Principais fatores de risco do câncer de mama

Dr. Pedro Pinheiro

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Câncer de mama

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Introdução

O câncer de mama é o câncer mais comum e o que mais leva à morte entre as mulheres. Entender os fatores de risco nos ajuda a identificar as mulheres mais propensas a terem o câncer e a reduzir sua incidência.

É bom salientar que quando falamos em fatores de risco, nos referimos a situações que aumentam a probabilidade do câncer aparecer. Mulheres com fatores de risco não necessariamente terão câncer, assim como a ausência de fatores de risco não elimina a chance de tê-lo. Obviamente, quanto mais fatores de risco um indivíduo possui, maiores são suas chances de desenvolver determinada doença.

No caso específico do câncer de mama, cerca de 70% das mulheres acometidas não apresentam um fator de risco claramente identificável. Porém, quando comparamos mulheres com fatores de risco e mulheres sem fatores de risco, a incidência de câncer é claramente maior no primeiro grupo.

Este texto abordará apenas os fatores de risco. Para saber mais sobre câncer de mama leia:

Fatores de risco para o câncer de mama

Podemos dividir os fatores de risco para o câncer da mama entre modificáveis e não modificáveis. Ou seja, há fatores de risco que podem ser eliminados ou atenuados, como consumo de álcool ou sobrepeso, e há fatores que são inerentes à pessoa e não podem ser alterados, tais como idade, etnia e sexo.

Fatores de risco para câncer de mama que não podem ser alterados

Sexo feminino

Este é meio óbvio. Mulheres têm 100 vezes mais chances de ter câncer de mama que homens. Nos Estados Unidos, mais de 280.000 mulheres são diagnosticadas com câncer de mama a cada ano, em comparação com menos de 3.000 casos que ocorrem anualmente em homens.

Idade

O risco de câncer de mama aumenta abruptamente a partir do 45 anos de idade, chegando ao seu pico ao redor dos 70 anos. Cerca de 77% das mulheres com câncer de mama têm mais de 50 anos.

O risco de câncer de mama em mulheres com menos de 30 anos é de apenas 1 em 2000. Porém, conforme a idade aumenta a incidência se eleva junto:

  • Em mulheres de 50 a 59 anos, 1 em cada 42 desenvolve câncer.
  • Em mulheres de 60 a 69 anos, 1 em cada 28 desenvolve câncer.
  • Em mulheres acima de 70 anos, 1 em cada 14 desenvolve câncer.

Etnia

Brancos (caucasianos) são o grupo étnico com maior incidência de câncer de mama. Negros apresentam um risco levemente menor, porém, sua mortalidade é maior devido a tumores mais agressivos e ao fato desta população ser, em média, mais pobre e ter menos acesso a meios diagnósticos precoces. Hispânicos e asiáticos apresentam cerca de 30% menos risco de câncer de mama que brancos.

História familiar

Ter um parente de primeiro grau com câncer de mama aumenta o risco de tê-lo em 1.8 vezes. Ter dois parentes de primeiro grau com câncer de mama aumenta o risco em 2.9 vezes. Se você tem um parente de primeiro grau com diagnóstico de câncer de mama antes dos 40 anos, então seu risco de também tê-lo antes dos 40 aumenta em 5.7 vezes.

Entretanto, apesar destes dados, apenas 15% das mulheres com câncer de mama apresentam história familiar positiva. Os outros 85% dos casos ocorrem em mulheres sem história familiar.

A história familiar também é importante na identificação de algumas mutações genéticas que favorecem o surgimento do câncer de mama. Quando vários familiares apresentam a doença, provavelmente estamos lidando com um família que possui mutações nos genes BRCA1 e BRCA 2. Mulheres com estes genes alterados apresentam 65% de chance de virem a ter câncer de mama até os 70 anos.

Os genes BRCA 1 e BRCA 2 são responsáveis por algo em torno de 5% de todos os câncer de mama. Portanto, a imensa maioria dos casos não estão relacionados a estas mutações.

