O que é lipedema?
O lipedema é uma condição crônica caracterizada pelo acúmulo anormal e simétrico de gordura subcutânea, especialmente nos membros inferiores e, em alguns casos, nos braços. Esse acúmulo de gordura é acompanhado de dor, sensação de peso e tendência a hematomas, sendo frequentemente confundido com obesidade ou linfedema.
Descrita pela primeira vez em 1940 pelos médicos norte-americanos Edgar Allen e Edgar Hines, a condição passou por décadas de desconhecimento, levando muitas mulheres a serem diagnosticadas incorretamente. Somente em 2019, o lipedema foi oficialmente incluído na Classificação Internacional de Doenças (CID-11) como uma entidade clínica distinta, sinalizando um avanço importante para seu reconhecimento e estudo.
Apesar do oficial reconhecimento como doença, o lipedema ainda continua sendo subdiagnosticado, especialmente porque seus sintomas iniciais podem ser sutis e facilmente atribuídos a excesso de peso ou má circulação. Estudos indicam que sua prevalência pode atingir até 11% das mulheres, embora esse número possa ser maior, considerando a subnotificação e o desconhecimento da condição por parte de profissionais de saúde.
A importância do tema vai além da estética corporal. O lipedema impacta significativamente a qualidade de vida das pacientes, causando dor crônica, limitações funcionais, sofrimento emocional e problemas psicossociais. Além disso, sem tratamento adequado, a condição pode evoluir para estágios mais graves e até desencadear linfedema secundário, conhecido como lipo-linfedema.
Causas do lipedema
Embora o lipedema seja conhecido como uma condição clínica desde a década de 1940, suas causas ainda não são completamente compreendidas. No entanto, diversos estudos indicam que o desenvolvimento do lipedema está relacionado a uma combinação de fatores genéticos, hormonais e alterações no funcionamento do tecido adiposo e do sistema vascular.
Predisposição genética
O lipedema é uma condição que tende a ocorrer com mais frequência em pessoas que têm familiares próximos também afetados, o que indica que pode haver uma predisposição genética. Isso significa que os genes — que são como “instruções” que herdamos de nossos pais — podem influenciar no aparecimento da doença.
Estima-se que cerca de 6 em cada 10 mulheres com lipedema tenham alguma parente de primeiro grau (como mãe, irmã ou avó) com sintomas semelhantes, o que sugere um padrão de herança chamado “autossômico dominante”. Nesse tipo de herança, basta que a pessoa receba um gene alterado de um dos pais para ter risco de desenvolver a condição. No entanto, nem todas as pessoas que herdam esse gene necessariamente manifestam a doença, o que chamamos de “penetrância variável” (leitura sugerida: Introdução à genética: conceitos básicos).
Em casos raros, o lipedema pode estar associado a síndromes genéticas mais complexas, como a síndrome de Sotos — uma condição rara que afeta o crescimento e o desenvolvimento. No entanto, na maioria das vezes, o lipedema surge de forma isolada, sem estar ligado a outras doenças genéticas conhecidas.
Pesquisas científicas recentes têm tentado identificar quais genes específicos estariam envolvidos no surgimento do lipedema. Alguns genes que vêm sendo estudados — como o VEGFA, GRB14-COBLL1, LHFPL6 e IL-6 — parecem estar ligados a processos do corpo como inflamação crônica, crescimento anormal das células de gordura e problemas no funcionamento do sistema linfático. Esses fatores podem contribuir para o acúmulo de gordura e o inchaço característicos da doença.
Alterações hormonais
O lipedema afeta quase exclusivamente mulheres e costuma aparecer em fases da vida marcadas por grandes mudanças hormonais, como a puberdade, a gravidez e a menopausa. Isso sugere que os hormônios femininos, especialmente o estrogênio, têm um papel importante no desenvolvimento da doença.
O estrogênio é um hormônio que, entre outras funções, influencia como a gordura é distribuída pelo corpo. Ele costuma direcionar o acúmulo de gordura para regiões como quadris, coxas e nádegas — justamente as áreas mais afetadas pelo lipedema. Quando há algum desequilíbrio na forma como o corpo responde ao estrogênio, esse processo pode se tornar exagerado e contribuir para o acúmulo anormal de gordura.
Pesquisas indicam que, em pessoas com lipedema, pode haver alterações nos “receptores de estrogênio” — estruturas presentes nas células que recebem os sinais do hormônio. Essas mudanças nos receptores podem fazer com que as células de gordura cresçam mais, se multipliquem em excesso, retenham mais glicose e ácidos graxos, e queimem menos gordura. Além disso, podem favorecer a formação de vasos sanguíneos frágeis e propensos a vazamentos, aumentando a retenção de líquidos e a inflamação nos tecidos.
