Cólicas do Bebê: Causas, prevenção e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro
Dr. Pedro Pinheiro

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Cólicas do bebê

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O que são as cólicas do bebê?

A ocorrência de cólicas nos primeiros meses de vida é uma situação muito comum que acomete cerca de um em cada dois bebês menores de 4 meses.

Nos bebês, o termo cólica é empregado de forma mais ampla que nos adultos e serve para descrever os quadros de choro prolongado sem causa definida. Quando dizemos que um bebê tem cólicas, isso não necessariamente indica que ele apresente dor abdominal, mas sim um quadro de choro e/ou irritabilidade frequente e, muitas vezes, demorada.

Nos primeiros três meses de vida, o bebê é praticamente um feto fora do útero. Seu sistema nervoso é muito imaturo e os estímulos do meio externo são mais intensos e muito diferentes do que eram dentro da barriga da mãe.

Pense bem, o bebê assim que nasce passa a ser exposto a variações de luz, barulho, temperatura, posição, movimentos, tato, cheiros, umidade, etc. Para alguns bebês, as crises de choro são como uma válvula de escape para todo o estresse acumulado ao longo do dia.

Portanto, o que chamamos de cólicas do bebê não são necessariamente cólicas reais, ou seja, contrações dolorosas dos intestinos. Todo bebê que frequentemente chora de forma prolongada e se mostra muito irritadiço, sem que isso possa ser atribuído a qualquer doença, fome, sono ou fraldas sujas, podem ser considerados portadores de cólica.

Qualquer criança, tenha ela cólicas ou não, chora mais nos primeiros 3 ou 4 meses após o nascimento do que em qualquer outro momento da sua vida. Bebês choram sem motivo aparente. Isso é um fato. Porém, há bebês que parecem sofrer além da média. Há estudos que mostram que nos primeiros meses de vida, os bebês choram em média duas horas por dia. Conforme ficam mais maduros, esse tempo de choro vai se reduzindo progressivamente.

Não há uma definição exata que nos permita dizer que tal bebê tem cólicas e tal bebê não tem. Em geral, podemos dizer que um bebê sofre de cólicas quando ele chora mais de 3 horas por dia, mais de 3 vezes por semana, por mais de 3 semanas.

É lógico que ninguém precisa ficar marcando no relógio o tempo de choro do bebê ao longo do dia para fazer o diagnóstico de cólica. Esses números são só uma base de orientação para as mães saberem, mais ou menos, o que é normal e o que é exagerado.

Na verdade, apenas 30% dos bebês considerados portadores de cólicas pelas mães realmente apresentam quadros de choro acima da média. As mães parecem notar a ocorrência de cólicas com mais frequência no primeiro filho. Muito provavelmente isso ocorre porque as mães de primeira viagem não têm uma base de comparação e acabam achando que o seu bebê chora além do normal. Quando o segundo filho nasce, a tendência é elas estarem mais experientes e o choro já não lhes causa tanto estresse.

Mas a cólica do bebê é mais do que apenas choro excessivo sem causa aparente. Além do tempo prolongado de choro, a cólica pode ter as seguintes características:

  • Choro de início e término súbitos em um bebê aparentemente saudável fora das crises. As crises de choro geralmente ocorrem a partir do entardecer.
  • A mãe consegue reconhecer que o choro da cólica é diferente dos choros habituais relacionados à fome, sono ou outros desconfortos. O choro da cólica tende a ser mais agudo, às vezes, semelhante a gritos, como se o bebê estivesse em sofrimento.
  • O bebê nas crises torna-se inconsolável. Nada do que a mãe faz parece ser suficiente para acalmar o bebê.
  • O bebê com cólicas tende a contrair sua musculatura, como se realmente estivesse tendo uma cólica abdominal. Às vezes, o choro melhora após a eliminação de fezes ou gases. Daí a origem do termo cólica para esse tipo de choro sem causa aparente.

A hipótese do choro ser causado por uma cólica real é muito atrativa e parece justificar todos os sintomas do bebê. Porém, quando esses bebês são estudados, não se consegue apontar alterações inequívocas a nível gastrointestinal, seja em produção de hormônios, velocidade do trânsito intestinal ou intensidade das contrações do cólon, que possam sugerir a existência de uma cólica abdominal real.

Há que se destacar, porém, que alguns estudos apontam para uma maior produção de gases intestinais nos bebês que apresentam cólicas. É razoável pensar que alguns desses bebês realmente apresentem cólicas, mas isso não consegue ser provado em todos os casos.

Causas primeiros meses de vida

As cólicas dos bebês não parecem ser um problema de causa única. Na verdade, é possível que vários problemas diferentes se manifestem de forma semelhante, o que justifica a dificuldade dos médicos em determinar uma causa comum para a cólica de tantas crianças.

