Index
Introdução
O cansaço e falta de ar são sintomas que costumam andar juntos, por isso, são muitas vezes tratados pelos pacientes como se fossem a mesma coisa. Mas não são.
A falta de ar, também chamada de dispneia, é uma sensação de dificuldade para respirar. É a impressão de que a quantidade de ar que entra nos pulmões é insuficiente. A dispneia pode se manifestar também como uma dificuldade para expulsar o ar já respirado.
Já o cansaço ou a fadiga é a dificuldade de se realizar esforços, mesmo que mínimos, como escovar os dentes ou pentear os cabelos. Esse sintoma é geralmente descrito pelos pacientes como uma falta de força ou desânimo para fazer tarefas que requeiram esforço, seja físico ou mental.
Outros termos também usados para descrever o cansaço são: exaustão, letargia, sonolência, fraqueza, astenia, falta de energia ou cansaço mental.
O cansaço e a falta de ar costumam estar juntos, mas podem surgir isoladamente.
Para saber mais sobre as causas de cansaço, leia: CANSAÇO – Principais causas.
Dispneia
A queixa de falta de ar pode ser real, quando paciente realmente tem alguma dificuldade de oxigenar o sangue, ou pode ser apenas uma sensação, quando o paciente refere dificuldade para respirar, mas ele efetivamente não apresenta nenhuma dificuldade de oxigenar os tecidos. Esse último caso costuma ocorrer nas crises de ansiedade.
Uma vez estabelecida que a queixa de falta de ar realmente indica uma má oxigenação tecidual, é preciso quantificá-la para avaliar a gravidade do caso.
Para poder distinguir as queixas de falta de ar da ansiedade das dispneias reais, é preciso entender como funciona a captação e utilização do oxigênio do ambiente.
O ar entra nas vias aéreas, desce pela traqueia e chega aos pulmões. Nos alvéolos pulmonares ocorre o que chamamos de trocas gasosas. O oxigênio vai para o sangue, e o gás carbônico (CO2), que estava no sangue, vai pra o alvéolo para ser devolvido às vias aéreas e expelido na respiração. Portanto, inspiramos oxigênio e expiramos gás carbônico.
O oxigênio não fica “solto” no sangue. Ele precisa das hemácias (glóbulos vermelhos) para ser transportado para os tecidos. Uma vez nos tecidos, as células usam o oxigênio para produzir energia. Esse processo produz CO2, que é captado novamente pelas hemácias e levado em direção aos pulmões para se reiniciar o ciclo.
A falta de ar é um sintoma que surge quando o cérebro recebe a informação de que a quantidade de oxigênio nos tecidos está baixa e não é suficiente para a sobrevivência das células ou quando a quantidade de CO2 está alta.
A falta de ar verdadeira pode, então, acontecer por vários mecanismos:
- Quando o nível de oxigênio no ar está baixo.
- Quando algo obstrui nossas vias aéreas e não conseguimos respirar adequadamente.
- Quando o coração está fraco ou há alguma obstrução ao fluxo sanguíneo e não se consegue levar sangue oxigenado para os tecidos.
- Quando há algum problema no pulmão que impede a troca dos gases (gás carbônico e oxigênio).
- Quando o sangue não consegue transportar oxigênio adequadamente, como nos casos de anemia grave ou hemácias defeituosas.
Sintomas da falta de ar
Assim que o cérebro recebe a informação de há má oxigenação dos tecidos, a primeira providência é aumentar a frequência e intensidade da respiração. Em adultos a frequência respiratória média varia entre 12 a 20 incursões por minuto. Chamamos de taquipneia quando a frequência está acima de 20.
Não conseguimos contar a nossa própria frequência respiratória, pois uma vez que tomamos consciência da nossa respiração, ela passa a ser diferente. Quando nós médicos contamos a frequência respiratória dos pacientes, o fazemos sem que o mesmo se aperceba do fato.
O aumento da frequência respiratória é um processo de adaptação que ocorre a todo momento. Por exemplo, quando corremos precisamos gerar mais energia e por consequência, nossas células precisam de mais oxigênio. O que o cérebro faz? Aumenta a frequência respiratória e cardíaca. Mais oxigênio chega aos pulmões e mais sangue é transportado para os tecidos, resolvendo-se o problema.
Portanto, a primeira coisa que se faz frente a uma queixa de falta de ar, é contar a frequência respiratória. Não se espera que uma verdadeira falta de ar não venha acompanhado de aumento da frequência respiratória.
É importante salientar que uma pessoa com crise de pânico ou muito ansiosa pode perfeitamente estar respirando mais rápido pelo nervosismo, sem que isso indique falta de oxigenação real.