Para saber mais detalhes sobre os genes BCRA1 e BRCA, leia: CÂNCER DE MAMA | Genes BRCA1 e BRCA2

História pessoal de câncer de mama

Quem já teve câncer de mama uma vez, apresenta quatro vezes mais riscos de ter um segundo câncer de mama, seja na mesma ou na outra mama. Atenção: estou me referindo a um novo câncer de mama e não a recorrência do primeiro.

Lesões benignas da mama

A maioria das lesões benignas da mama não acarreta em maior risco de câncer de mama. Entre elas podemos citar fibroadenoma simples, alterações fibrocísticas, papiloma e ectasia ductal. Porém, algumas lesões como a hiperplasia ductal atípica e a hiperplasia lobular atípica são fatores de risco reconhecidos, aumentando em cerca de 5 vezes o risco de câncer de mama.

Idade da menarca (primeira menstruação) e da menopausa

Mulheres com menarca precoce (antes dos 12 anos) e/ou menopausa tardia (após os 55 anos) apresentam maior risco de câncer de mama (leia: PRIMEIRA MENSTRUAÇÃO – MENARCA).

Radiação na região do tórax

Pessoas com história prévia de câncer submetidas a radioterapia na região torácica, como no tratamento do linfoma (leia: LINFOMA HODGKIN | LINFOMA NÃO HODGKIN), pessoas expostas à radiação, como os sobreviventes da bomba atômica, ou pessoas que que entraram em contato com material radioativo, como em acidentes de usinas nucleares, apresentam maior risco de câncer de mama. Este risco é ainda maior se a exposição ocorreu durante a juventude.

Altura

Não sabe bem o porquê, mas mulheres mais altas apresentam maior risco de câncer de mama. Mulheres com mais de 1,75 metro apresentam 20% mais risco que mulheres abaixo de 1,60 metro.

Densidade das mamas

As mamas são constituídas de tecido adiposo (gordura), fibroso e glandular. Mamas mais densas possuem mais tecido glandular e fibroso do que tecido adiposo. Mulheres cujo tecido denso constitui 75% ou mais do volume total da mama possuem 4 a 5 vezes mais risco de desenvolver câncer de mama do que as que têm mamas menos densas.

Atenção: a densidade da mama não necessariamente tem a ver com o seu tamanho.

Fatores de risco para câncer de mama que podem ser alterados

Idade do primeiro filho e número de filhos

Mulheres que têm o primeiro filho cedo apresentam menor risco de câncer de mama quando comparadas com mulheres que só dão a luz após os 30 anos de idade. Mulheres com o primeiro filho antes dos 20 anos apresentam menos riscos que mulheres com o primeiro filho aos 25 anos, que por sua vez, apresentam menor risco que as mulheres com primeiro parto após os 30 anos.

Mulheres acima dos 40 anos que nunca tiveram filhos são as que apresentam maior risco, cerca de 30% maior que mulheres com filhos. Estima-se que cada filho reduza em 7% o risco de câncer de mama.

Amamentação

Amamentar reduz o risco de câncer de mama. Estima-se uma redução de 4.3% para cada 12 meses de amamentação realizada. Mulheres com prole grande e com longo tempo de amamentação estão mais protegidas.

Pílulas anticoncepcionais

Existe controvérsia sobre a influência dos anticoncepcionais no câncer de mama. Atualmente aceita-se que haja um pequeno aumento no risco, que desaparece após sua suspensão. Porém, existe uma grupo de especialista que contesta a metodologia dos trabalhos que mostram esta relação. O fato é que, mesmo que haja aumento de risco, este é pequeno.

Terapia de reposição hormonal

A terapia de reposição hormonal, principalmente a que combina estrogênio com progesterona, está relacionada a um maior risco de câncer de mama. Este efeito, porém, só ocorre quando o uso é feito por mais de 2-3 anos.

Obesidade (leia: OBESIDADE E SÍNDROME METABÓLICA | Definições e consequências)

Quanto maior o tecido gorduroso, maior o risco de câncer de mama. Mulheres com IMC maior que 33 kg/m2 apresentam 27% mais risco que mulheres com IMC normal. Este risco é ainda maior em mulheres após a menopausa.

