O que é o hCG?
A sigla hCG refere-se ao hormônio gonadotrofina coriônica humana. Sua dosagem sanguínea é amplamente utilizada como teste de gravidez, pois esse é um hormônio produzido pelas células do embrião.
Conforme veremos mais adiante, o hCG até pode ser produzido por outras células do organismo, mas isso só ocorre em situações excepcionais. Em 99% dos casos, se a mulher apresenta níveis elevados de gonadotrofina coriônica humana no sangue, isso significa que ela está grávida.
O exame do hCG sanguíneo é o método diagnóstico de gravidez com acurácia mais elevada. Quando colhido na época certa e interpretado corretamente, ele apresenta uma taxa de acerto próxima de 100%.
O hCG também pode ser dosado na urina, motivo pelo qual nos últimos anos tem sido crescente a oferta de testes de gravidez de farmácia que podem ser feitos em casa. A dosagem na urina, porém, não é tão confiável quanto a do sangue, sendo possível haver casos de falso-negativo, caso o teste seja feito muito no início da gestação.
Como a gonadotrofina coriônica humana é produzida?
A gonadotrofina coriônica humana é um hormônio importante e necessário para a manutenção e desenvolvimento da gestação. Ela é produzida pelo trofoblasto, grupo de células do embrião que dá origem à placenta.
Cerca de seis dias após a fecundação do óvulo pelo espermatozoide, o embrião em formação chega à parede do útero e se aloja nela. A partir desse momento, o hormônio hCG produzido pelo trofoblasto consegue alcançar a corrente sanguínea da mãe, o que possibilita sua detecção por exames laboratoriais ultrassensíveis.
Conforme o embrião e a placenta se desenvolvem, mais hCG é produzido e lançado na circulação materna. Nas primeiras semanas de gestação, os níveis de hCG dobram a cada 2 ou 3 dias. Se nos primeiros 30 dias de gravidez o ritmo de elevação da gonadotrofina coriônica humana estiver inesperadamente pouco elevado, é possível haver algo de errado na gestação, como inviabilidade fetal ou gravidez ectópica.
Quando o hCG torna-se detectável?
As atuais técnicas só conseguem detectar o hCG a partir da 3ª ou 4ª semanas de gravidez, contadas a partir da data da última menstruação.
Como a 4ª semana de gravidez costuma equivaler à época na qual a próxima menstruação deveria vir, sugerimos sempre que a paciente espere a menstruação atrasar para fazer o teste. Desta forma, a gente minimiza o risco de resultado falso negativo (para saber mais sobre a melhor época para realizar o teste de gravidez, leia: Quando fazer o teste de gravidez?).
Valores ao longo da gravidez
Em geral, os valores do hCG comportam-se da seguinte maneira ao longo das semanas de gravidez:
- Mulheres não grávidas ou com menos de 3 semanas de gravidez: menor que 5 mIU/ml.
- 3 semanas de gravidez: entre 5 e 50 mIU/ml.
- 4 semanas de gravidez: entre 5 e 426 mIU/ml.
- 5 semanas de gravidez: entre 18 e 7.340 mIU/ml.
- 6 semanas de gravidez: entre 1.080 e 56.500 mIU/ml.
- 7 a 8 semanas de gravidez: entre 7.650 e 229.000 mIU/ml.
- 9 a 12 semanas de gravidez: entre 25.700 e 288.000 mIU/ml.
- 13 a 16 semanas de gravidez: entre 13.300 e 254.000 mIU/ml.
- 17 a 24 semanas de gravidez: entre 4.060 e 165.400 mIU/ml.
- 25 a 40 semanas de gravidez: entre 3.640 e 117.000 mIU/ml.
Atenção: os valores acima são apenas para orientação. Eles não são uma regra e outras referências podem apresentar valores distintos.
Se o seu hCG está diferente, não se apavore, pois isso não significa necessariamente que haja algo de errado com a sua gestação. O mais importante é a velocidade de crescimento do hormônio nas primeiras semanas.
