Introdução
A comunicação entre o médico oftalmologista e os profissionais que trabalham nas óticas é feita por códigos, números, sinais e nomes que normalmente são inacessíveis a quem não é do ramo. Mesmo médicos não oftalmologistas costumam ter muita dificuldade para entender as receitas dos óculos.
As prescrições de óculos têm muitos códigos e números porque são padronizadas de forma a serem mais ou menos iguais em todo mundo. Se você receber uma receita de óculos nos EUA, França ou até mesmo no Japão, os dados contidos nela serão bem semelhantes, e qualquer ótica será capaz de entender boa parte do que está prescrito.
Neste artigo vamos ensinar a interpretar uma receita de óculos comum, tenha você miopia, astigmatismo, presbiopia ou hipermetropia.
As informações abaixo não servem para as lentes de contato, pois a prescrição não é igual. Até mesmo os graus podem ser diferentes.
O que significam as siglas?
As prescrições de óculos costumam vir em formulários com abreviaturas e termos previamente escritos, seguidos de lacunas em branco que devem ser preenchidas pelo oftalmologista.
As principais abreviações na receita de óculos são:
- OE: olho esquerdo.
- OD: olho direito.
- Esf: esférico.
- Cil: cilíndrico.
- DNP: distância naso-pupilar.
- DP: distância pupilar.
- Ad: adição
Além das abreviaturas, a receita também costuma ter os termos: eixo, prisma, longe e perto.
Na parte escrito “prisma”, o médico colocará algum número somente se o paciente tiver algum grau de estrabismo (vesguice) e for corrigir o problema com óculos. Se não for o caso, essa parte da receita ficará em branco.
A imagem abaixo ilustra dois modelos distintos de receita de óculos.

Como interpretar a prescrição
Longe e Esfera
Na lacuna ao lado do termo “Esfera” ou “Esf.”, o oftalmologista irá indicar o grau esférico da lente, que é medido em dioptrias. Esse é o grau dos seus óculos em caso de miopia ou hipermetropia.
Os graus de miopia são sempre escritos com um sinal negativo antes do número e o graus de hipermetropia são escritos com um sinal positivo.
Miopia e hipermetropia são preenchidos sempre na coluna do “Longe”.
Exemplo 1: Longe, Esférico: OD -5,00 e OE -5,00.

No exemplo acima, o paciente tem 5 graus de miopia em cada olho.
Exemplo 2: Longe, Esférico: OD +1,00 e OE +1,20.

O paciente acima tem 1 grau de hipermetropia no olho direito e 1,25 no olho esquerdo.
Longe e Cilindro
Na lacuna ao lado do termo “Cilindro” ou “Cil.”, o oftalmologista irá indicar o grau cilíndrico da lente. Esse é o grau dos seus óculos em caso de astigmatismo.
O grau de astigmatismo é sempre precedido do sinal negativo e deve ser acompanhado de um valor de grau do eixo.
O eixo é definido com um número de 1 a 180. O número 90 corresponde ao meridiano vertical do olho e o número 180 corresponde ao meridiano horizontal. Esse valor é calculado pelo oftalmologista durante o exame.

O grau do eixo do astigmatismo define em que ponto a lente dos óculos será mais grossa. Valores de eixo próximos de 0 ou 180 graus indicam uma lente mais grossa nas bordas superiores e inferiores. Valores de eixo próximo de 90 graus indicam uma lente mais grossa nas bordas laterais.

Se o paciente não tiver astigmatismo, a lacuna deve permanecer em branco.
Exemplo: Longe, Esférico: OD -5,00 e OE -5,00; Cilindro: OD -2,50 eixo 180º e OE -2,5. Eixo 180º.

O paciente acima tem 5 graus de miopia e 2,5 graus de astigmatismo em ambos os olhos. A lente deve ser esférica, mas também cilíndrica no eixo meridional de 180º.
Se você não sabe qual é a diferença entre astigmatismo e miopia, leia os seguintes artigos:
Perto e Esfera
Os pacientes com vista cansada, chamada presbiopia, têm dificuldade de enxergar para perto. Esse defeito de refração é comum a partir dos 40 anos. As lentes para correção também são esféricas.
O grau da presbiopia é sempre preenchido na coluna indicada como “Perto” e deve ser precedido pelo sinal de positivo.
Exemplo: Perto, Esférico: OD: +1,0 e OE +1,5.