Consumo de álcool (leia: EFEITOS DO ÁLCOOL E ALCOOLISMO)

O consumo de álcool aumenta o risco de câncer de mama. Quanto maior o consumo, maior o risco. O álcool ainda parece potencializar os risco da terapia de reposição hormonal.

Cigarro

O grau de evidência da relação entre tabagismo e câncer de mama ainda não é tão forte quanto o do álcool, mas alguns estudos sugerem aumento de até 40% no risco para as fumantes. E mesmo o fumo passivo também parece ser um fator de risco.

Atividade física

Exercícios físicos diminuem o risco de câncer de mama, independente do seu efeito na redução de peso. Mesmo 40 minutos de caminhada 3 vezes por semana já é suficiente para reduzir o risco. Mulheres que praticam exercícios mais intensos, como até 10 horas semanais de caminhada ou 3 horas semanais de corrida, chegam a ter até 40% menos chance de desenvolver câncer de mama.

A Sociedade Americana de Oncologia recomenda 45 minutos diários de exercícios por pelo menos cinco dias por semana.

Trabalho noturno

Mulheres que trabalham em turnos noturnos apresentam um risco maior de câncer de mama. Isto provavelmente ocorre por alterações na secreção dos hormônios circadianos como a melatonina, que ocorre normalmente durante a madrugada, mas que é inibida pela luz artificial.

Mitos sobre os riscos para o câncer de mama

Uso de sutiã

Ao contrário do que ultimamente tem corrido a internet por e-mails, não há nenhuma comprovação científica de que o uso de sutiã aumente o risco de câncer de mama. Na verdade, o único trabalho que mostrou uma discreta elevação de risco apresentava uma falha metodológica, já que o número de mulheres obesas e com mamas densas, conhecidos fatores de risco, que usavam sutiã era maior que o de mulheres magras.

Existe também um livro chamado “Dressed to Kill” dos autores Sydney Ross Singer e Soma Grismaijer que levantam a hipótese do sutiã causar câncer de mama.

Traduzo aqui a parte da revisão de evidências do National breast and ovarian cancer centre do Governo Australiano que fala sobre o livro (link para a fonte no final do texto):

“O uso de sutiãs, especialmente aqueles com armação ou aqueles que ficam apertados, foi sugerido como fator de risco para o câncer de mama. Dois antropólogos fizeram essa afirmação em um livro chamado “Dressed to Kill”, que descreve um estudo realizado por eles. Vários websites também promoveram esta hipótese, que é baseada em uma teoria de que sutiãs causam constrição física que reduz circulação linfática, resultando na retenção de toxinas cancerígenas. No entanto, o estudo dos antropólogos falha em atender aos padrões científicos atuais para rigorosos testes de hipóteses. Até a atual data, não há estudos cientificamente válidos que apoiem a alegação de que usar sutiãs causa câncer de mama”.

Aborto

Tanto o aborto induzido quanto o aborto espontâneo não aumentam o risco de câncer de mama

Desodorantes antitranspirante (antiperspirante)

Mais um dos rumores levantados por correntes de e-mail. Não há nenhum embasamento científico e a própria teoria por trás do mito é falha já que o corpo não elimina toxinas pelo suor. Nosso suor é composto em 99% apenas de água e sais minerais.Quem elimina toxinas no nosso organismo são os rins e o fígado.

Portanto, usar desodorantes não causa câncer de mama.

Implantes mamários de silicone

Implantes de silicone não aumentam o risco de câncer de mama, porém, eles podem criar cicatrizes e dificultar a visualização de tumores pela mamografia, sendo muitas vezes necessária a realização de incidências adicionais nas radiografias.

Cafeína

Não existem trabalhos que atestem qualquer relação entre consumo de cafeína e câncer de mama.

Mamografias rotineira

Outro rumor comum é de que a exposição ao radiação em mamografias realizadas anualmente possa aumentar o risco de câncer de mama. Isto também é mito uma vez que a radiação usada em cada exame é extremamente baixa. Na verdade, recebemos anualmente aproximadamente o dobro de radiação de uma radiografia apenas pela exposição solar natural do dia-a-dia.

Traumas

Não há nenhum estudo que demonstre relação entre traumas na mama e o desenvolvimento de câncer de mama.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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