Torção testicular: o que é, causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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O que é torção do testículo?

A torção testicular é uma emergência médica que ocorre quando um dos testículos gira em torno do seu próprio eixo e acaba por torcer o cordão espermático, a estrutura que contém os vasos sanguíneos que nutrem o próprio testículo. Com a torção do cordão espermático, o fluxo sanguíneo fica gravemente reduzido, provocando isquemia testicular. Esse quadro de isquemia aguda resulta em súbita e intensa dor na região escrotal.

A torção testicular pode ocorrer em qualquer época da vida do homem, mas ela tem duas fases de maior pico: período neonatal e durante a puberdade. A incidência estimada é de 1 caso para cada 4000 homens com menos de 25 anos de idade. Cerca de 65% dos casos ocorrem entre os 12 e 18 anos.

A torção do testículo é uma emergência porque se não for revertida rapidamente, há risco de necrose e necessidade de remoção do testículo. Por outro lado, se o problema for rapidamente diagnosticado e tratado, é possível reverter a isquemia antes que haja maiores danos ao testículo.

Como surge a torção testicular?

Apesar de se chamar torção testicular, a torção em si ocorre efetivamente nas estruturas ao redor do testículo, e não no próprio. Porém, mesmo não sendo diretamente torcido, o testículo acaba por ser a principal vítima dessa condição porque é ele que fica privado de sangue e oxigênio.

Explicaremos resumidamente a anatomia dos testículos e da bolsa escrotal para que você consiga entender mais facilmente como surge a torção testicular. Utilize a ilustração abaixo para acompanhar o texto.

Como ocorre a torção testicular - ilustração
Torção testicular

Ao contrário do que se imagina, os testículos não ficam “soltos” dentro da bolsa escrotal. A partir dos primeiros meses de vida eles são fixados na túnica vaginal, uma membrana que envolve parte do testículo e impede sua livre movimentação. Além disso, na sua poção superior, os testículos estão suspensos pelo cordão espermático, uma estrutura cilíndrica que contém vasos sanguíneos, nervos, vasos linfáticos e o ducto deferente, canal que transporta os espermatozoides produzidos a partir do epidídimo.

Portanto, em situações normais, os testículos mexem-se muito pouco dentro da bolsa escrotal e a torção do cordão espermático não é  algo esperado. Para haver torção, é preciso que alguma das estruturas que mantêm os testículos “presos” estejam comprometidas. A situação mais comum é uma má formação da túnica vaginal conhecida como deformidade em “badalo de sino”. Nesses pacientes, o testículo não se encontra bem fixado e pode girar em torno do seu próprio eixo.

Apesar da deformidade estar presente desde o nascimento, em muitos casos, a torção só ocorre a partir da puberdade, que é o momento no qual os testículos aumentam de tamanho e tornam-se mais pesados.

O período neonatal, que são os 30 primeiros dias de vida do bebê, também é uma fase de maior risco de torção, mesmo naqueles que não apresentam deformidade em “badalo de sino”. Nesse caso, o problema costuma ocorrer porque a túnica vaginal ainda não teve tempo de se fixar à bolsa escrotal, fato que costuma ocorrer nas primeiras semanas de vida. A torção neonatal é menos comum que a torção durante a puberdade, que responde por cerca de 70% dos casos.

O grau de torção pode variar de 180 a 720 graus. Quanto maior for a torção, menos sangue chega aos testículos e mais rápido surgem os danos irreversíveis.

Sintomas

Uma dor súbita e de grande intensidade, associada a inchaço na bolsa escrotal, é a apresentação clínica mais comum da torção do testículo. Náusea e vômitos também são frequentes.

A dor pode ficar concentrada apenas na região escrotal, no lado do testículo em sofrimento, ou irradiar-se para a virilha e região inferior do abdome. A dor costuma ser constante, a menos que o testículo esteja sofrendo torção e destorção espontâneas.

