Como parar de fumar (adesivos, chicletes, remédios e outras opções)

Parar de fumar envolve romper a dependência da nicotina, substância psicoativa presente no cigarro que atua no cérebro gerando sensação de prazer. Os sintomas da abstinência incluem irritabilidade, ansiedade e insônia, mas podem ser controlados com apoio médico, terapia comportamental e, em alguns casos, uso de medicamentos como adesivos ou gomas de nicotina.

Dr. Pedro Pinheiro
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Como parar de fumar

Tempo de leitura estimado do artigo: 8 minutos

Introdução

O tabagismo continua sendo uma das principais causas evitáveis de doenças, incapacidades e mortes em todo o mundo. Estima-se que mais de 8 milhões de pessoas morram anualmente em decorrência do uso de produtos derivados do tabaco, incluindo cerca de 480 mil mortes por ano nos Estados Unidos. No Brasil, os números também são expressivos, com milhares de óbitos atribuíveis ao cigarro a cada ano.

Esse risco elevado à saúde está associado a uma ampla variedade de doenças crônicas e letais. Os dados mais recentes indicam que o cigarro é diretamente responsável por:

  • 90% das mortes por câncer de pulmão;
  • 30% de todas as mortes por câncer, considerando todos os tipos;
  • 30% das mortes por doenças cardiovasculares, como infarto e AVC;
  • 80% dos casos de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), incluindo enfisema e bronquite crônica;
  • 1 em cada 2 mortes entre fumantes regulares.

Esses efeitos são causados principalmente pelas milhares de substâncias tóxicas geradas pela combustão do tabaco. Já a nicotina, embora não seja a principal responsável pelos danos diretos à saúde, é a substância que leva à dependência, tornando o hábito de fumar difícil de abandonar. O tabagismo é considerado um transtorno crônico e recidivante, mantido por mecanismos neurobiológicos e comportamentais que favorecem recaídas.

Este artigo apresenta uma síntese das estratégias mais eficazes para a cessação do tabagismo, com base em evidências científicas atualizadas. Discutiremos em linguagem acessível os métodos disponíveis, incluindo abordagens comportamentais e tratamentos farmacológicos, além das recomendações das principais diretrizes clínicas.

Por que é tão difícil parar de fumar?

Parar de fumar é uma decisão importante, mas sua execução costuma ser bastante difícil. Isso ocorre porque o tabagismo não é apenas um hábito: trata-se de uma dependência química crônica, comparável a outras formas de dependência de substâncias. A principal substância envolvida nesse processo é a nicotina, um composto presente no tabaco e responsável por alterações significativas no sistema nervoso central.

A nicotina atua no cérebro ativando receptores específicos que levam à liberação de dopamina, um neurotransmissor associado à sensação de prazer e recompensa. Esse efeito ocorre em poucos segundos após a inalação da fumaça do cigarro, o que contribui para o alto potencial de dependência do tabagismo. Além da dopamina, a exposição à fumaça também afeta outras vias neurológicas relacionadas ao humor, ao controle do apetite e à regulação do sono e da ansiedade.

Com o uso repetido, o organismo se adapta à presença constante da nicotina, desenvolvendo tolerância (necessidade de doses maiores para obter o mesmo efeito) e dependência física. Quando a pessoa tenta parar de fumar, a ausência da substância provoca a chamada síndrome de abstinência da nicotina, que pode incluir:

  • Irritabilidade, ansiedade e tristeza.
  • Dificuldade de concentração.
  • Insônia.
  • Aumento do apetite e ganho de peso.
  • Desejo intenso de fumar (craving).

Esses sintomas geralmente surgem nas primeiras 24 horas após a interrupção do cigarro, atingem seu pico em dois a três dias e diminuem progressivamente ao longo de duas a quatro semanas. No entanto, o desejo de fumar pode persistir por meses ou anos, sendo desencadeado por situações associadas ao uso do cigarro (como tomar café, conversar ao telefone, beber álcool ou estar sob estresse).