Essas alterações criam um ambiente no corpo que favorece o acúmulo de gordura de forma desproporcional, especialmente nas pernas e quadris, contribuindo para os sintomas do lipedema.
Mesmo em fases naturais de queda do estrogênio, como a menopausa, muitas mulheres notam piora da condição, o que reforça a ideia de que esse hormônio influencia diretamente o curso da doença. Já nos poucos casos descritos em homens, normalmente há desequilíbrios hormonais importantes, como baixa testosterona ou aumento anormal de estrogênio.
Disfunção do tecido adiposo
No lipedema, a gordura que se acumula não é igual à gordura comum do sobrepeso. Trata-se de um tipo de gordura diferente, que funciona de forma alterada e é por isso chamada de “gordura doente” ou disfuncional. Essa gordura tem uma característica marcante: ela é muito resistente a dietas e exercícios físicos. Mesmo que a pessoa emagreça na parte de cima do corpo, essa gordura localizada — geralmente em pernas, quadris e braços — tende a permanecer.
Esse tecido de gordura apresenta dois principais problemas:
- Aumento do tamanho das células de gordura (hipertrofia) – as células adiposas ficam maiores do que o normal.
- Aumento do número de células de gordura (hiperplasia) – em algumas pacientes, há também multiplicação exagerada dessas células.
Além disso, essa gordura está constantemente inflamada, de forma leve, mas contínua. Essa inflamação pode causar dor, inchaço, sensibilidade ao toque e mudança na textura da pele.
Outro achado importante é a presença de fibrose intersticial, que é o endurecimento do tecido devido ao excesso de colágeno e outras substâncias da matriz extracelular. Essa fibrose deixa o tecido mais rígido e pode dificultar a drenagem de líquidos, além de atrapalhar a circulação e intensificar a dor. É justamente essa rigidez que faz com que a pele e o tecido subcutâneo pareçam mais densos e irregulares ao toque, formando os chamados “nódulos de gordura” típicos do lipedema.
Esses nódulos podem ser sentidos na palpação como pequenos grãos sob a pele, muitas vezes comparados a grãos de arroz ou ervilhas. Eles são dolorosos ao toque e fazem parte dos critérios clínicos usados no diagnóstico da doença.
A disfunção do tecido adiposo também parece afetar o funcionamento dos pequenos vasos linfáticos e sanguíneos que atravessam essa gordura. A fragilidade capilar e o aumento da permeabilidade dos vasos facilitam a formação de hematomas espontâneos e a sensação de peso nas pernas, comuns nas pacientes com lipedema.
Por fim, como esse tecido está inflamado e sob estresse, ele pode liberar substâncias que reforçam ainda mais o ciclo de inflamação, como radicais livres e citocinas inflamatórias. Isso cria um ambiente propício para o agravamento da condição ao longo do tempo, caso não seja adequadamente tratada.
Disfunções microvasculares
Além das alterações no tecido adiposo, o lipedema também está associado a problemas nos pequenos vasos sanguíneos e linfáticos — o que chamamos de microvasculatura. Esses vasos, responsáveis por transportar nutrientes e drenar líquidos dos tecidos, apresentam mau funcionamento em muitas pacientes. Um dos sinais mais comuns é a fragilidade capilar: os vasos se rompem facilmente, levando à formação de equimoses espontâneas (manchas roxas na pele) ou após pequenos traumas.
Outro problema é o aumento da permeabilidade dos capilares, que permite que líquidos e proteínas escapem para o espaço entre as células, favorecendo o surgimento de edema (inchaço). Embora o lipedema não seja, por definição, uma condição edematosa, esse inchaço pode surgir de forma secundária, principalmente nos estágios mais avançados. Com o tempo, o excesso de fluido pode sobrecarregar o sistema linfático, contribuindo para a evolução da doença para um quadro chamado lipo-linfedema.
Estudos com exames de imagem, como a linfocintilografia, mostram que algumas pacientes com lipedema apresentam vasos linfáticos dilatados ou lentos, indicando que mesmo nos estágios iniciais pode haver uma sobrecarga nesse sistema. Além disso, há indícios de angiogênese desregulada — ou seja, formação de novos vasos frágeis e disfuncionais — que alimenta a inflamação e a progressão do quadro.
Por fim, vale destacar que o nome “lipedema” pode gerar confusão, já que “edema” sugere inchaço. No entanto, o inchaço, quando existe, costuma ser leve, aparece ao longo do dia e não é o principal critério para o diagnóstico. As alterações microvasculares, porém, ajudam a explicar vários sintomas da doença, como dor, sensação de peso nas pernas e a tendência a equimoses — reforçando a importância de reconhecer o lipedema como uma condição complexa que vai além do acúmulo de gordura.