Quando a falta de ar começa a se intensificar, surgem alguns sinais de esforço respiratório. Um deles é o aumento e diminuição do diâmetro das narinas enquanto puxamos o ar. Este sinal é chamado de batimento de asa do nariz. Indica esforço para se puxar o ar.
Outros sinal de esforço é quando podemos notar a contração dos músculos do peito e da barriga enquanto se respira. O uso dos músculos acessórios da respiração é um sinal de desespero do organismo tentando aumentar de qualquer maneira o aporte de oxigênio para os pulmões.
Esse sinais podem ser vistos após exercícios extenuantes. Nesse caso não há problemas pois após o repouso, em questão de minutos, a oxigenação adequada se restabelece.
Um sinal de gravidade da falta de ar é a presença de cianose, que é a tonalidade arroxeada dos dedos, lábios e nariz. A hemácia quando rica em oxigênio fica avermelhada, e quando pobre, arroxeada. Quando as hemácias possuem pouco oxigênio, podemos notar esse tom mais roxo na regiões mais finas da pele.
Pessoas com problemas pulmonares crônicos apresentam um alargamento das pontas dos dedos, chamado de baqueteamento digital pelo fato dos dedos ficarem parecidos com baquetas de tambor.
Nem todo mundo com dispnéia precisa se apresentar com os sinais de gravidade descritos acima. Pode-se ter apenas falta de ar e o único sinal ser a taquipnéia. Para se saber então se a dispnéia indica alguma doença ou não, temos que avaliar qual o grau de oxigenação do sangue.
Isto pode ser feito através do oxímetro de pulso, que é aquele aparelhinho que se coloca nos dedos dos pacientes. A saturação normal de oxigênio é maior que 95%. Valores abaixo de 90% indicam insuficiência respiratória.
Se houver algum sinal clínico ou algo na história que aponte para uma causa de dispnéia, solicita-se uma gasometria arterial, uma análise onde se colhe sangue de uma artéria para se medir diretamente os níveis de oxigênio e CO2 do sangue.
Na gasometria identifica-se facilmente aqueles com falta de ar por ansiedade uma vez que o nível de oxigênio encontra-se bem alto e o de CO2 bem, baixo devido a rápida respiração, fato que não ocorre nas causas reais de dispneia.
Causas de falta de ar
As principais doenças que podem provocar falta de ar são:
- Asma.
- DPOC (bronquite crônica e enfisema pulmonar).
- Pneumonia.
- Tuberculose.
- Outras infecções pulmonares.
- Derrame pleural.
- Edema pulmonar.
- Embolia pulmonar.
- Hemorragia pulmonar.
- Câncer de pulmão.
- Infarto do miocárdio.
- Insuficiência cardíaca.
- Arritmia cardíaca.
- Hipertensão pulmonar.
- Aspiração de corpo estranho.
- Obesidade mórbida.
- Traumas.
- Asbestose.
- Defeitos ósseos na coluna ou tórax.
- Anemia.
- Tamponamento cardíaco.
- Sepse.
- Intoxicações.
- Anafilaxia.
- Gravidez.
- Ansiedade.
Tratamento da falta de ar
O tratamento depende da causa. Se for devido a uma pneumonia, trata-se com antibióticos; Se for por insuficiência cardíaca, usa-se diuréticos; Se for anemia, trata-se com transfusão de sangue, e assim por diante.
Enquanto a causa da dispneia não for resolvida, é importante assegurar que o paciente tenha sempre saturações de oxigênio adequadas para não entrar em colapso.
Quando há saturação de O2 está reduzida, o tratamento deve ser feito com oxigênio suplementar. Se mesmo com oxigênio em volumes altos o paciente ainda não for capaz de manter boas saturações, faz-se necessária a intubação e adaptação a um ventilador mecânico.
Alguns pacientes com doença pulmonar crônica, tipo enfisema, precisam de oxigênio suplementar com frequência, e às vezes, passam mais de 12 horas por dia com O2 em máscara.
Falta de ar na gravidez
A dispneia é muito comum na gravidez. Até 2/3 das gestantes se queixam de falta de ar, fato que normalmente inicia-se no segundo trimestre. A dispneia da gestação costuma ser pior quando a grávida encontra-se sentada e não apresenta relação com esforço físico.
Alguns fatores contribuem para essa dispneia:
- Anemia que ocorre em toda gravidez.
- Elevação do diafragma pelo feto, principalmente no 3 trimestre
- Excesso de progesterona, que por si só causa aumento da frequência respiratória
Apesar de comum, é importante não confundir a dispneia normal da gestante com dispneia causada por doenças pulmonares ou cardíacas que podem muito bem ocorrer em quem está grávida. Um exame físico e uma boa história clínica costumam fazer essa distinção.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
Deixe um comentário