Além da dependência física, o tabagismo envolve fortes componentes comportamentais e sociais. Fumar é frequentemente incorporado à rotina como uma forma de lidar com emoções, aliviar o tédio ou interagir socialmente. Esses aspectos aprendidos e reforçados ao longo do tempo contribuem para a dificuldade em abandonar o cigarro, mesmo quando há motivação e consciência dos riscos.

Estudos indicam que a maioria dos fumantes precisa de várias tentativas até conseguir parar de fumar de forma definitiva. A recaída é comum e não deve ser encarada como fracasso, mas como parte do processo de cessação. A boa notícia é que existem tratamentos eficazes, capazes de reduzir os sintomas da abstinência, controlar os gatilhos comportamentais e aumentar significativamente as chances de sucesso.

Benefícios de parar de fumar

A interrupção do tabagismo traz benefícios comprovados para a saúde em todas as idades, mesmo após décadas de uso. Esses benefícios incluem tanto a redução do risco de desenvolver doenças quanto a melhora na evolução clínica de condições já estabelecidas.

De forma geral, quanto mais cedo a pessoa para de fumar, maior é o ganho em expectativa e qualidade de vida. No entanto, mesmo indivíduos idosos ou com doenças crônicas obtêm vantagens significativas ao abandonar o cigarro.

Benefícios sobre a mortalidade

Parar de fumar reduz substancialmente o risco de morte prematura. Estudos indicam que:

  • Quem para de fumar antes dos 40 anos reduz em cerca de 90% o risco de morrer por doenças relacionadas ao tabaco, em comparação com quem continua fumando.
  • Mesmo após os 60 anos, a cessação do tabagismo está associada à redução da mortalidade por causas cardiovasculares, respiratórias e neoplásicas.
  • Ex-fumantes vivem, em média, até 10 anos a mais do que fumantes que não abandonam o tabaco.

Benefícios para o coração e a circulação

O tabagismo é responsável por cerca de 30% das mortes por doenças cardiovasculares. Parar de fumar:

  • Reduz a tendência à formação de coágulos no sangue, diminuindo rapidamente o risco de infarto agudo do miocárdio e acidente vascular cerebral (AVC).
  • Melhora a circulação sanguínea, ajudando os vasos sanguíneos a funcionarem melhor, porque reduz o dano causado pelo cigarro à parede interna das artérias (camada chamada de endotélio).
  • Diminui a inflamação no corpo, um processo que, quando está cronicamente ativado, favorece o aparecimento de doenças.
  • Reduz o risco de arritmias, aneurismas e insuficiência cardíaca.
  • Contribui para o controle da pressão arterial, pois a interrupção do cigarro reduz os efeitos da nicotina sobre o sistema nervoso, melhora a flexibilidade das artérias e diminui a sobrecarga sobre o coração. Embora o efeito direto sobre os níveis da pressão arterial possa variar, o impacto global na redução do risco cardiovascular é significativo, especialmente em pessoas com hipertensão arterial.

Benefícios para os pulmões

O cigarro é a principal causa de DPOC (como bronquite crônica e enfisema) e está associado a diversos tipos de doenças pulmonares intersticiais e ao agravamento da asma.

Ao parar de fumar:

  • O declínio da função pulmonar desacelera.
  • Sintomas como tosse e produção de catarro tendem a melhorar nos primeiros 12 meses.
  • O risco de exacerbações e hospitalizações por DPOC diminui progressivamente.
  • A resposta ao tratamento de doenças respiratórias crônicas é potencializada.

Redução do risco de câncer

A cessação do tabagismo reduz o risco de pelo menos 12 tipos de câncer, incluindo:

Após 10 a 15 anos sem fumar, o risco de câncer de pulmão pode cair pela metade. Além disso, em pessoas que já tiveram câncer, parar de fumar:

  • Reduz o risco de recidiva e de desenvolvimento de novos tumores relacionados ao tabaco.
  • Melhora a resposta ao tratamento oncológico.
  • Aumenta a sobrevida global.

