Tramadol: para que serve, como tomar e efeitos adversos

Tramadol é um analgésico opioide usado no tratamento de dores moderadas a intensas. Ele age no sistema nervoso central para aliviar a dor, sendo indicado para diversas condições, como dores pós-operatórias. O uso deve ser feito sob orientação médica devido ao risco de dependência.
Dr. Pedro Pinheiro

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Tramadol

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O que é o cloridrato de tramadol?

O cloridrato de tramadol, também conhecido pelo nome comercial Tramal, é um analgésico opioide indicado habitualmente no tratamento da dor de moderada a grande intensidade, como nos casos de dor oncológica, pós-operatório e traumas.

Por ser um fármaco derivado do ópio, semelhante à codeína e à morfina, o tramadol é classificado como um narcótico, sendo necessárias receitas médicas especiais para adquiri-lo.

Quando vendido em unidades posológicas de até 100 mg (como, por exemplo, caixas com comprimidos de 50 ou 100 mg) é necessária a receita branca de controle especial, em duas vias.

Já quando a unidade posológica é maior que 100 mg, o tramadol é classificado como “substância entorpecente de uso permitido somente em concentrações especiais”. Isso significa que o medicamento só pode ser adquirido mediante apresentação da receita do tipo A.

Este artigo não aspira ser uma bula completa do tramadol. Nosso objetivo é ser menos técnico que uma bula comum e mais explicativo, focando nas informações que são mais relevantes para os pacientes e seus familiares.

Mecanismo de ação

O tramadol age de forma semelhante às endorfinas, que são neurotransmissores naturais relacionados à dor e à sensação de bem-estar. As endorfinas agem ligando-se aos receptores μ opioides do cérebro, diminuindo as mensagens de dor que chegam ao sistema nervoso central.

Assim como os outros opioides, o tramadol também exerce o seu efeito analgésico através da ligação desses receptores μ opioides, agindo com se fossem endorfinas e bloqueando a transmissão dos impulsos elétricos da dor pelo sistema nervoso. Quando os receptores μ opioides estão ativados, o cérebro tem menor capacidade de reconhecer os sinais de dor enviados pelo corpo.

O tramadol é um dos opioides mais fracos, pois a sua afinidade pelos receptores opioides é cerca de 20 vezes menor que a da morfina, por exemplo.

O tramadol também apresenta uma ação semelhante (porém mais fraca) a de alguns medicamentos antidepressivos, impedindo a recaptação de noradrenalina e serotonina nos neurônios, que também são neurotransmissores envolvidos nas vias da dor.

O início de ação do tramadol é relativamente rápido, havendo alívio da dor após 30 a 60 minutos. O efeito analgésico pode durar de 4 a 8 horas, dependendo da causa e da intensidade da dor. O pico de ação costuma ser com 2 a 3 horas.

Explicamos os diferentes tipos de dor e os analgésicos mais indicado para cada caso no artigo: Melhores remédios para cada tipo de dor.

Indicações

O tramadol está indicado para as dores moderadas a intensas de caráter agudo, subagudo ou crônico, principalmente quando os analgésicos e os anti-inflamatórios comuns não apresentam resposta satisfatória. Em geral, não se indica o início de opioides até que a dose máxima dos analgésicos comuns tenha sido alcançada sem sucesso no controle da dor.

Alguns exemplos de dor que podem ser tratadas com tramadol são:

  • Pós-operatório.
  • Infarto agudo do miocárdio.
  • Traumas.
  • Dor de origem oncológica.
  • Isquemia de membro.
  • Artrites e artrose.

Liberação prolongada x liberação imediata

O tramadol pode ser encontrado nas formas de liberação imediata ou prolongada. As preparações de liberação imediata são as melhores para a maioria dos casos, pois são mais fáceis de serem suspensas, causam menos dependência e têm menor risco de sobredosagem.

Preparações de ação prolongada não são recomendadas para o tratamento da dor aguda em pacientes sem tratamento prévio com opioides. Essa forma deve ser reservada para pacientes que receberam opioides de liberação imediata diariamente por mais de uma semana, mas que continuam a sentir dor intensa e contínua.

Nomes comerciais

O cloridrato de tramadol pode ser encontrado sob a sua forma genérica ou através dos diversos nomes comerciais, incluindo:

  • Anangor.
  • Dorless.
  • Gelotralib (comercializado somente em Portugal).
  • Keltix.
  • Megadol (medicamento de referência).
  • Narcan.
  • Novotram
  • Rapitram.
  • Sensitram.
  • Sinedol.
  • Sylador (medicamento de referência).
  • Timasen SR
  • Tramaden.
  • Tramal (medicamento de referência).
  • Tramadon.
  • Tramaliv.
  • Travex (comercializado somente em Portugal).
  • Tridural (comercializado somente em Portugal).
  • Ultracet (medicamento de referência).
  • Zamadol (medicamento de referência).

