Pílula do dia seguinte – Como Tomar e Taxa de Eficácia
A pílula do dia seguinte é uma forma de contracepção de emergência que pode ser tomada após o fim da relação sexual.
O que é a pílula do dia seguinte?
Conforme explicamos no artigo: 20 métodos anticoncepcionais mais comuns existem dezenas de métodos anticoncepcionais disponíveis no mercado. Porém, por motivos diversos, todos os dias, milhares de mulheres têm relações sexuais sem a devida proteção de um método de controle de natalidade, passando a estar sob elevado risco de desenvolver uma gravidez. Nesses casos, felizmente, ainda há uma alternativa: a contracepção de emergência, mais conhecida como pílula do dia seguinte (PDS).
Ao contrário do que ocorre com os métodos contraceptivos clássicos, tais como os anticoncepcionais hormonais, diafragma e a camisinha, que são habitualmente utilizados antes ou durante a relação sexual, a contracepção de emergência é uma forma de contracepção que pode ser utilizada após o fim da relação não protegida. Quando tudo mais falha, a PDS é a solução.
Portanto, a pílula do dia seguinte é um método contraceptivo de emergência, em formato de comprimidos, que pode ser usado após a relação sexual, sendo capaz de inibir uma gravidez quando a mulher imagina ter tido relações sem as devidas precauções.
É importante frisar que a contracepção de emergência, como o próprio nome diz, é um método de controle de natalidade para ser usado apenas em situações de emergência. De forma alguma a pílula do dia seguinte deve ser usada habitualmente, como substituta dos métodos tradicionais de controle de natalidade, pois é menos eficaz e não há estudos sobre a sua segurança nessa forma de uso.
Quais são os métodos contraceptivos de emergência?
A contracepção de emergência, também chamada de contracepção pós-coito, é uma medida de controle de natalidade que deve ser utilizada pelas mulheres que não desejam engravidar, mas, por descuido ou fatalidade, tiveram relações sexuais sem a devida proteção.
Existem duas formas de contracepção de emergência:
- Pílulas anticoncepcionais de emergência, mais conhecidas como pílula do dia seguinte (PDS).
- Dispositivos intrauterinos, conhecidos como DIU.
O DIU é efetivo mesmo se implantado depois da relação sexual já ter ocorrido. Neste artigo, vamos enfatizar a pílula do dia seguinte. Falamos especificamente do DIU em um artigo à parte, que pode ser acessado através do seguinte link: DIU – Anticoncepcional intra-uterino.
Nomes comerciais e preço médio
Levonorgestrel 0,75 ou 1,5 mg
- Diad.
- Dopo.
- Hora H.
- Neodia.
- Norlevo (comercializado em Portugal).
- Pilem.
- Postinor.
- Pozato.
- Previdez.
Atualmente, a pílula do dia seguinte é um medicamento barato. A maior parte das marcas pode ser encontrada com preços entre 3 e 10 reais a caixa com 2 comprimidos. Pesquise antes de comprar. Não há nenhum estudo comprovando maior eficácia de uma marca em comparação com outras.
Ulipristal 30 mg
- Ellaone (comercializado em Portugal) → preço médio: 26 euros – caixa com 1 comprimido de 30 mg.
- Ulip → preço médio: 30 reais – caixa com 1 comprimido de 30 mg.
Como devo tomar a pílula do dia seguinte?
Após uma relação sexual desprotegida, a pílula do dia seguinte deve ser tomada o mais rápido possível, pois a sua eficácia reduz-se com o passar do tempo.
Apesar da já tradicional recomendação de 72 horas (3 dias), até o limite de 120 horas (5 dias) a contracepção de emergência ainda pode ser eficaz. É importante notar, entretanto, que a cada dia que passa, a eficácia contraceptiva do esquema se reduz, principalmente após as primeiras 72 horas.
Recentemente chegado ao Brasil, o acetato de ulipristal é um tipo de pílula contraceptiva de emergência cuja eficácia permanece elevada (acima de 98%) até 120 horas (5 dias). Portanto, se por algum motivo você só conseguir tomar a PDS tardiamente, o ulipristal é a melhor escolha (caso esteja disponível nas farmácias da sua cidade).
Em razão de a pílula do dia seguinte ser mais efetiva nas primeiras horas, recomenda-se a todas mulheres de vida sexual ativa que não planejam ter filhos a curto prazo ter pelos menos uma caixa do medicamento à mão para uso rápido em caso de emergência.
Nas mulheres que já usam anticoncepcional regularmente, mas precisam da pílula do dia seguinte por terem esquecido de tomá-lo corretamente, a pílula convencional pode ser reiniciada no mesmo dia. Nesse caso, porém, como é um retorno à pílula, nos primeiros 7 dias, a mulher não estará totalmente protegida, devendo neste intervalo fazer uso adicional de algum outro tipo de contracepção, como a camisinha.