Outros benefícios importantes

  • Melhora da fertilidade e menor risco de disfunção erétil em homens.
  • Redução de complicações na gravidez e melhora dos desfechos fetais.
  • Diminuição do risco de fraturas ósseas e recuperação da densidade mineral óssea.
  • Redução da incidência de diabetes tipo 2 a longo prazo.
  • Menor risco de catarata e degeneração macular relacionada à idade.
  • Diminuição de infecções respiratórias e gastrointestinais.
  • Melhora na cicatrização pós-operatória e menor risco de complicações cirúrgicas.
  • Redução do risco de doença periodontal e perda dentária.

Para saber mais sobre as doenças provocadas pelo tabaco, leia: Doenças provocadas pelo cigarro.

Como é feito o tratamento para parar de fumar

Parar de fumar é possível, mesmo para pessoas que fumam há muitos anos ou que já tentaram várias vezes sem sucesso. O tratamento é mais eficaz quando é estruturado e baseado em abordagens científicas comprovadas. Atualmente, as evidências mostram que a melhor maneira de parar de fumar é com a combinação de apoio comportamental e tratamento medicamentoso.

Essa abordagem é recomendada por instituições de referência, como a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).

O que significa tratamento combinado?

O tratamento para parar de fumar atua em dois aspectos principais da dependência:

  • A parte física, causada pela nicotina, uma substância presente no tabaco que provoca dependência química.
  • A parte comportamental, relacionada aos hábitos, rotinas e emoções associadas ao ato de fumar. Ataca o “hábito de fumar”.

Por isso, o tratamento eficaz costuma incluir:

  1. Intervenções comportamentais: são estratégias de orientação, aconselhamento ou terapia que ajudam a pessoa a entender seus gatilhos (situações que despertam a vontade de fumar), lidar com a abstinência e evitar recaídas. Esse apoio pode ser oferecido individualmente, em grupo, por telefone, mensagens de texto, aplicativos ou internet.
  2. Medicamentos para cessação do tabagismo: ajudam a controlar os sintomas da abstinência da nicotina, como irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, insônia e desejo intenso de fumar. Existem diferentes opções seguras e aprovadas, que serão detalhadas em seções específicas adiante.

Estudos mostram que o uso de medicamentos junto com o apoio comportamental praticamente triplica as chances de parar de fumar com sucesso em comparação com quem tenta sozinho ou sem tratamento adequado.

O tratamento é igual para todas as pessoas?

Não. O tratamento deve ser adaptado às características de cada pessoa, levando em conta:

  • Quantidade de cigarros fumados por dia.
  • Grau de dependência da nicotina (por exemplo, se fuma logo ao acordar).
  • Histórico de tentativas anteriores.
  • Presença de doenças associadas (como depressão, DPOC, doenças cardíacas).
  • Gravidez ou amamentação.
  • Preferências pessoais e disponibilidade de recursos.

Para pessoas que não estão prontas para parar de fumar imediatamente, é possível iniciar o tratamento com foco na redução gradual do consumo, o que pode ajudar a preparar o terreno para a cessação definitiva. Em alguns casos, inclusive, os medicamentos podem ser iniciados mesmo que a pessoa ainda esteja fumando, como parte da chamada estratégia de “redução para cessação”.

Parar de fumar é uma decisão, mas o sucesso aumenta com tratamento

É comum que fumantes façam várias tentativas antes de conseguirem parar definitivamente. Por isso, os especialistas consideram o tabagismo uma doença crônica e recidivante, semelhante ao que ocorre com a hipertensão ou o diabetes. Isso significa que recaídas podem acontecer, mas com acompanhamento adequado, elas não devem ser vistas como fracasso, e sim como parte do processo.