Os valores do hCG para gravidez gemelar, sejam gêmeos ou trigêmeos, costumam ser maiores, pois, se há mais embriões, há também mais fontes de produção de gonadotrofina coriônica.
Habitualmente, o pico do hCG ocorre ao redor da 10ª semana de gravidez. Os níveis, então, começam a cair até a 20ª semana, período em que se estabilizam, mantendo-se mais ou menos constantes até o dia do parto.
É possível calcular o tempo de gravidez pelo valor do hCG?
Não. A dosagem do hCG só serve para fazer o diagnóstico de gravidez. É impossível estimar com adequada acurácia a idade gestacional apenas pelos valores da gonadotrofina coriônica humana.
Se você reparar nos valores de referência fornecidos acima, notará que pode haver variações enormes entre valores de gonadotrofina coriônica humana ao longo das semanas de gravidez. Uma gestante na 8ª semana, por exemplo, pode ter hCG de 9.000, enquanto outra com a mesma idade gestacional pode já ter um hCG de 150.000.
Se você quiser saber quais são as formas mais indicadas para estimar a idade gestacional, leia o seguinte artigo: Tempo de gravidez – Calculadora gestacional.
Qual é a diferença entre Beta hCG e hCG?
O hCG é um hormônio composto de duas grandes moléculas, chamadas de subunidade Alfa (ou fração Alfa) e subunidade Beta (ou fração Beta). A primeira é estruturalmente semelhante a vários outros hormônios, como o hormônio folículo-estimulante (FSH) ou o hormônio luteinizante (LH). Já a segunda é única, não existindo em mais nenhum outro hormônio.
O hCG produzido pelo feto passa para a circulação sanguínea da mãe e sofre metabolização e degradação nos tecidos e nos rins, gerando diversas isoformas diferentes de hCG no sangue e na urina, tais como:
- hCG intacto
- hCG degradado.
- Beta-hCG.
- Beta-hCG danificado.
- Alfa-hCG.
Os testes de gravidez sanguíneos podem dosar o hCG intacto, o Beta-hCG ou “hCG total”, que inclui todas as isoformas de hCG.
O termo Beta-hCG ou B-hCG acabou se popularizando, mas não necessariamente indica que o teste é feito apenas dosando a subunidade Beta do hCG. Muitas vezes o teste se chama Beta-hCG, mas o laboratório testa mais de uma isoforma do hormônio.
Apesar de não serem exatamente a mesma coisa, os termos Beta-hCG e hCG são muitas vezes utilizados como sinônimo. Ao longo do nosso texto, todas as informações serão válidas tanto para os testes de gravidez chamados Beta-hCG quanto hCG.
Testes de gravidez que usam hCG
O hCG é produzido na placenta, lançado no sangue materno, metabolizado nos tecidos e filtrado pelos rins da mãe, sendo eliminado pela urina. Portanto, o hCG e suas isoformas podem ser dosados tanto no sangue como na urina da gestante. Excetuando-se casos raros, que serão explicados mais adiante, se for detectado hCG no sangue ou na urina da mulher, isso significa que ela está grávida.
Existem basicamente duas formas de se avaliar a presença da gonadotrofina coriônica humana: hCG qualitativo e hCG quantitativo.
O hCG qualitativo não fornece valores, apenas revela se há ou não gonadotrofina coriônica humana em valores relevantes circulando no sangue na mãe. Essa forma é muito usada nos testes de gravidez de farmácia que usam a urina como fonte de pesquisa.
Esses testes possuem uma fita que reage à presença da gonadotrofina coriônica humana. A fita não quantifica o hormônio, apenas aponta se ele está presente ou não (teste é positivo ou negativo).
Para ver e entender os resultados dos testes de gravidez de farmácia, leia: Fotos: teste de gravidez positivo e negativo (várias marcas).
Já o hCG quantitativo é a forma usada na maioria dos exames de sangue. Nessa forma de teste, o resultado é fornecido em valores, geralmente em miliunidades internacionais por mililitro (mUI/ml). A maioria dos laboratórios considera haver gravidez em curso quando os valores estão acima de 25 mUI/ml.