Levonorgestrel
O levonorgestrel é habitualmente vendido em caixa com 2 comprimidos de 0,75 mg, que podem ser tomados juntos ou separados por 12 horas de intervalo. Já há no mercado a versão em dose única (caixa com 1 comprimido de 1,5 mg), o que facilita a toma única do medicamento.
Se você tomou o levonorgestrel como pílula do dia seguinte e teve nova relação sexual desprotegida após 24 horas, é possível tomar uma segunda dose.
Ulipristal
O ulipristal é vendido em caixa com 1 comprimido de 30 mg, e deve ser tomado em dose única.
Ao contrário do levonorgestrel, o ulipristal não pode ser usado mais de uma vez por ciclo menstrual. Portanto, se você teve nova relação sexual desprotegida, a repetição do medicamento não está indicada.
Quando usar a contracepção de emergência
A pílula contraceptiva de emergência não é método anticoncepcional de uso frequente. Geralmente, indicamos seu uso em duas situações:
1. Se você teve relação sexual vaginal sem a proteção de nenhum método anticoncepcional (camisinha, DIU, pílula, implante, diafragma, etc.).
2. Se você teve relações sexuais e usou um método anticoncepcional de forma incorreta ou se este apresentou falhas. Isto inclui as seguintes situações:
- Camisinha que estourou, foi usada de modo incorreto ou saiu do pênis durante o ato sexual.
- Mulher que normalmente toma pílulas anticoncepcionais contendo estrogênio e progesterona e se esqueceu de tomar a pílula por dois dias seguidos.
- Mulher que normalmente toma pílulas anticoncepcionais contendo apenas progesterona (chamada de minipílula) e atrasou sua ingestão em mais de três horas.
- Mulher que normalmente usa injeções de acetato de medroxiprogesterona (também chamado de Depo-Provera®) e atrasou sua injeção por mais de duas semanas.
- Mulher que normalmente usa adesivos anticoncepcionais e os retirou antes ou depois do tempo programado.
- Diafragma ou preservativo feminino que se rompeu ou saiu do lugar.
- DIU que saiu acidentalmente.
Como funciona
No Brasil, a pílula do dia seguinte mais usada é composta por levonorgestrel 0,75 mg (marcas mais comuns: Postinor-2, Pilem, Pozato, Diad, Minipil2-Post e Poslov).
O levonorgestrel é uma progesterona sintética, que atua como método contraceptivo de emergência por dois mecanismos:
- Inibição da ovulação.
- Impedimento da fertilização do óvulo pelo espermatozoide.
Dentre os dois mecanismos acima, a inibição da ovulação é o mais importante; daí a necessidade de tomar a pílula o mais rápido possível.
Basicamente, o que a pílula do dia seguinte faz é alterar o ciclo menstrual (leia: Período fértil – Quando ocorre a ovulação?). A maioria das mulheres acaba tendo a menstruação até uma semana após a data anteriormente prevista. No entanto, dependendo da fase do ciclo na qual a pílula do dia seguinte foi tomada, a menstruação pode vir até 1 semana antes do previsto.
Em geral, as características típicas da menstruação – tais como número de dias, aparência e volume de sangue – permanecem inalteradas. Se você notar diferenças relevantes, isso pode ser sinal de gravidez. O recomendado é fazer um teste para confirmar.
A pílula do dia seguinte provoca aborto?
Não, a pílula do dia seguinte não é abortiva! O aborto é proibido por lei no Brasil. Se a pílula contraceptiva de emergência fosse abortiva, ela não teria autorização para ser comercializada.
Tecnicamente, uma medicação abortiva é aquela que age após o óvulo ter sido fecundado. O aborto é a perda de um embrião que estava se desenvolvendo em um útero. Como explicado, a ação do levonorgestrel é anterior à implantação do óvulo fecundado no útero, não sendo, portanto, uma droga abortiva.
Se o levonorgestrel for tomado após o óvulo já ter sido implantado no útero, ele não terá efeito algum sobre a evolução da gravidez. Além de não provocar o aborto, não há estudos que indiquem perigo de má-formação fetal, caso o medicamento seja acidentalmente usado em mulheres já grávidas.
O ulipristal, por sua vez, pode ter efeitos nocivos para o feto e não deve ser tomado se a mulher suspeita já estar grávida.
Eficácia
Se tomado corretamente e dentro do prazo de 5 dias, o ulipristal apresenta eficácia de 98,5%.
Já o levonorgestrel, apresenta as seguintes taxas de sucesso:
- 95% quando tomado nas primeiras 24 hora após o ato sexual.