O tratamento deve ser oferecido mesmo que a pessoa não se sinta totalmente pronta para parar naquele momento. Há estratégias que ajudam a aumentar a motivação ao longo do tempo, como o aconselhamento breve feito por profissionais de saúde durante consultas de rotina.

Tratamentos comportamentais para parar de fumar

Os tratamentos comportamentais ajudam a pessoa a identificar e modificar os hábitos e gatilhos associados ao ato de fumar. São intervenções estruturadas que atuam no aspecto psicológico da dependência, complementando o uso de medicamentos e aumentando as chances de sucesso.

Essas estratégias podem ser oferecidas de várias formas:

  • Aconselhamento individual ou em grupo, presencial ou por telefone.
  • Mensagens de texto e aplicativos, com orientações e reforços diários.
  • Programas online ou plataformas interativas de cessação.

Uma das abordagens mais utilizadas é a terapia cognitivo-comportamental (TCC), que ajuda a:

  • Reconhecer situações que despertam a vontade de fumar.
  • Desenvolver estratégias para lidar com o estresse, a ansiedade ou o tédio sem recorrer ao cigarro.
  • Prevenir recaídas por meio do planejamento e do reforço da motivação.

Mesmo intervenções breves, com apenas alguns minutos durante uma consulta, já demonstraram eficácia. No entanto, intervenções com mais sessões e maior tempo de acompanhamento apresentam melhores resultados.

Quem pode oferecer tratamento comportamental?

O apoio comportamental pode ser conduzido por diferentes profissionais de saúde, desde que treinados para esse fim. Entre eles:

  • Psicólogos — indicados para oferecer terapias mais estruturadas, como a terapia cognitivo-comportamental.
  • Médicos e enfermeiros — podem realizar intervenções breves durante consultas e orientar o paciente para outras formas de apoio.
  • Outros profissionais capacitados, como farmacêuticos, assistentes sociais ou terapeutas, podem atuar em programas de saúde pública.
  • Serviços especializados, como linhas telefônicas e plataformas digitais, também oferecem acompanhamento com base em evidências.

A escolha do profissional depende da disponibilidade local, da complexidade do caso e das preferências da pessoa que deseja parar de fumar.

Remédios para parar de fumar

Os medicamentos para parar de fumar atuam principalmente no alívio dos sintomas da abstinência da nicotina, como irritabilidade, ansiedade, dificuldade de concentração, insônia e desejo intenso de fumar. Esses sintomas aparecem porque o organismo se adapta à presença constante da nicotina e reage quando ela é retirada.

Atualmente, três tipos de medicamentos são considerados tratamentos de primeira linha para a cessação do tabagismo:

  1. Terapias de reposição de nicotina (TRN).
  2. Vareniclina.
  3. Bupropiona.

Essas medicações são seguras, eficazes e reconhecidas por agências reguladoras internacionais. Elas podem ser utilizadas isoladamente ou combinadas, dependendo do grau de dependência, da resposta ao tratamento e da preferência do paciente.

1. Terapias de reposição de nicotina (TRN)

As TRN fornecem nicotina em doses controladas, sem as substâncias tóxicas da fumaça do cigarro. O objetivo é reduzir os sintomas de abstinência enquanto a pessoa aprende a viver sem fumar.

Existem várias formas disponíveis:

  • Adesivo transdérmico (patch): libera nicotina lentamente ao longo do dia, ajudando a manter níveis constantes no sangue.
  • Goma de mascar, pastilha (lozenge), inalador e spray nasal: agem mais rapidamente e são usados quando surgem vontades súbitas de fumar.

Essas formas podem ser usadas de forma combinada: por exemplo, o adesivo fornece nicotina de forma contínua, enquanto a goma ou pastilha é usada conforme necessário para controlar crises de abstinência.

Vantagens:

  • Aumentam significativamente as taxas de sucesso.
  • Estão disponíveis sem receita médica em muitas regiões.
  • São seguras mesmo em uso prolongado (muito mais seguras que continuar fumando).