Como interpretar os valores (resultados do hCG quantitativo)
É importante destacar que os testes de gravidez de urina não servem para estabelecer o diagnóstico definitivo de gravidez. Mesmo quando eles são positivos, é preciso confirmar o resultado através do exame de sangue, que é o teste de gravidez mais confiável.
A maioria dos exames de sangue consegue detectar níveis mínimos de hCG de 5 mUI/ml, porém já existem testes supersensíveis que detectam a presença de até 1ou 2 mUI/ml.
A maior parte dos laboratórios utiliza os seguintes valores de referência:
- hCG abaixo de 5 mIU/ml: resultado negativo, não há gravidez em curso.
- hCG entre 5 e 25 mIU/ml: resultado indefinido, geralmente indica inexistência de gravidez em curso, mas pode ser o caso de gestação muito recente, quando ainda não houve tempo do hCG ser produzido em quantidades suficientes para ser detectado no sangue. Nesses casos, deve-se repetir o teste após três dias.
- hCG acima de 25 mIU/ml: resultado positivo, indica gravidez em curso.
É sempre importante prestar atenção aos valores de referência do laboratório. Na maioria dos casos, os laboratórios usam o valor de 25 mIU/ml como limiar. Porém, dependendo do método químico usado, o valor considerado positivo pode ser mais baixo ou mais alto.
Normalmente, para o embrião se implantar no útero e o seu hCG alcançar níveis relevantes na corrente sanguínea da gestante, são necessários de 7 a 14 dias após relação sexual. Em geral, somente indicamos a realização do teste após a menstruação atrasar, pois, antes disso, é pouco provável que já tenha havido tempo hábil para que os valores de hCG estejam suficientemente elevados para serem detectados nos exames.
Casos de hCG falso negativo
A principal causa de hCG falso negativo é exame feito muito precocemente. Algumas mulheres ficam ansiosas por terem tido relações sexuais desprotegidas e acabam fazendo o teste de gravidez poucos dias depois, antes mesmo de qualquer atraso menstrual.
Não adianta fazer o exame tão cedo, pois, se você estiver grávida, é possível que o embrião ainda nem tenha chegado ao útero. Se o embrião ainda não se implantou no útero, não há como haver hCG no sangue da mãe.
Os exames de última geração conseguem detectar elevação do hCG com apenas 1 dia de atraso menstrual. Porém, para diminuir o risco de falso negativo, indicamos a realização do exame somente após uma semana de atraso menstrual.
Tenha em mente que não se pode excluir totalmente uma gravidez se o resultado negativo tiver sido obtido com menos de 1 semana de atraso da menstruação. No entanto, um resultado negativo com mais de duas semanas de atraso menstrual torna a hipótese de gravidez muito pouco provável.
Nas mulheres com ciclo menstrual muito irregular, saber se a menstruação atrasou ou não pode não ser tão simples. Nesses casos, sugerimos a realização do teste somente 14 dias depois da relação sexual desprotegida.
A quantidade de hCG na urina é menor que no sangue, portanto, o risco de falso negativo é maior nessa forma.
Por fim, o uso de medicamentos não provoca falsos negativos, inclusive de anticoncepcionais tradicionais, pílula do dia seguinte, antidepressivos, antibióticos, etc. Infecções também não alteram o resultado.
Casos de hCG falso positivo
Com as atuais técnicas de detecção de hCG, casos de falso positivo são raros. Cito a seguir algumas situações em que um resultado falso positivo é possível.
Entre esses casos, encontra-se a morte fetal ocorrida logo após implantação do embrião no útero. Nessa situação, o hCG pode ser positivo, mas, como houve abortamento, não haverá desenvolvimento de gravidez. Abortos que ocorrem tão cedo podem passar despercebidos, pois o embrião ainda é microscópico.