- 85% quando tomado entre 24 e 48 horas após o ato sexual.
- 58% quando tomado entre 49 e 72 horas após o ato sexual.
- 15 a 20% quando tomado entre 73 e 120 horas após o ato sexual.
- Próximo de 0% quando tomado após 120 horas.
Alguns estudos demonstraram uma redução da eficácia da pílula de levonorgestrel em mulheres com mais de 75-80 kg de peso (ou IMC maior que 30). Apesar disso, a Agência Europeia do Medicamento e o FDA consideram insuficientes as informações disponíveis atualmente para concluir que a eficácia da contracepção de emergência se reduz com aumento do peso corporal.
É importante salientar que o efeito da pílula é garantido apenas para aquela relação sexual que motivou o seu uso. Se uma mulher voltar a ter relações desprotegidas após ter tomado a pílula, não há como garantir seu efeito anticoncepcional.
A pílula do dia seguinte funciona no período fértil?
Sim, o objetivo da PDS é evitar que as mulheres engravidem. Se a PDS não funcionasse exatamente no momento em que a mulher está sob risco de engravidar, ela não teria utilidade alguma.
Quantos dias depois de tomar a pílula do dia seguinte vem a menstruação?
A descida da menstruação dentro do prazo de uma semana confirma a eficácia da pílula do dia seguinte.
Porém, dependendo do momento do ciclo menstrual em que a PDS tenha sido tomada, a menstruação pode até demorar um pouco mais para descer. Poucos dias de atraso não devem ser motivo para pânico. No entanto, se a menstruação não tiver vindo 3 semanas após o uso da pílula do dia seguinte, a paciente deve fazer um teste de gravidez, pois, nesses casos, deve-se considerar a hipótese de falha da pílula (leia: Teste de gravidez – como e quando fazer).
Posso trocar minha pílula habitual diária pela pílula do dia seguinte?
Não, não é recomendado utilizar a PDS como forma habitual de contracepção. O uso repetido da anticoncepção hormonal de emergência como método contraceptivo primário apresenta as seguintes desvantagens:
- Menor eficácia.
- Maior incidência de irregularidades menstruais.
- Maior risco de efeitos colaterais a curto e longo prazo, devido à maior ingestão de hormônios.
A pílula do dia seguinte faz mal?
Não. Mas ela precisa ser tomada de forma correta. Se você encarar a PDS como uma forma de contracepção de emergência, não costuma haver problema. Porém, conforme explicado no tópico anterior, se a PDS for utilizada de forma repetida, em substituição à pílula anticoncepcional de uso regular, efeitos colaterais relevantes podem surgir.
Efeitos colaterais
A PDS é um tratamento extremamente seguro, se tomada de forma correta. Não há relatos de efeitos colaterais graves. A maioria dos efeitos colaterais são leves e transitórios.
Entre os efeitos adversos mais comuns da pílula do dia seguinte, podemos citar:
- Náuseas e vômitos (efeito adverso mais comuns).
- Desregulação da menstruação (comum no primeiro mês após o tratamento).
- Pequenos sangramentos vaginais fora do período menstrual (comum no primeiro mês após o tratamento).
- Tontura.
- Fadiga.
- Dor de cabeça.
- Sensibilidade nos seios.
- Dor abdominal.
Se houver quadro de vômitos nas primeiras duas horas após ingestão da pílula, sugerimos a repetição do esquema.
Contraindicações
Não existem contraindicações absolutas. Mesmo as mulheres que apresentam contraindicações à pílula anticoncepcional de uso diário, como aquelas com doença cardiovascular, doença hepática, enxaqueca ou risco aumentado de trombose, podem utilizar a PDS.
Mulheres que estão amamentando podem tomar a pílula do dia seguinte, mas devem atentar para o risco de parte dos hormônios passarem para o bebê. O seu uso, portanto, deve ser ocasional (leia: Melhores Métodos Anticoncepcionais Durante a Amamentação).
Caso a mãe opte pelo ulipristal, ele deve ser tomado imediatamente após a mamada, e o aleitamento deve ser interrompido por 36 horas. Neste intervalo, a mãe deve manter a extração do leite de forma artificial para manter o estímulo à produção do leite.
Referências
- Interventions for emergency contraception – Cochrane Database of Systematic Reviews.
- Practice Bulletin No. 152: Emergency Contraception – Obstetrics & Gynecology.
- Mechanism of action of emergency contraception – Contraception.
- Emergency contraception – UpToDate.
- Emergency contraception – World Health Organization.
- Ulipristal acetate versus levonorgestrel for emergency contraception: a randomised non-inferiority trial and meta-analysis – Lancet.
- Effect of BMI and body weight on pregnancy rates with LNG as emergency contraception: analysis of four WHO HRP studies – Contraception.