Fatores de risco do lipedema
Diversos fatores aumentam a chance de uma pessoa desenvolver lipedema. Os principais são:
Sexo feminino
O lipedema afeta quase exclusivamente mulheres, especialmente durante a fase reprodutiva. A condição é raríssima em homens, e quando ocorre, costuma estar associada a alterações hormonais, como níveis baixos de testosterona ou excesso de estrogênio.
Alterações hormonais
O início ou a piora dos sintomas costuma ocorrer em momentos de variações hormonais significativas, como:
- Puberdade.
- Gravidez.
- Menopausa.
- Uso de anticoncepcionais hormonais ou terapias de reposição hormonal
Histórico familiar positivo
Cerca de 60% das mulheres com lipedema relatam ter uma mãe, irmã ou avó com sintomas semelhantes.
Obesidade como fator agravante
Embora a obesidade não cause o lipedema, ela pode acelerar sua progressão e intensificar os sintomas. O ganho de peso tende a sobrecarregar o sistema linfático, aumentar a inflamação e dificultar o diagnóstico, especialmente nos estágios mais avançados.
Sintomas do lipedema
O lipedema se manifesta principalmente pelo acúmulo desproporcional de gordura nas pernas e, em alguns casos, também nos braços. Esse acúmulo é simétrico — ou seja, afeta os dois lados do corpo de forma igual — e costuma poupar as mãos e os pés, o que ajuda a diferenciar a doença de outras condições como o linfedema ou a obesidade.

Os principais sintomas incluem:
- Aumento de volume nos membros inferiores e/ou superiores, com gordura que parece “dura” ou irregular ao toque;
- Dor espontânea ou ao toque, mesmo leve, nas áreas afetadas;
- Sensação de peso ou tensão nas pernas, especialmente ao final do dia;
- Facilidade para formar equimoses (manchas roxas), mesmo com traumas leves;
- Nódulos subcutâneos, percebidos como “caroços” pequenos sob a pele, semelhantes a grãos de arroz ou bolinhas de borracha;
- Edema (inchaço) variável, geralmente piorando com longos períodos em pé, mas que melhora com o repouso.
Além disso, muitas pacientes relatam fadiga nas pernas, dificuldade para emagrecer nas áreas afetadas e alterações na autoestima, principalmente pela assimetria corporal e pela dor crônica que limita a rotina.
Diferenças entre lipedema, obesidade e linfedema
Distinguir o lipedema de outras condições é essencial para um diagnóstico correto:
Característica | Lipedema | Obesidade | Linfedema |
---|---|---|---|
Localização da gordura: | Coxas, pernas, quadris, às vezes braços (simétrica). | Geral, incluindo tronco e abdômen. | Pode ser unilateral, geralmente inicia nos pés. |
Mãos e pés: | Não afetados. | Afetados. A gordura é distribuída de forma geral. | Frequentemente afetados. |
Dor: | Comum. | Incomum. | Incomum, exceto em casos avançados. |
Manchas roxas: | Frequentes. | Incomuns. | Incomuns. |
Edema: | Pode ocorrer, melhora com repouso. | Pode haver, especialmente com obesidade grave. | Fixo e progressivo, com pele espessada. |
Classificação e estadiamento
O lipedema é classificado por estágios clínicos, que indicam a progressão da doença, e por tipos de distribuição, que descrevem onde a gordura se acumula:
Estágios:
- Estágio 1: pele lisa com tecido subcutâneo amolecido e presença de pequenos nódulos; pode haver dor e hematomas.
- Estágio 2: pele com aspecto irregular (casca de laranja), nódulos maiores e possíveis áreas de fibrose.
- Estágio 3: grandes acúmulos de gordura que podem causar deformidade, dificuldade para caminhar e dobras de pele.
- Estágio 4: lipedema com linfedema associado (lipo-linfedema), com edema persistente e comprometimento do sistema linfático.

Tipos de distribuição:
- Tipo I: acúmulo de gordura em quadris e nádegas.
- Tipo II: acúmulo de gordura da pelve até os joelhos.
- Tipo III: acúmulo de gordura da pelve até os tornozelos.
- Tipo IV: acúmulo de gordura envolve também os braços.
- Tipo V: acúmulo de gordura restrito à região entre joelhos e tornozelos.

Como é feito o diagnóstico?
