pulmão ou na região do mediastino.
- Perda de peso não intencional e falta de apetite: sinais de alerta para doença neoplásica avançada, decorrentes de um estado hipermetabólico induzido pela presença do tumor e por substâncias liberadas por células cancerosas.
- Inchaço no rosto e no pescoço (síndrome da veia cava superior): resultado da compressão da veia cava superior por massas tumorais mediastinais, levando à congestão venosa e edema facial.
- Dificuldade para engolir (disfagia): disfagia pode ocorrer quando o tumor invade ou comprime o esôfago.
- Dor no ombro, pescoço ou braço: especialmente em tumores do ápice pulmonar (tumores de Pancoast), que podem invadir os nervos do plexo braquial ou estruturas ósseas adjacentes, causando dor irradiada e, eventualmente, fraqueza muscular.
Diagnóstico
Após a realização de consulta com história clínica e exame físico, se houver suspeita de câncer de pulmão, o médico prosseguirá com a investigação diagnóstica, que pode incluir:
Exames de imagem
A realização de exames de imagem, como radiografia de tórax, tomografia computadorizada de tórax, servem para localizar o tumor, mas não dão informações a respeito do tipo de células que compõem o câncer, sendo sempre necessário realizar uma biópsia da lesão.

Exames endoscópicos
Exames endoscópicos são exames invasivos que utilizam tubos com uma câmera na extremidade e servem para ajudar a localizar o tumor e guiar a realização da biópsia, que deve ser feita com a maior precisão possível para que o material recolhido seja significativo e suficiente para concluir o diagnóstico.
Broncofibroscopia: o broncoscópio é inserido através da boca ou do nariz e permite avaliar a laringe, as cordas vocais, a traqueia e os brônquios. Se a lesão estiver localizada numa parte central dos pulmões ou vier de um dos brônquios maiores, é possível realizar a biópsia através da broncoscopia.
Mediastinoscopia: exame que avalia o mediastino, que pode ser grosseiramente definido pela região entre os pulmões, onde estão os linfonodos (gânglios), coração, esôfago e grandes vasos como aorta e veia cava.
Neste caso, o tubo é inserido através de uma pequena incisão na base do pescoço, acima do esterno. Além do acesso à massa tumoral, através da mediastinoscopia podem ser realizadas biópsias dos linfonodos para determinar se há metástase.
Ultrassonografia endoscópica ou ecoendoscopia: exame que combina a endoscopia digestiva com ultrassonografia. É realizada através do esôfago e pode ajudar na biópsia de linfonodos, pulmões e outras áreas.
Toracoscopia: o toracoscópio é inserido através de uma pequena incisão entre duas costelas. Serve para avaliar a cavidade pleural (espaço entre os pulmões e a parede torácica). A escolha do exame depende da localização da lesão e do tipo de informação que se pretende.
Exames citológicos
Em pacientes com tosse e expectoração espontânea, a pesquisa de células malignas na expectoração (citologia) pode ajudar no diagnóstico. Ao contrário dos exames já explicados acima, a realização da citologia é simples, rápida e não invasiva. No entanto, nem sempre o resultado é confiável ou conclusivo.
Biópsia por agulha
Outra opção, caso a lesão seja acessível, é a realização de uma biópsia por agulha fina. Este exame é realizado por meio da introdução de uma longa e fina agulha através da pele (via percutânea), sob anestesia local, habitualmente com ajuda de algum método de imagem como guia, como a tomografia computadorizada.
Estadiamento
Após a confirmação do diagnóstico de um tumor maligno, o próximo passo deve ser sempre avaliar a extensão da doença.
Para saber se o tumor está espalhado pelos pulmões e por outras partes do corpo e, consequentemente, qual é o melhor método de tratamento, bem como o potencial de cura, podem ser realizados exames adicionais. Esse processo é chamado de estadiamento.
Dependendo do tamanho e do nível de disseminação do tumor, o estadiamento do tumor é classificado em estágios. À medida que ele cresce e vai se espalhando, avança nos estágios, por isso a chance de cura é maior quanto mais restrito o câncer estiver, ou seja, quanto menor for o estágio.
O câncer de pulmão pode se espalhar através de três formas:
- Localmente, para os tecidos adjacentes do pulmão.
- Para linfonodos através dos vasos linfáticos.
- Para outros órgãos através do sangue.
Exames utilizados para fazer o estadiamento costumam ser:
- Ressonância Magnética e Tomografia Computadorizada para avaliação da extensão do tumor nos pulmões e disseminação para outros locais do tórax, abdômen, pelve e cérebro.
- PET (tomografia por emissão de pósitrons): exame que pesquisa células tumorais espalhadas pelo corpo utilizando medicina nuclear.
- Cintigrafia óssea para avaliação de metástases ósseas.
Estadiamento do câncer de pulmão não-pequenas células
Para o câncer de pulmão não-pequenas células, o estadiamento é dividido em 4 estágios. Alguns dos estágios são ainda subdivididos, mas de modo geral a classificação é a seguinte:
- Estágio 1: o câncer está restrito ao pulmão e não se espalhou.
- Estágio 2: o câncer está restrito ao pulmão, mas pode já haver mais do que uma lesão pulmonar, acometimento de gânglios linfáticos próximos ou extensão à parede torácica e à membrana que recobre o coração (pericárdio), mas ainda não passou para o outro pulmão.