Cloridrato de Tramadol também é facilmente encontrado em associação com paracetamol*. As marcas mais comuns são:

  • Daisan.
  • Paratram.
  • Revange.
  • Tilestal.
  • Zaldiar (comercializado somente em Portugal).

* A associação com paracetamol potencializa o efeito analgésico.

Composição

Cápsulas:

Cada cápsula de tramadol contém 50 mg ou 100 mg de cloridrato de tramadol.
Excipientes: celulose microcristalina, amidoglicolato de sódio, estearato de magnésio e sílica coloidal anidra.

Em Portugal existem também comprimidos nas doses de 150, 200, 300 e 400 mg.

As associações de tramadol com paracetamol costumam ser comercializadas nas doses: 37,5 mg + 325 mg ou 75 mg + 650 mg.

Gotas:

Cada mL (1 mL = 40 gotas) de Tramadol solução oral contém 100 mg de cloridrato de tramadol.
Excipientes: glicerol, propilenoglicol, sacarina sódica, ciclamato de sódio, polissorbato 80, sorbato de potássio, essência de menta e água

Posologia – como tomar?

As doses de tramadol devem ser tituladas até se atingir o efeito analgésico apropriado. Deve-se sempre usar a menor dose efetiva pelo menor período de tempo possível. A associação com analgésicos comuns, como paracetamol e dipirona, tem ação sinérgica e ajuda a reduzir as doses dos opioides.

O tramadol pode ser tomado a qualquer momento do dia. A alimentação não interfere com o efeito do fármaco.

Dor aguda (por exemplo, pós-operatório ou traumas)

Nos pacientes com quadros de dor aguda suficientemente severa para necessitar de opioides, o tratamento deve ser feito com comprimidos de liberação imediata e deve se limitar a 3 a 7 dias.

  • Tramadol liberação imediata (via oral): 25 a 50 mg a cada 6 horas, conforme necessário. Em muitos casos, a dose de 8/8 horas costuma ser suficiente.

Se não houver controle adequado da dor, a dose pode ser aumentada conforme necessidade e tolerância para até 50 mg a cada 4 horas ou 100 mg a cada 6 horas (dose máxima diária: 400 mg).

Dor crônica (mais de 3 meses de duração)

Os opioides, incluindo o tramadol, não são os fármacos mais indicados para o tratamento da dor crônica devido ao risco de toxicidade e à falta de evidências quanto aos benefícios a longo prazo. Além de o paciente ter o risco de criar dependência ao medicamento (ler mais abaixo sobre a síndrome de abstinência), também existe o risco de tolerância, sendo necessárias cada vez doses mais elevadas para controlar a dor. Portanto, o tratamento não farmacológico e com analgésicos não opioides deve ser sempre a primeira opção nos casos de dor crônica.

O início do tratamento deve ser sempre feito com as preparações de liberação imediata. Se não houver controle adequado da dor após uma semana, pode ser feita a troca para a formulação de liberação prolongada.

  • Tramadol liberação imediata (via oral): 25 a 50 mg a cada 6 horas, conforme necessário. Inicialmente, deve-se evitar doses maiores que 300 mg por dia.
  • Tramadol liberação prolongada (via oral): 100 mg uma vez ao dia; aumentar 100 mg/dia a cada 5 dias, conforme necessário (dose máxima: 300 mg/dia).

Dosagem nos pacientes com insuficiência renal crônica

Liberação imediata:

  • Taxa de filtração glomerular ≥ 30 mL/minuto: não há ajustes de dosagem; use com cuidado.
  • Taxa de filtração glomerular <30 mL/minuto: aumentar o intervalo entre as doses para cada 12 horas (máximo: 200 mg/dia).
  • Pacientes em diálise: aumentar o intervalo entre as doses para cada 12 horas (máximo: 200 mg/dia).

Liberação prolongada:

  • Taxa de filtração glomerular ≥ 30 mL/minuto: não há ajustes de dosagem; use com cuidado.
  • Taxa de filtração glomerular <30 mL/minuto: não usar.
  • Pacientes em diálise: não usar.

Síndrome de abstinência – interrupção do tratamento após uso prolongado

Os pacientes que recorrem a opiáceos por várias semanas podem criar dependência, desenvolvendo síndrome de abstinência se for feita uma interrupção súbita do fármaco. O ideal é que seja feito um desmame do medicamento, com reduções de 25% da dose a cada poucos dias. Nos pacientes que usam tramadol há anos, a redução precisa ser ainda mais lenta, cerca de 10% da dose a cada semana.