2. Vareniclina

A vareniclina é um medicamento que age nos mesmos receptores cerebrais ativados pela nicotina.

Esses receptores fazem parte de um sistema natural do corpo que utiliza a acetilcolina, uma substância envolvida na regulação do humor, atenção, aprendizado e outras funções. A nicotina imita essa substância e se liga aos receptores nicotínicos α4β2, provocando a liberação de dopamina, um neurotransmissor associado ao prazer e à recompensa.

É essa liberação repetida de dopamina — especialmente no chamado “sistema de recompensa” do cérebro — que reforça o comportamento de fumar, levando à dependência.

A vareniclina atua justamente nesses receptores (α4β2), sendo um agonista parcial. Isso significa que ela estimula moderadamente o receptor (aliviando os sintomas da abstinência), mas bloqueia a nicotina se a pessoa fumar, reduzindo a sensação de prazer associada ao cigarro.

Em resumo, a vareniclina reduz os sintomas da abstinência e, ao mesmo tempo, diminui o prazer sentido ao fumar, caso a pessoa recaia durante o tratamento.

A vareniclina é considerada um dos medicamentos mais eficazes para a cessação do tabagismo. Estudos mostram que ela tem maior taxa de sucesso do que a bupropiona ou a TRN isoladamente.

Possíveis efeitos colaterais da vareniclina:

  • Náuseas;
  • Distúrbios do sono (como sonhos vívidos ou insônia).

Esses efeitos costumam ser leves e podem ser reduzidos ajustando-se a dose ou os horários da medicação. A vareniclina pode ser iniciada uma ou duas semanas antes da data escolhida para parar de fumar.

3. Bupropiona

A bupropiona é um medicamento originalmente desenvolvido como antidepressivo, mas que também se mostrou eficaz no tratamento da dependência da nicotina.

Diferente da vareniclina, a bupropiona não atua diretamente nos receptores nicotínicos, mas sim em outros sistemas cerebrais relacionados ao prazer e à motivação. Seu principal mecanismo de ação é o bloqueio da recaptação de dopamina e noradrenalina, dois neurotransmissores envolvidos na regulação do humor, da atenção e do comportamento.

Ao inibir a recaptação dessas substâncias, a bupropiona aumenta a disponibilidade de dopamina no cérebro, especialmente em áreas como o núcleo accumbens — o mesmo “sistema de recompensa” ativado pela nicotina. Isso ajuda a reduzir os sintomas da abstinência, como irritabilidade, ansiedade, desânimo e dificuldade de concentração.

Além disso, por modular os circuitos relacionados ao apetite e ao humor, a bupropiona pode:

  • Reduzir o risco de ganho de peso após parar de fumar.
  • Ser útil em pessoas com histórico de depressão ou sintomas depressivos durante a abstinência.

No entanto, a bupropiona não é indicada para pessoas com histórico de convulsões ou transtornos alimentares, como bulimia ou anorexia, devido ao risco aumentado de crises convulsivas nesses grupos.

Em resumo, a bupropiona ajuda a controlar os sintomas da abstinência ao atuar nos sistemas de dopamina e noradrenalina, sendo especialmente útil em pessoas com perfil depressivo ou preocupadas com o ganho de peso.

Falamos especificamente da bupropiona no artigo: Cloridrato de bupropiona (Bula simplificada).

Estratégias combinadas e tratamento individualizado

Em muitos casos, o melhor resultado é obtido com a combinação de medicamentos, como:

  • Vareniclina + adesivo de nicotina.
  • Bupropiona + TRN.

A escolha da medicação ideal deve considerar:

  • A preferência da pessoa.
  • O histórico de tentativas anteriores.
  • A presença de outras doenças (como depressão ou doenças cardiovasculares).
  • A tolerância a possíveis efeitos colaterais.

O tratamento medicamentoso costuma durar pelo menos 3 meses, podendo ser estendido por mais tempo, se necessário. Em pessoas com alto risco de recaída, o uso prolongado pode ser benéfico e seguro.