Dezenas de fatores já foram propostos como possíveis gatilhos para as cólicas. Nada, porém, é claramente comprovado. Entre os fatores que teoricamente podem desencadear crises, podemos citar:

  • Intolerância ao leite de vaca.
  • Intolerância ao sorbitol, açúcar presente em sucos de frutas.
  • Imaturidade do sistema gastrointestinal, que apresenta maior dificuldade em digerir carboidratos, o que leva a uma maior produção de gases por bactérias intestinais.
  • Diferenças na flora bacteriana intestinal. Bebês com menos lactobacillus e mais bactérias, como E.coli e Klebsiella, parecem ter uma maior incidência de cólicas.
  • Maior deglutição de ar durante a amamentação.
  • Mães que fumam tem maior risco de terem bebês com cólicas.
  • Refluxo gastroesofágico.
  • Ambiente familiar estressante.
  • Hiperestimulação do bebê ao longo do dia (com luzes, sons e atividades).
  • Temperamento pessoal do bebê.
  • Alimentação da mãe. Algumas comidas na dieta da materna podem incomodar os bebês que ainda fazem aleitamento materno.

O mais importante é ter certeza que as crises de choro não estão sendo provocadas por problemas de saúde, como assaduras, infecção urinária ou de ouvido, hérnias, fraturas não diagnosticas, asma, etc. Na verdade, até um fio de cabelo da mãe enroscado em um dos dedos do pé da criança podem provocar crises de choro.

Por definição, as cólicas ocorrem em bebês saudáveis. Se houver algum problema de saúde por trás causando o choro, isso não pode ser considerado cólica do bebê.

Como aliviar as cólicas no recém-nascido?

As cólicas costumam surgir a partir da segunda semana de vida e desaparecem espontaneamente até o 4º mês. Elas não têm nenhum significado clínico mais grave além do estresse que provocam nos pais.

O tratamento da cólica do bebê visa amenizar as crises de choro e impedir que o problema afete a relação conjugal e a própria relação dos pais com a criança. O primeiro ponto é entender que sentimentos de frustração, raiva, culpa, agressividade e exaustão são perfeitamente normais em pais de bebês com cólicas.

Como prevenir as crises de choro?

É importante reduzir a quantidade de estímulo que o bebê recebe ao longo dia, assim como evitar variações de temperatura, barulho e claridade. Um ambiente familiar calmo e saudável também faz diferença.

Se o bebê tem noites horríveis, procure rever que eventos ocorreram durante o dia, tipo visitas de família, passeios na rua, exposição a barulhos e músicas, exposição à televisão, etc. Tente reconhecer fatores super estimulantes que possam ter deixado o bebê estressado ao longo do dia, com necessidade de extravasar à noite.

As mães que amamentam devem fazer um diário tentando encontrar relação entre a dieta e as crises choro. Alimentos como chocolate, feijão, repolho, ovos, leite, couve-flor e outros, podem causar desconforto ao bebê. Às vezes, não é um alimento específico, mas sim uma alteração súbita da dieta. O importante é testar para ver se resulta.

Alguns pró-bióticos, como o Lactobacillus reuteri, parecem ajudar a prevenir as crises. Medicamentos para controlar os gases, como dimeticona (simeticona), são ineficazes. Às vezes, algumas gotinhas destes remédios ajudam a parar o choro por serem eles docinhos. Duas ou três gotas na chupeta costumam a ajudar. Mas isso tem um efeito apenas temporário, não servindo para prevenir as cólicas.

Alguns medicamentos homeopáticos utilizados para tratar cólicas dos bebês, além de não terem efeitos, podem piorar o quadro. Substâncias como colocynthis, Veratrum album ou strychnos nux-vomica podem ser tóxicas e já foram encontradas em alguns destes medicamentos.

Exceto pelo uso de pró-bióticos, que só deve ser administrado com autorização do pediatra, não indicamos nenhum outro tipo de medicamento para o bebê com cólicas. Nenhum possui comprovação científica de eficácia e muitos podem ser danosos ao bebê. Sedar o bebê, então, nem pensar.

Como acalmar o bebê durante uma crise de choro?

Algumas técnicas ajudam a interromper o choro incontrolável. Andar de carro, ligar um secador de cabelo ou aspirador de pó perto do bebê, massagens com hidratantes e oferecer o peito para mamar podem ajudar. É importante colocar o bebê para arrotar sempre que ele terminar de mamar. Mesmo que leve meia hora, evite deitar o bebê sem ele ter arrotado antes.

Oferecer a chupeta, mantê-lo colado ao seu corpo e niná-lo são técnicas que também ajudam. Não se preocupe em “mimar” o bebê. Nesta fase tão inicial da vida, isso não é um problema.

Cólica bebê
Conter o bebê pode acalmá-lo

Alguns bebês se sentem mais seguros se forem enrolados em mantas, de forma a prender os seus braços, evitando que o mesmos tenham movimentos involuntários. Há mantas feitas especialmente para “amarrar” o bebê de forma confortável, como na foto acima.

Se o choro não passar, é importante revezar os pais. Depois de vários minutos ouvindo choros e gritos, qualquer pessoa fica nervosa, o que dificulta o controle do bebê. Se você está no seu limite e não há ninguém para substituí-la, deixe o bebê o berço de forma segura e se afaste por alguns minutos para descansar a cabeça. Pais à beira de um ataque de nervos só agravam a situação.

Um pediatra americano, chamado Harvey Karp, ficou famoso nos últimos anos por ter lançado livros e DVDs que ensinam técnicas para acalmar o bebê que chora descontroladamente. O seu livro “O bebê mais feliz do pedaço” é um best-seller mundial e apresenta várias dicas de como acalmar os bebês.


Referências


Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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