Ao exame físico, a bolsa escrotal habitualmente encontra-se inchada, endurecida e avermelhada. O testículo afetado dói ao toque e fica levemente elevado, devido ao encurtamento do cordão espermático torcido. O reflexo cremastérico – que é uma leve ascensão de um dos testículos que ocorre quando passamos o dedo ou uma haste na porção medial da coxa de um paciente deitado – costuma estar ausente em praticamente todos os pacientes com torção testicular.

Como se testa o reflexo cremastérico
Como se testa o reflexo cremastérico.

Uma apresentação típica, particularmente em crianças, é o paciente que acorda no meio da noite com quadro súbito de dor escrotal. Outras situações que podem desencadear a torção são atividade física ou trauma na região escrotal.

Febre ou dor/dificuldade para urinar podem ocorrer, mas não são comuns.

Complicações

Qualquer paciente com suspeita de torção testicular deve ser imediatamente avaliado por um urologista. Quanto mais tempo o testículo permanecer em sofrimento por isquemia, maior é o risco de haver sequelas graves.

O tempo decorrido entre o início da dor e o pronto atendimento médico leva aos seguintes resultados:

  • Se a torção for corrigida dentro das primeiras 6 horas, cerca de 90 a 100% dos testículos são salvos sem maiores sequelas.
  • Se a torção for corrigida entre 12 a 24 horas após o início dos sintomas, a taxa de sucesso é de 20 a 50%.
  • Se o paciente só for tratado após 24 horas de sintomas, a taxa de sucesso é praticamente zero.

Em cerca de 1/3 dos casos, os pacientes não são tratados a tempo e acabam perdendo o testículo.

Entre as consequências mais comuns da torção testicular as seguintes se destacam:

  • Infarto do testículo (necrose).
  • Infecção.
  • Infertilidade.
  • Deformidade estética da bolsa escrotal.

Diagnóstico

Na maioria dos casos, o diagnóstico da torção testicular pode ser feito através de critérios clínicos, com avaliação da história, dos sintomas e dos achados ao exame físico. A ultrassonografia escrotal pode ser realizada quando o médico tem dúvidas.

Um escore baseado nos achados clínicos pode ajudar na tomada de decisão:

  • Náusea ou vômito: 1 ponto.
  • Inchaço escrotal: 2 pontos.
  • Testículo duro à palpação: 2 pontos.
  • Um testículo nitidamente mais alto que o outro: 1 ponto.
  • Ausência do reflexo cremastérico: 1 ponto.

Se o paciente tiver 5 ou mais pontos, a probabilidade dele ter torção é muito alta. Por outro lado, se ele tiver 2 ou menos pontos é pouco provável que torção seja o diagnóstico. Nos paciente com 2 a 5 pontos, a ultrassonografia escrotal pode ser solicitada.

Sinal de Angel

Durante o exame físico, o médico procura por alterações na posição e orientação do testículo afetado. Normalmente, os testículos estão pendentes e alinhados verticalmente dentro da bolsa escrotal. No entanto, na presença de torção testicular, o testículo afetado pode apresentar uma elevação anormal e uma orientação horizontalizada, um fenômeno descrito como o sinal de Angel. Este sinal ocorre devido ao encurtamento do cordão espermático torcido, que leva a uma alteração na posição do testículo. A identificação do sinal de Angel sugere o diagnóstico de torção testicular.

Sinal de Prehn

O Sinal de Prehn é considerado positivo quando a elevação manual do testículo afetado alivia a dor escrotal. Esse sinal é frequentemente utilizado para diferenciar entre torção testicular e epididimite (inflamação do epidídimo). Na torção testicular, a elevação do testículo geralmente não alivia a dor e pode até piorá-la. Por outro lado, na epididimite, a elevação do testículo pode reduzir a dor, indicando um Sinal de Prehn positivo.

É importante destacar, no entanto, que o Sinal de Prehn não é totalmente confiável para diferenciar essas duas condições. Em alguns casos de torção testicular, a elevação do testículo pode inadvertidamente aliviar a dor, levando a um falso Sinal de Prehn positivo. Portanto, embora útil, esse sinal não deve ser o único critério para diagnóstico e decisão de tratamento.