A abstinência de opioides geralmente tem duas fases: precoce e tardia. Os sintomas da fase precoce começam logo que os níveis da droga começam a ficar mais baixos na corrente sanguínea. Já a fase tardia surge depois que o medicamento já foi suspenso.

São sinais e sintomas da fase precoce de abstinência pelo tramadol:

  • Rinite.
  • Suores.
  • Bocejos frequentes.
  • Dor muscular.
  • Insônia.
  • Ansiedade.
  • Inquietação.
  • Hipertensão arterial.
  • Respiração rápida.
  • Batimentos cardíacos acelerados (taquicardia).

São sinais e sintomas da fase tardia de abstinência pelo tramadol:

  • Calafrios e arrepios.
  • Dor de estômago e cólicas
  • Diarreia.
  • Vômitos.
  • Perda do apetite.
  • Dilatação da pupila.
  • Dificuldade em se concentrar ou pensar com clareza.
  • Irritabilidade.
  • Depressão.
  • Despersonalização.
  • Confusão mental.
  • Alucinações.
  • Ataque de pânico.
  • Desejo de voltar a tomar opiáceos.

Os sinais e sintomas de abstinência devem ser cuidadosamente monitorados. Se o paciente apresentar qualquer um dos sinais listados acima, o cronograma de redução das doses deve ser estendido.

Efeitos colaterais

Os efeitos adversos mais comuns do cloridrato de tramadol e suas respectivas taxas de ocorrência, são:

  • Tontura (11 a 33%).
  • Dor de cabeça (12 a 32%).
  • Sonolência (7 a 25%).
  • Excitação ou nervosismo (7 a 14%).
  • Constipação intestinal (9 a 46%).
  • Náusea (16 a 40%).
  • Vômitos (5 a 17%).
  • Boca seca (5 a 13%).
  • Queimação no estômago (1 a 13%).
  • Fraqueza (7 a 12%).
  • Ondas de calor (8%).
  • Diarreia (5 a 10%)

Outros efeitos menos comuns (incidência menor ou igual a 5%):

  • Dor no peito.
  • Inchaços.
  • Hipertensão arterial.
  • Perda de peso.
  • Perda do apetite.
  • Insônia.
  • Erupção cutânea.
  • Flatulência.
  • Coceira.
  • Sintomas gripais.
  • Retenção urinária.
  • Convulsões (risco elevado em pacientes com epilepsia).

Quanto maior for a dose total diária do tramadol, maior é o risco de haver efeitos adversos.

Intoxicação pelo tramadol

A intoxicação pelo tramadol costuma provocar os mesmos sintomas que se observam nas intoxicações por outros opiáceos. Os sinais e sintomas mais comuns são: pupilas pequenas, tremores, vômitos, crise convulsiva, rebaixamento do nível de consciência, hipotensão arterial, colapso cardiovascular e depressão respiratória.

O tratamento da intoxicação deve ser feito ao nível hospitalar com administração de naloxona, que é um antídoto dos opiáceos.

Interações medicamentosas

O tramadol apresenta interação com vários medicamentos. Listaremos apenas aquelas que são mais graves ou mais comuns.

Fármacos com risco muito elevado de interação – uso concomitante é contra-indicado

  • Azelastina.
  • Azul de metileno.
  • Bromperidol.
  • Carbamazepina.
  • Dapoxetina.
  • Inibidores da monoaminoxidase (MAO)* – Ex: Moclobemida, Selegilina, Fenelzina.
  • Orfenadrina.
  • Paraldeído.
  • Talidomida.

Fármacos com risco elevado de interação – uso concomitante deve ser feito com cuidado

  • Antidepressivos inibidores seletivos da recaptação da serotonina.
  • Clometiazol.
  • Erva de São João.
  • Linezolida.
  • Ondansetrona
  • Outros fármacos opioides.
  • Qualquer medicamento que cause depressão do sistema nervoso central, como calmantes, indutores do sono ou psicotrópicos.
  • Quinidina.
  • Varfarina.

Contra-indicações

A prescrição do tramadol é contra-indicada nas seguintes situações:

  • Histórico de reação alérgica grave ao tramadol ou a qualquer componente da fórmula.
  • Pacientes com intoxicação aguda por álcool, hipnóticos, narcóticos, analgésicos de ação central, opioides ou psicotrópicos.
  • Pacientes em tratamento com inibidores da MAO ou que tenham tomado qualquer medicamento desse grupo nos últimos 14 dias.
  • Crianças com menos de 12 anos.
  • História de asma grave ou durante crise aguda de asma.
  • Doença respiratória grave.
  • Disfunção hepática grave.

O tramadol não deve ser utilizado nas grávidas nem durante o aleitamento materno.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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