O paciente acima tem 1 grau de presbiopia no olho direito e 1,5 grau no olho esquerdo.
DP e DNP
Além dos graus de miopia, hipermetropia, astigmatismo ou presbiopia existentes na receita, os oftalmologistas também anotam um valor chamado DNP ou só DP.
Essas siglas significam a distância entre as pupilas (ou distância pupilar) e distância naso-pupilar. Essa medida é feita em milímetros e é muito importante na hora de montar os óculos.
Alguns oftalmologista fazem essa medida na consulta mas outros preferem que a aferição seja feita na própria ótica.

E quando o paciente tem miopia e presbiopia ao mesmo tempo?
Nesse caso, o paciente tem duas opções: ou ele tem um óculos multifocal com lentes progressivas (explicamos mais baixo), ou ele precisa ter dois óculos, um para perto e outro para longe.
Em ambos os casos, como as lentes para correção da miopia e da presbiopia são esféricas, o cálculo do grau da lente para perto precisa levar em conta os graus da miopia e da presbiopia. Vamos explicar.
Se o paciente tiver -3,75 para longe (3,75 graus de miopia) e +1,75 para perto (1,75 grau de presbiopia), a lente para perto dele será a soma desses dois valores, ou seja -3,75 + 1,75 = -2,0.
Portanto, se ele optar por 2 óculos diferentes, o óculos exclusivamente para perto deverá ter um grau de -2,0 e o óculos exclusivamente para longe terá -3,75.
O valor do grau da presbiopia nesses casos costuma ser descrito como adição ou Ad.
A receita seria algo como no exemplo abaixo:

No caso acima, apesar do paciente ter 1,75 grau de presbiopia, a sua lente esférica para ver de perto precisa ser corrigida pelo valor da miopia. Por isso, o resultado final do grau da lente é -2,0.
Em muitos casos, o médico só indica o valor da miopia e da adição. Na ótica, eles fazem o cálculo do grau da lente para perto, que no exemplo abaixo seria -0,25 (-2,0 + 1,75).

E quando o paciente tem hipermetropia e presbiopia ao mesmo tempo?
Nesses casos, o raciocínio é o mesmo. Para definir a lente para ver de perto, a ótica deve somar os valores dos graus da hipermetropia e da presbiopia.
Por exemplo, se o paciente tem 1,5 grau de hipermetropia e 1,0 grau de presbiopia, o grau final da sua lente para ler de perto deverá ser +2,50 (1,50 + 1,00).

Lentes multifocais
Antigamente, o paciente com presbiopia e miopia podia ter um óculos bifocal, com a parte de cima com lente de grau para miopia e a parte de baixo com lente de grau para presbiopia.
Atualmente, esse tipo de óculos já quase não é usado, pois os óculos com lentes multifocais são bem mais confortáveis.

Nesse tipo de lente, a transição entre os graus de longe e perto é feita de forma progressiva, atendendo a visão de perto, visão intermediária e visão de longe de maneira gradual.
O paciente não precisa ficar movimentando a cabeça para cima ou para baixo para focar no objeto que deseja.
Além disso, a questão estética das lentes também é melhor, pois a transição entre os graus é imperceptível.
Referências
- How to read your eyeglasses prescription – All About Vision.
- How to Read Your Eyeglass Prescription – The Canadian Association of Optometrists.
- Understanding Your Eyeglass Prescription – Discovery Eye Foundation.
- Eskridge, J. Boyd, John Amos and Jimmy D. Bartlett. “Clinical Procedures In Optometry.” Copyright 1991 by J.B. Lippincott Company, Chapter 18 – “Monocular Subjective Refraction” by Polasky Michael, pp 174-188.
Este artigo foi escrito em co-autoria com o Dr. Renato Souza Oliveira, oftalmologista especializado em doenças da córnea, com predileção pela cirurgia de catarata e tratamento do Ceratocone.