Falamos especificamente da epididimite no artigo: Epididimite e orquite: causas, sintomas e tratamento.

Tratamento

A torção testicular é uma emergência de tratamento cirúrgico. Mesmo os pacientes com mais de 24 horas de dor precisam ser tratados cirurgicamente, pois em alguns casos a torção não é completa e há casos em que o cordão espermático torce e destorce mais de uma vez ao longo do dia, mantendo a viabilidade do testículo por mais tempo.

Durante a avaliação inicial, o urologista pode tentar destorcer o testículo manualmente. Essa manobra não elimina a necessidade da cirurgia, mas aumenta a possibilidade de salvamento do testículo durante o procedimento cirúrgico.

A cirurgia para corrigir a torção testicular é habitualmente feita sob anestesia geral. Durante o procedimento, o urologista faz um pequeno corte na bolsa escrotal, destorce o cordão espermático e costura um ou ambos os testículos no interior da bolsa para evitar recidivas, principalmente se paciente tiver deformidade em “badalo de sino”.

Se no momento da cirurgia o testículo já apresentar sinais claro de necrose, o urologista deverá realizar a orquiectomia, que é a remoção cirúrgica do testículo infartado. A retirada é necessária para evitar complicações pela presença de tecido morto, como, por exemplo, infecções.

Quando a cirurgia não é realizada nas primeiras 12 horas, a taxa de orquiectomia chega a ser de 75%.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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Comentários e perguntas

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16 respostas para “Torção testicular: o que é, causas, sintomas e tratamento”

  1. Santos

    Nos casos em que houve uma torção e não foi tradado devidamente, recomendou-se anti-inflamatório e passado o tempo, a bolsa escrotal que antes inchada voltou ao normal, mas o testículo ficou sensível, com expressiva diminuição de tamanho e endurecido, seria considerado perda do testículo? Se afirmativo, é necessario a retirada já que ele pode ter “perdido a sua função”?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      O testículo pode ter atrofiado e perdido função. Mas se ele não provoca sintomas, não há motivos para retirá-lo. Não compensa o risco de uma intervenção cirúrgica.

  2. Leonardo

    Leves dores é torção no testículo?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Provavelmente, não.

  3. Lek

    Amigo eu torci meus testículos fui no medido ele passo 2 remédios mais não fez uma sirurgia mando eu embora pra. Volta 10 dias mais meu ovo encho o que devo fazer ir lá ou não no medico

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Deve voltar ao médico. Ou ir em outro. Mas você deve ser visto de novo.

  4. flavio

    se alguma veia for cortada nas laterais dos testiculos ou dos tubos ? o homem pode ficar esteril? ou coisa pior?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Não entendi a pergunta. Por que alguém cortaria uma veia na lateral do testículo? Você está falando em agressão, acidente ou cirurgia? E qual veia exatamente você se refere? É a veia testicular?

  5. Eliandro

    Tive torção no testículo e foi feito a cirurgia de retirada do testículo direito depois de quantos dias posso ter relação sexual?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Eliandro, eu não tenho como dizer isso à distância, sem saber absolutamente nada do seu quadro. Quem fez a cirurgia e o acompanhamento pós-cirúrgico é que deve dizer quando você está liberado para fazer cada tipo de atividade.

  6. ita

    Um paciente que tenha tido episodios de torção com destorção, deve submeter-se à cirurgia de fixação para evitar o pior?
    Quais as consequencias negativas, principais queixas e riscos da cirurgia?
    Obrigado

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Sim, a cirurgia está indicada.

  7. Thiago

    TORÇÃO TESTICULAR faz com que nao consiga ter ejaculação? E dor no abdômen por baixo da barriga?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      A torção testicular é uma emergência. É uma dor aguda forte que o paciente nem sequer consegue pensar em ter ereção, quanto mais estímulo para ejacular.

  8. Maria do Socorro Alves

    Quando o homem não tem sua vida sexual ativa poder dar dor nos testiculos !

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Sim, principalmente se ele ficar excitado.