O que funciona melhor: remédio, terapia ou os dois?

Diversos estudos científicos demonstram que a combinação de medicamentos com apoio comportamental é a estratégia mais eficaz para parar de fumar. Essa abordagem integrada atua nos dois pilares da dependência: a física, relacionada à nicotina, e a comportamental, relacionada aos hábitos e gatilhos que mantêm o uso do cigarro.

Evidências científicas

Uma revisão de 52 estudos com mais de 19 mil participantes mostrou que:

  • Pessoas que receberam apenas aconselhamento breve ou cuidados habituais apresentaram uma taxa de cessação de cerca de 9% após seis meses.
  • Já aquelas que receberam medicação combinada com apoio comportamental tiveram uma taxa de cessação de 15% a 20%, o que representa quase o dobro de sucesso.

Outro ponto importante é que quanto maior a intensidade do tratamento comportamental, maior tende a ser a taxa de sucesso. Da mesma forma, o uso de medicamentos mais eficazes ou combinados, como vareniclina com reposição de nicotina, também melhora os resultados.

E se só for possível usar uma das opções?

Tanto o uso isolado de medicamentos quanto o uso isolado de intervenções comportamentais são melhores do que não fazer nenhum tratamento. Ou seja, mesmo que a pessoa não tenha acesso imediato à combinação dos dois métodos, vale a pena começar com o que estiver disponível e buscar ampliar o suporte ao longo do tempo.

É possível parar de fumar sozinho?

Sim, algumas pessoas conseguem parar de fumar por conta própria, sem usar medicamentos ou participar de programas de apoio. No entanto, as evidências mostram que essa abordagem tem baixa taxa de sucesso quando comparada aos tratamentos baseados em evidências.

Estudos indicam que, entre os fumantes que tentam parar sem ajuda:

  • Cerca de 4% a 7% conseguem manter-se sem fumar por pelo menos 6 a 12 meses.
  • A maioria volta a fumar nas primeiras semanas, principalmente por causa dos sintomas da abstinência e da dificuldade de lidar com os gatilhos do dia a dia.

Em contrapartida, as taxas de sucesso dobram ou até triplicam quando a pessoa utiliza medicamentos, participa de acompanhamento profissional ou combina ambas as estratégias.

O que não funciona ou ainda não é recomendado

Embora existam muitas abordagens populares para parar de fumar, nem todas têm comprovação científica de eficácia. Algumas estratégias são amplamente divulgadas, mas carecem de estudos adequados ou ainda não demonstraram benefícios consistentes quando comparadas aos tratamentos reconhecidos.

Cigarros eletrônicos (vapes)

O uso de cigarros eletrônicos como ferramenta para parar de fumar ainda é controverso. Embora alguns estudos sugiram que certos modelos possam ajudar na cessação do tabagismo em contextos específicos, não há consenso entre especialistas nem aprovação formal da maioria das autoridades de saúde para esse fim.

  • A Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF) concluiu que as evidências atuais sobre a eficácia e a segurança dos cigarros eletrônicos para cessação são insuficientes para fazer uma recomendação favorável.
  • Muitos produtos contêm níveis variáveis de nicotina e outras substâncias tóxicas. Além disso, o risco a longo prazo ainda é desconhecido.
  • O uso de vapes pode manter a dependência da nicotina e, em alguns casos, levar ao uso duplo (cigarro tradicional + eletrônico), o que não traz benefício à saúde.

Por esses motivos, os cigarros eletrônicos não são considerados tratamento de primeira linha e não substituem as terapias reconhecidas, como medicamentos aprovados e apoio comportamental.

Falamos do cigarro eletrônico em um artigo à parte: Cigarro eletrônico faz mal (vape e pod)?

