Incidência do câncer de pulmão
O câncer de pulmão é o câncer mais comum e o que causa mais mortes em todo o mundo. Para se ter uma ideia da agressividade deste tumor, a mortalidade do câncer de pulmão é maior que as dos cânceres de mama, próstata e intestino juntos.
O câncer de pulmão é o segundo câncer mais comum nos homens, perdendo apenas para o câncer de próstata, e o segundo câncer mais comum nas mulheres, atrás apenas do câncer de mama. Entretanto, como o câncer de pulmão acomete tanto homens quanto mulheres, ao contrário dos cânceres de próstata e mama, que só surgem em um sexo, ele acaba sendo, no geral, o câncer mais comum de todos.
O gráfico abaixo mostra a evolução da mortalidade por câncer de pulmão nos EUA ao longo das últimas décadas. Nas próximas linhas explicarei o porquê deste salto na mortalidade a partir da década de 1940. Os dados são americanos, mas podem ser extrapolados para a maioria dos países.
A incidência do câncer de pulmão está diretamente relacionada ao consumo de cigarro pela população. Até a década de 20 do século passado, quando o cigarro ainda não era produzido e comercializado em larga escala, o câncer de pulmão era uma doença rara, correspondendo a menos de 1% de todos os cânceres.
No início do século XX, apenas 0,5% da população americana fumava mais de 100 cigarros (5 maços) por ano. Na década de 1960, auge do tabagismo, 50% da população masculina fumava pelo menos 100 cigarros (5 maços) por ano. Sabendo estas informações, volte ao gráfico e veja as curvas de mortalidade.
Desde a década de 1980, medidas anti-tabágicas cada vez mais restritivas têm sido implementadas em todo o mundo, conseguindo reduzir o número de fumantes. Graças a elas, pela primeira vez em décadas, notamos uma redução da mortalidade do câncer de pulmão.
Só como curiosidade, a campanha de marketing da indústria tabagista nas décadas de 1940 e 1950 era tão forte que chegaram ao absurdo de sugerir que médicos e dentistas recomendavam o uso de determinadas marcas de cigarro. As principais estrelas de Hollywood e os mais famosos atletas esportivos recebiam milhares de dólares para promover marcas de cigarro. Naquela época o normal era ser fumante. Não fumantes eram uma minoria em vários círculos sociais. O resultado desta eficiente campanha de marketing foi uma vertiginosa subida na curva de mortalidade por câncer de pulmão nas décadas que se sucederam.
Fatores de risco
Como ainda não existem exames que detectem o câncer de pulmão suficientemente cedo para garantir a cura com o tratamento, a melhor estratégia continua sendo a prevenção. Para se prevenir contra qualquer doença, é essencial conhecer os seus fatores de risco. Portanto, é dos principais fatores de risco do câncer de pulmão que falaremos a seguir.
Cigarro
Como o início deste texto já deixou claro, o cigarro é o principal fator de risco para o câncer de pulmão. 90% dos pacientes que têm câncer de pulmão são ou foram fumantes.
Inacreditavelmente ainda hoje é possível encontrar pessoas que se deixam enganar por falsos relatos sobre uma suposta ausência de provas da relação entre cigarro e câncer de pulmão. Desde a década de 1960 que já há evidências científicas de que o cigarro causa câncer de pulmão. Atualmente já sabemos até quais são as alterações genéticas provocadas pelas substâncias tóxicas do cigarro responsáveis pelo surgimento das células cancerígenas.
O que sabemos hoje sobre a relação do cigarro com o câncer de pulmão:
- Quem fuma pelo menos um maço de cigarro por dia tem até 25 vezes mais chances de desenvolver câncer de pulmão quando comparados com não fumantes.
- Já foram identificados mais de 4000 substâncias tóxicas no cigarro e pelo menos 50 que comprovadamente causam câncer.
- Após 15 anos de abstinência o risco de câncer do pulmão cai em 90%. Todavia, ele nunca será tão baixo quanto o daqueles que nunca fumaram.
- Não existe uma quantidade mínima de cigarros por dia que seja segura, nem tipos de cigarro que não causem câncer. Sabe-se que se você já fumou mais de 100 cigarros na sua vida, você está no grupo de alto risco para câncer de pulmão. Não importa se você fuma 1 cigarro por dia ou 1 por semana.
- Quanto maior o consumo diário, maior o risco; quanto maior o tempo de tabagismo, maior o risco; quanto mais cedo se inicia o hábito de fumar, maior o risco.
- Fumantes passivos apresentam 25% mais risco de desenvolverem câncer de pulmão do que pessoas não expostas cronicamente à fumaça do cigarro.