O diagnóstico do lipedema é clínico, ou seja, é feito com base na conversa com a paciente e no exame físico realizado por um profissional de saúde experiente — geralmente um médico angiologista, cirurgião vascular ou dermatologista. Como a doença ainda é pouco conhecida por muitos profissionais, é comum haver atrasos no diagnóstico, com pacientes passando anos sendo tratadas como obesas ou com retenção de líquidos sem sucesso.
O que o médico avalia?
Durante a consulta, o profissional irá observar:
- A distribuição da gordura (se é simétrica, se poupa mãos e pés);
- A presença de dor ou sensibilidade ao toque;
- A facilidade para formação de equimoses;
- A presença de nódulos sob a pele (palpáveis);
- A história familiar e o momento de surgimento dos sintomas (puberdade, gravidez, menopausa);
- A resistência da gordura ao emagrecimento.
Um teste simples que costuma ser realizado é o Sinal de Stemmer, que ajuda a diferenciar o lipedema do linfedema: no lipedema, a pele entre os dedos do pé pode ser pinçada normalmente (sinal negativo), enquanto no linfedema isso é difícil ou impossível (sinal positivo).
Exames complementares
Embora não exista um exame laboratorial ou de imagem que confirme o diagnóstico de lipedema, alguns testes podem ser úteis para excluir outras condições ou avaliar a gravidade do quadro:
- Ultrassonografia de alta resolução: permite avaliar a espessura da gordura subcutânea e detectar alterações no tecido, como fibrose.
- Densitometria corporal (DXA): mede a distribuição da gordura no corpo e ajuda a identificar desproporções típicas do lipedema.
- Linfocintilografia ou ressonância magnética linfática: são indicadas quando há suspeita de linfedema associado (lipo-linfedema).
Em geral, esses exames não são obrigatórios para o diagnóstico, mas podem ser úteis em casos duvidosos ou para planejamento terapêutico.
Tratamento do lipedema
Embora o lipedema ainda não tenha cura definitiva, existem diversas estratégias terapêuticas que ajudam a controlar os sintomas, melhorar a mobilidade e preservar a qualidade de vida. O tratamento pode ser conservador ou cirúrgico, dependendo do estágio da doença e da resposta individual da paciente.
Tratamento clínico (sem cirurgia)
Estas são as primeiras estratégias indicadas e costumam ser eficazes, especialmente nos estágios iniciais:
- Atividade física leve a moderada, como hidroginástica, caminhada e bicicleta, que ajudam a reduzir a inflamação, melhorar o retorno venoso e manter a mobilidade.
- Meias ou roupas compressivas, sob medida, que reduzem o desconforto, a dor e o inchaço.
- Drenagem linfática manual, que estimula o fluxo linfático, aliviando a sensação de peso e dor, mesmo nos casos sem linfedema associado.
- Dieta anti-inflamatória, baseada na redução de carboidratos refinados e alimentos ultraprocessados, para controlar a inflamação do tecido adiposo e prevenir pioras.
- Acompanhamento psicológico, já que muitas pacientes enfrentam baixa autoestima, ansiedade e distorção da imagem corporal devido à dor e alterações estéticas.
Tratamento cirúrgico
Técnicas como a lipoaspiração tumescente — especialmente quando associada a tecnologias como vibração (PAL), jato de água (WAL), ou assistida por vácuo (VAL) — são as mais recomendadas, pois removem a gordura de forma menos traumática e com maior preservação dos vasos linfáticos.
Entre os dispositivos modernos utilizados, destaca-se o sistema MicroAire® PAL, que utiliza movimentos vibratórios controlados para facilitar a remoção da gordura com menos esforço manual do cirurgião e menor trauma para os tecidos.
Já a lipoaspiração assistida por vácuo (VAL) combina sucção controlada e pressão negativa de modo contínuo, sendo considerada uma abordagem eficiente e segura para pacientes com lipedema, especialmente nos estágios iniciais a moderados.
Essas tecnologias permitem maior precisão, menos sangramento, menor risco de lesão linfática e recuperação mais rápida.
Os benefícios relatados do tratamento cirúrgico incluem:
- Redução duradoura da dor e do volume das pernas;
- Melhora da mobilidade;
- Redução de episódios de hematomas e sensação de peso;
- Efeitos mantidos mesmo com eventual recuperação de peso após o procedimento.
A cirurgia é mais eficaz quando realizada precocemente, preferencialmente nos estágios 1 ou 2 da doença.
Prognóstico e qualidade de vida
O lipedema é uma doença crônica e, se não for tratada, pode progredir ao longo dos anos, afetando significativamente o bem-estar físico e emocional das pacientes. Dor persistente, limitação funcional e impacto estético estão entre os principais fatores que prejudicam a qualidade de vida.