- Estágio 3: o câncer está espalhado pelo tórax, incluindo os dois pulmões, a parede torácica, os corpos vertebrais ou outros órgãos, como diafragma, esôfago, coração e/ou vasos sanguíneos.
- Estágio 4: o câncer está disseminado pelos órgãos fora do tórax, tais como ossos, fígado e cérebro.
Estadiamento do câncer de pulmão pequenas células
Para o câncer de pulmão de pequenas células, o estadiamento é mais simples, só existem dois estágios:
- Doença limitada: o câncer está restrito a um lado do pulmão, pode até ter se espalhado localmente, mas somente próximo à sua área de origem.
- Doença extensa: o câncer se espalhou para o outro pulmão, outras áreas do tórax ou locais distantes, fora do tórax.
Sobrevida e chance de cura
Após o estadiamento do câncer de pulmão, podemos estimar qual será o prognóstico do paciente baseado nos estudos estatísticos de outros casos. Não falamos habitualmente em cura, mas sim em sobrevida.
A sobrevida dos pacientes com câncer de pulmão é descrita de forma percentual, num intervalo de 5 anos. Isso significa que, se o estadiamento indica uma sobrevida de 50% em 5 anos, metade dos pacientes estarão vivos após 5 anos do diagnóstico.
A sobrevida varia consoante o tipo de células que compõem o tumor (pequenas células ou não-pequenas células) e no quanto a doença já se espalhou. Em geral, classificamos a gravidade do câncer em 3 estágios para definirmos a sobrevida em 5 anos:
- Doença Localizada: não há nenhum sinal de câncer fora do pulmão.
- Doença Regional: o câncer se espalhou para fora do pulmão, mas para estruturas e gânglios linfáticos adjacentes.
- Doença Distante: o câncer já se espalhou para partes distantes como cérebro, fígado, ossos e o outro pulmão.
Sobrevida em 5 anos para o câncer de pulmão não-pequenas células:
- Doença localizada 63%.
- Doença regional 35%.
- Doença distante 7%.
Sobrevida em 5 anos para câncer de pulmão de pequenas células:
- Doença localizada 27%.
- Doença regional 16%.
- Doença distante 3%.
Na prática, como o diagnóstico do câncer de pulmão costuma ser feito tardiamente, mais da metade dos pacientes falece dentro dos primeiros 12 meses de diagnóstico.
Tratamento
O tratamento do câncer de pulmão depende do tamanho e posição do tumor, do tipo histológico (pequenas células ou não-pequenas células), o grau de extensão da doença (disseminação) e o estado de saúde global do paciente.
As opções terapêuticas são:
Cirurgia
A remoção do tumor pode ser feita através das seguintes técnicas:
- Ressecção em cunha: retira-se somente o tumor com uma margem de segurança de tecido pulmonar à volta.
- Ressecção segmentar: retira-se o tumor e um segmento do pulmão.
- Lobectomia: retira-se o lobo inteiro pulmonar onde o tumor se situa.
- Pneumectomia: retirada do pulmão inteiro.

Pacientes com câncer de pulmão não-pequenas células nos estágios 1, 2 e 3 inicial e nos com câncer de pulmão de pequenas células com doença limitada são normalmente elegíveis para cirurgia.
Quimioterapia
A quimioterapia pode ser utilizada antes da cirurgia, para reduzir o tamanho do tumor, ou após a operação, para aumentar as chances de remissão. Também pode ser prescrita de forma paliativa (sem intenção curativa) para controle de sintomas. Frequentemente é administrada em combinação com radioterapia.
Radioterapia
Da mesma forma que a quimioterapia, existem muitas indicações para uso de radioterapia, em combinação com cirurgia ou outras terapêuticas.
A radioterapia pode ser interna, por meio de dispositivos que chegam bem próximos ao tumor, ou então externa, através de uma máquina que envia radiação para uma área específica onde se situa o tumor.
Terapia direcionada
A terapia direcionada utiliza fármacos ou outras substâncias que identificam e atacam as células malignas. Por isso, costumam causar menos efeitos colaterais que a quimioterapia e radioterapia, uma vez que não atingem as células saudáveis.
Imunoterapia
Utiliza o próprio sistema imunológico do paciente para atacar o tumor.
Outras terapêuticas envolvem uso de laser, criocirurgia, eletrocauterização e terapia fotodinâmica.
Prevenção
Existem atualmente muitas linhas de investigação com potencial agentes capazes de reduzir o risco de desenvolver câncer de pulmão, como aspirina, multivitamínicos, selênio e betacaroteno, mas nenhum deles se mostrou eficaz.
Na realidade, o uso de betacaroteno parece aumentar o risco de desenvolver câncer de pulmão.
Até o momento, a medida mais eficaz para redução do risco de desenvolvimento de câncer de pulmão é a interrupção do tabagismo e evitar o fumo passivo.
Referências
- Lung Cancer Fact Sheet – American Lung Association.
- Lung Cancer Survival Rates – American cancer society.
- Lung cancer: diagnosis and management – NICE guideline.
- Non-Small Cell Lung Cancer Treatment – NIH – National Cancer Institute.
- Cigarette smoking and other possible risk factors for lung cancer – UpToDate.
- Overview of the initial evaluation, diagnosis, and staging of patients with suspected lung cancer – UpToDate.
- Overview of the initial treatment and prognosis of lung cancer – UpToDate.
Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pela Universidade do Porto. Nefrologista pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ) e pelo Colégio de Nefrologia de Portugal.