Para saber mais sobre os malefícios do cigarro, leia: Malefícios do cigarro | Tratamento do tabagismo
Outras formas de fumo: charuto, cachimbo e maconha
Existe um mito que apenas o fumo de cigarro é um fator de risco para o câncer de pulmão. Esta suposta ausência de danos é ainda mais forte quando falamos da maconha, uma droga cuja discussão é pautada muito mais pela emoção do que por dados científicos e estatísticos.
O uso crônico de maconha causa alterações nas células da árvore respiratória idênticas àquelas vistas nas lesões pré-malignas de fumantes de cigarro. Além disso, os indivíduos que fumam maconha e cigarro apresentam um risco de desenvolverem câncer de pulmão ainda maior do que os fumantes apenas de cigarro. Fizemos uma grande revisão sobre os efeitos da maconha no organismo que pode ser encontrada neste texto: Maconha | Efeitos no organismo.
O fumo de cachimbos ou charutos também aumenta o risco de câncer de pulmão. Entretanto, o risco não parece ser tão elevado quanto o do cigarro. Enquanto o fumo por vários anos de cigarro aumenta em até 25 vezes o risco de câncer de pulmão, o fumo de charutos ou cachimbos parece aumentar em torno de 5 vezes, o que não deixa de ser um aumento considerável no risco.
Assim como acontece com o cigarro, o risco de câncer com o fumo da maconha, charutos ou cachimbos também cresce proporcionalmente à quantidade fumada e ao tempo de uso.
Exposição ocupacional
Algumas pessoas trabalham em áreas ou profissões onde há exposição frequente a substâncias nocivas à saúde. A exposição a algumas substâncias químicas estão relacionadas a um maior risco de câncer de pulmão; entre as mais estudadas está o asbesto (amianto).
O asbesto (amianto) é usado em várias áreas da indústria, como na mineração, construção civil, construção de navios, construção de ferroviária, indústria química, indústria automobilística, encanamentos, revestimentos à prova de fogo, isolamento acústico, fabricação de telhas de fibrocimento e mais de 2500 outros produtos. Proibido em muitos países, infelizmente o amianto ainda é legal em vários estados brasileiros devido a uma forte lobby no Congresso Nacional.
Se você quiser saber mais sobre o amianto e suas doenças, leia: Mesotelioma e asbestose | Doenças do amianto (asbesto).
Outras substâncias de exposição ocupacional relacionadas a uma maior risco de câncer de pulmão incluem o arsênio, cromo, formaldeído, níquel, radiação ionizante, poeira metálica e fumaça de madeira queimada.
Trabalhadores expostos frequentemente a estes químicos, se forem fumantes, aumentam ainda mais o risco de desenvolverem câncer. Só como exemplo, o fumo mais a exposição ao amianto aumentam em 60 vezes o risco de câncer do pulmão.
Radônio
O radônio é um gás derivado do urânio que está presente em lençóis freáticos, nas rochas e no solo em quantidades muito pequenas, mas que fica no ar que respiramos, cujos níveis podem aumentar de forma significativa em locais fechados, como edifícios, casas e minas de urânio.
Poluição do ar
A poluição atmosférica provocada por gases provenientes da exaustão de motores, principalmente aqueles a diesel, e outros poluentes presentes no ar estão ligados a aumento do índice de câncer de pulmão. Locais com maior poluição do ar apresentam mais casos de câncer de pulmão.
História familiar
Há claramente uma predisposição genética para o desenvolvimento do câncer de pulmão. Esta influencia genética é um dos fatores que explicam o porquê de nem todos os fumantes inveterados desenvolverem câncer. Indivíduos com um parente de primeiro grau com câncer de pulmão apresentam maior risco de desenvolvê-lo, princialmente se também forem fumantes ou apresentarem alguma exposição ocupacional. Quanto mais parentes tiverem tido câncer ou quanto mais jovem sejam os familiares com câncer, maiores os riscos.
Exposição à radiação
A realização de radioterapia no tórax para o tratamento de outros tipos de câncer, como o de mama, também aumenta as chances de câncer de pulmão.
Doenças pulmonares
Pacientes com doenças do tecido pulmonar, como fibrose pulmonar, enfisema ou bronquite crônica (DPOC), apresentam maior risco de desenvolver câncer de pulmão.
Dieta
Vários alimentos têm sido estudados como potenciais protetores contra o desenvolvimento do câncer de pulmão. Os mais estudados incluem antioxidantes, vegetais crucíferos (couve, repolho, couve-flor, brócolis e couve de Bruxelas) e vitamina B. Embora pareça haver uma ligação entre a ingestão desses alimentos e a incidência de câncer, nenhum trabalho até hoje conseguiu demonstrar benefícios reais com nenhum tipo de dieta.
Referências
- Cigarette smoking and other possible risk factors for lung cancer – UpToDate.
- Lung Cancer Prevention (PDQ®) – National Institutes of Health.
- Can Lung Cancer Be Prevented? – American Cancer Society.
- Lung Cancer Prevention – The Johns Hopkins University.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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