Nos estágios mais avançados, a gordura acumulada pode levar à dificuldade de locomoção, desgaste articular e até desenvolvimento de lipo-linfedema, que combina o acúmulo de gordura com disfunção linfática, intensificando o inchaço e a dor.
Estudos mostram que intervenções precoces, mesmo conservadoras, podem frear a progressão da doença, reduzir a dor e prevenir complicações. Já a lipoaspiração, quando bem indicada, oferece resultados duradouros e melhora significativa dos sintomas físicos e da autoestima das pacientes.
Além do tratamento físico, é essencial cuidar da saúde emocional, muitas vezes abalada por anos de diagnósticos errados e tentativas frustradas de emagrecimento. Com informação adequada e uma equipe de apoio, a maioria das pacientes consegue retomar sua autonomia, autoconfiança e bem-estar.
Perguntas frequentes (FAQ)
O lipedema tem cura?
Atualmente, o lipedema não tem cura definitiva. No entanto, é possível controlar os sintomas, melhorar a mobilidade e evitar a progressão da doença com medidas adequadas, como atividade física, uso de roupas compressivas, dieta anti-inflamatória e, em casos indicados, cirurgia. O mais importante é obter um diagnóstico precoce para iniciar o tratamento antes que o quadro avance.
O lipedema é uma condição oficialmente reconhecida?
Sim. Desde 2019, o lipedema passou a integrar a Classificação Internacional de Doenças (CID-11) da Organização Mundial da Saúde, sob o código EF02.2. Isso significa que a condição é reconhecida como uma entidade clínica distinta, com critérios diagnósticos próprios.
Homens podem ter lipedema?
Apesar de raro, homens também podem desenvolver lipedema, especialmente quando há alterações hormonais, como baixos níveis de testosterona ou excesso de estrogênio. Na maioria dos casos, o lipedema em homens está associado a distúrbios endócrinos ou síndromes genéticas.
A alimentação influencia no lipedema?
A alimentação não causa lipedema, mas pode ajudar a controlar os sintomas. Dietas com baixo índice glicêmico e ricas em alimentos anti-inflamatórios (como vegetais, azeite de oliva, peixes e grãos integrais) ajudam a reduzir a inflamação do tecido adiposo e o inchaço. Por outro lado, alimentos ultraprocessados, ricos em açúcares e gorduras ruins, tendem a piorar os sintomas.
Como saber se tenho lipedema?
Você pode suspeitar de lipedema se perceber que tem acúmulo de gordura desproporcional nas pernas ou braços, com dor ao toque, facilidade para equimoses e dificuldade para emagrecer nas áreas afetadas, mesmo com dieta e exercício. Outro sinal importante é que os pés e as mãos não são acometidos, o que ajuda a diferenciar o lipedema de outros tipos de inchaço ou gordura localizada. O diagnóstico deve ser feito por um profissional capacitado, com base na história clínica e no exame físico.
Qual médico trata lipedema?
O ideal é procurar um profissional que tenha experiência com doenças vasculares e linfáticas. Os médicos mais indicados são:
— Angiologistas ou cirurgiões vasculares.
— Fisiatras (especialistas em reabilitação).
— Dermatologistas com foco em doenças do tecido subcutâneo.
— Clínicos gerais ou endocrinologistas com conhecimento em lipedema.
Além disso, o tratamento geralmente envolve uma equipe multidisciplinar, incluindo fisioterapeutas, nutricionistas e psicólogos.A lipoaspiração cura o lipedema?
Não. A lipoaspiração não cura o lipedema, mas é a única forma conhecida de remover permanentemente a gordura doente. Quando realizada com técnicas adequadas (como a vibroassistida ou com jato de água), a cirurgia pode reduzir o volume das pernas ou braços, aliviar a dor, melhorar a mobilidade e aumentar a qualidade de vida. No entanto, ela não impede que o lipedema continue evoluindo em outras partes do corpo e deve ser acompanhada de cuidados contínuos.
Referências
- Diagnosis and management of lipedema – UpToDate.
- Lipoedema: a paradigm shift and consensus – Journal of Wound Care.
- Lipedema: exploring pathophysiology and treatment strategies – state of the art – Jornal vascular brasileiro.
- Lipedema and the Potential Role of Estrogen in Excessive Adipose Tissue Accumulation –
International journal of molecular sciences. - Lipedema-Pathogenesis, Diagnosis, and Treatment Options – Deutsches Ärzteblatt international.
- Liposuction is an effective treatment for lipedema-results of a study with 25 patients – Journal of the German Society of Dermatology.
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.