Terapias alternativas

Métodos como acupuntura, hipnose, ervas, suplementos “naturais” ou homeopatia são, por vezes, utilizados com a intenção de ajudar na cessação. No entanto:

  • Faltam estudos clínicos de qualidade que comprovem sua eficácia.
  • Em geral, essas abordagens não se mostraram superiores ao placebo.
  • Podem adiar o início de tratamentos eficazes se forem usados como única estratégia.

Embora algumas pessoas relatem benefícios subjetivos com essas práticas, elas não devem substituir os tratamentos validados por evidências científicas.

Dietas restritivas e jejum para “desintoxicação”

Propostas que associam dietas radicais, jejuns ou restrições alimentares ao abandono do cigarro não têm respaldo científico. Além disso, podem trazer riscos à saúde, especialmente se realizadas sem acompanhamento profissional.

Mitos e verdades sobre parar de fumar

  1. Parar de fumar engorda?

    Muitas pessoas ganham peso ao parar de fumar, geralmente entre 2 e 5 kg nos primeiros meses. Isso ocorre por mudanças no metabolismo e aumento do apetite, além da substituição do cigarro por alimentos. No entanto, esse ganho costuma ser modesto e pode ser controlado com orientação nutricional e atividade física. O benefício de parar de fumar para a saúde supera amplamente o impacto de um eventual ganho de peso.

  2. Já fumo há décadas. Ainda vale a pena parar?

    Parar de fumar em qualquer idade traz benefícios. Mesmo pessoas com mais de 60 ou 70 anos apresentam redução no risco de infarto, AVC, câncer e morte prematura. Além disso, há melhora na função pulmonar, na circulação e na qualidade de vida, mesmo após anos de tabagismo.

  3. Parar de fumar de uma vez faz mal?

    Não há evidência de que parar de forma abrupta (também chamada de “cessação imediata”) cause qualquer mal à saúde. Pelo contrário, parar de fumar completamente, o quanto antes, é o mais recomendado. Algumas pessoas preferem reduzir aos poucos, o que também pode funcionar, desde que com acompanhamento adequado.

  4. Só consigo parar de fumar se tiver “força de vontade”?

    A dependência de nicotina é uma condição médica, não uma questão de fraqueza de caráter. Embora a motivação pessoal seja importante, parar de fumar é mais difícil sem ajuda. O uso de medicamentos e apoio profissional aumenta muito as chances de sucesso, mesmo em pessoas que se sentem pouco confiantes.

  5. Já tentei parar de fumar antes e voltei. Isso significa que não vou conseguir?

    A recaída faz parte do processo de parar de fumar para muitas pessoas. Em média, um fumante faz várias tentativas antes de conseguir parar definitivamente. O importante é persistir e buscar apoio. Cada tentativa oferece aprendizado e aumenta as chances de sucesso na próxima.

  6. Os cigarros eletrônicos são uma boa forma de parar de fumar?

    Alguns estudos sugerem que certos tipos de cigarros eletrônicos podem ajudar em contextos específicos, mas as evidências ainda são limitadas. Além disso, esses dispositivos podem manter a dependência da nicotina. Por isso, as diretrizes atuais não recomendam seu uso como primeira escolha para parar de fumar.

  7. Quais médicos fazem o tratamento para parar de fumar?

    Vários médicos podem tratar o tabagismo, dependendo do perfil do paciente e do contexto clínico:

    Clínico geral / Médico de família: é quem mais inicia o tratamento, oferecendo orientação, prescrição e acompanhamento básico.
    Pneumologista: indicado quando há doenças pulmonares associadas, como DPOC ou asma.
    Cardiologista: atua em pacientes com infarto, AVC ou outras doenças cardiovasculares agravadas pelo cigarro.
    Psiquiatra: importante em casos com transtornos mentais, alto grau de dependência ou uso da bupropiona.
    Ginecologista/obstetra: realiza o acompanhamento de gestantes fumantes.

    Além dos médicos, outros profissionais da saúde também podem participar do cuidado, como psicólogos e enfermeiros.


Referências


Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.


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