Algumas mulheres que fazem tratamento para engravidar, por sua vez, podem usar medicamentos à base de hCG. Nesses casos, o hCG detectado nos exames pode ser apenas resquício do medicamento administrado dias antes. Em geral, após duas semanas de interrupção, esse hCG já terá sido eliminado, não mais interferindo nos testes de gravidez.
Outros medicamentos não causam hCG falso positivo, incluindo anticoncepcionais, pílula do dia seguinte, antidepressivos, antibióticos, clomifeno ou qualquer outro hormônio.
Muito raramente, pacientes que tiveram recentemente mononucleose podem apresentar hCG falso positivo (com valores baixos).
Em mulheres mais velhas, próximas da menopausa, a hipófise, glândula presente no cérebro, pode começar a secretar pequenas quantidades de hCG, o suficiente para manter os valores pouco acima de 25 mIU/ml, apesar do mais serem valores entre 7 e 15 mIU/ml.
Tumores produtores de gonadotrofina coriônica humana
Alguns tumores são produtores de gonadotrofina coriônica humana, como na doença trofoblástica gestacional, que engloba as seguintes patologias:
- Mola hidatiforme (parcial ou completa).
- Mola invasiva.
- Coriocarcinoma.
- Tumor trofoblástico de sítio placentário.
Essas doenças produzem tumores provenientes de anormal proliferação das células do trofoblasto. A produção de hCG desses tumores trofoblásticos pode ser bem grande, frequentemente acima de 100.000 mIU/ml e, em alguns casos, ultrapassando os 500.000 mIU/ml.
Perguntas e respostas sobre o teste de gravidez
É possível detectar hCG em homens?
Embora seja raro, os homens podem apresentar níveis detectáveis de hCG em casos de alguns tipos de câncer, como câncer testicular. Em homens saudáveis, os níveis de hCG devem ser menores que 2 mIU/ml.
É possível estar grávida e dar negativo no exame de sangue?
Só se o teste tiver sido feito muito precocemente, antes do embrião ter começado a produzir hCG.
É possível o teste hCG dar positivo e não estar grávida?
Sim, mas isso só costuma ocorrer em casos de tumores produtores do hormônio gonadotrofina coriônica humana ou em pacientes que usam medicamentos para infertilidade que possuem hCG na sua composição.
Como é feito o exame de Beta hCG?
É um exame simples, feito por meio de coleta de sangue.
Meu hCG veio 25 mUI/ml, o que significa?
25 mUI/ml é o valor de corte para gravidez. Esse resultado em mulheres com idade fértil geralmente indica gravidez, mas o ideal é repetir o exame após 72 horas. Se a paciente estiver realmente grávida, após 3 dias, esse valor terá pelo menos dobrado.
Quando o hCG começa a ser produzido?
A partir do momento que o embrião se implanta no útero, evento que ocorre por volta de 7 dias após a concepção.
Posso estimar a idade gestacional pelo valor do hGC?
O hCG é um método pouco confiável para estimar o tempo de gravidez. Dá até para dizer se a gravidez é muito recente ou não, mas calcular a semana de gravidez não é possível.
O exame Beta-hCG precisa ser feito em jejum?
Não, não é necessário jejum.
Referências
- Hormonal evaluation of early pregnancy – American Society for the Study of Sterility & American Society for Reproductive Medicine.
- HCG Tumor Marker – American Association for Clinical Chemistry (AACC) .
- Immunoassay of human chorionic gonadotropin, its free subunits, and metabolites – Clinical Chemistry.
- Human Chorionic Gonadotropin: The Pregnancy Hormone and More– International Journal of Molecular Sciences.
- Pregnancy tests: a review – Human Reproduction.
- Pregnancy Diagnosis – Medscape.
- Human chorionic gonadotropin: Biochemistry and measurement in pregnancy and disease – UpToDate.
- Clinical Gynecologic Endocrinology and Infertility. 7th ed. Philadelphia, PA: Lippincott Williams & Wilkins; 2005.
Autor(es)
Deixe um comentário