Síndrome das Pernas Inquietas: sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

Atualizado em

comment 6 Comentários

Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

Resumo do artigo

  • O que é a síndrome das pernas inquietas: a síndrome das pernas inquietas é uma doença de origem neurológica na qual o paciente sente uma incontrolável necessidade de movimentar as pernas.
  • Principais causas: deficiência de ferro, insuficiência renal, diabetes mellitus de longa data e doenças neurológicas são as principais causas. Na metade dos pacientes, porém, a origem é genética e não há outras doenças associadas.
  • Sintomas: o principal sintoma é um desejo incontrolável de mexer as pernas, geralmente provocado por uma sensação de desconforto, que costuma ser descrito como agonia, inquietação, incômodo ou tensão nas pernas. Movimentos involuntários dos membros durante o sono também é muito comum.
  • Tratamento: apesar de não haver cura para os casos mais graves, é possível haver remissão espontânea nos casos leves e intermitentes. Na maioria dos casos crônicos, o tratamento com reposição de ferro, exercícios físicos e fármacos, como os agonistas dopaminérgicos, costuma apresentar boa resposta.

O que é a síndrome das pernas inquietas?

A síndrome das pernas inquietas, também conhecida como doença de Willis-Ekbom, é uma condição de origem neurológica na qual o paciente sente um inexplicável desconforto e uma incontrolável necessidade de movimentar as pernas.

Esses episódios costumam ocorrer no final da tarde ou à noite, enquanto o paciente encontra-se sentado ou deitado. A mudança de posição e a movimentação das pernas alivia o desconforto temporariamente. Os sintomas são comuns durante o sono ou quando o paciente encontra-se inativo por muito tempo.

Durante o sono, o paciente com síndrome das pernas inquietas também pode apresentar uma condição chamada movimentos periódicos dos membros durante o sono, caracterizada por movimentos repetidos e estereotipados dos membros inferiores, que surgem, em média, a cada 40 segundos e duram apenas cerca de 2 a 4 segundos.

A síndrome das pernas inquietas acomete até 15% da população, mas muitos casos não são diagnosticados. É frequente encontramos pacientes que só foram devidamente diagnosticados mais de 10 ou 20 anos depois do surgimento dos sintomas.

A doença de Willis-Ekbom pode surgir em qualquer idade, mas ela é mais comum nos adultos após os 40 anos.

Causas

As causas da doença de Willis-Ekbom ainda não estão completamente esclarecidas, embora diversos estudos tenham identificado uma variedade de anormalidades no sistema nervoso central e periférico dos pacientes com esse transtorno.

A relação mais consistentemente relatada é com a redução das reservas de ferro em determinadas regiões do sistema nervoso central. Alterações no funcionamento de alguns neurotransmissores, tais como a dopamina, ácido gama-aminobutírico (GABA) e o glutamato também parecem ter papel relevante.

Cerca de 50% dos pacientes com a síndrome das pernas inquietas apresentam história familiar positiva, o que sugere a existência de um componente genético na gênese da doença.

Fatores de risco

Nem todos os pacientes, porém, apresentam história familiar positiva. Nestes, a síndrome das pernas inquietas costuma ser provocada por outras doenças ou condições. As mais importantes são:

Existe também a doença de Willis-Ekbom de origem primária, que surge sem uma causa definida e sem que o paciente tenha história familiar.

Sintomas

O sintoma típico da síndrome das pernas inquietas é um desejo incontrolável de mexer as pernas, geralmente provocado por uma sensação de desconforto que é sentida profundamente dentro das pernas, entre os joelhos e os tornozelos.

O paciente frequentemente apresenta dificuldade para descrever com detalhes essa sensação de desconforto. Os termos habitualmente utilizados são: “incômodo”, “agonia”, “desconforto”, “formigamento”, “a perna quer se mexer”, “câimbras”, “choques elétricos”, “pontadas”, “tensão”, “agonia nas pernas”, “coceira nos ossos”, “insetos caminhando pelas pernas” ou “pernas que se mexem sozinhas”.

Apesar de ser desagradável, a maioria dos pacientes não sente dor. Quando a dor está presente, ela geralmente ocorre devido à existência de neuropatia periférica associada, e não pela síndrome das pernas inquietas em si.

Os sintomas surgem durante períodos de inatividade, sendo mais proeminentes à noite. A movimentação das pernas alivia temporariamente o desconforto. Caminhar, alongamentos, massagens nas pernas ou aplicação de água quente também costumam causar alivio transitório.

A doença de Willis-Ekbom tende a ser uma condição crônica, principalmente nos pacientes com sintomas moderados a graves. Remissão espontânea pode ocorrer em 30 a 60% dos casos, mas ela é bem mais comum nos casos brandos e intermitentes.

Além da gravidade dos sintomas, os fatores que aumentam a probabilidade da doença se tornar crônica são a história familiar positiva ou o início do quadro após os 45 anos.

Nos casos mais graves, o paciente pode ter uma redução relevante da sua qualidade de vida, apresentando dificuldade para dormir, viajar, ir ao cinema ou ficar muito tempo sentado durante o trabalho ou reuniões.

Movimentos periódicos dos membros durante o sono

A síndrome das pernas inquietas e os movimentos periódicos durante o sono podem atrapalhar o sono do paciente, provocando insônia, privação do sono, sonolência intensa durante o dia, distúrbios de ansiedade e até depressão.

Os movimentos periódicos durante o sono se caracterizam por movimentos involuntários dos membros inferiores que surgem de forma regular e estereotipada, durando cerca de 1 a 10 segundos e em ciclos com intervalo máximo de até um minuto e meio (média de 20 a 40 segundos) entre cada movimento.

Tratamento

Apesar de não haver cura para os casos crônicos, a síndrome das pernas inquietas é uma doença tratável e que geralmente responde bem à terapia farmacológica.

Os objetivos principais do tratamento são reduzir os sintomas e melhorar a qualidade de vida e de sono do paciente.

O primeiro passo costuma ser a dosagem dos níveis de ferro sanguíneo do paciente. Caso o nível de ferritina esteja abaixo de 75 mcg/L, a reposição de ferro por via oral é recomendada.

Também é importante suspender o uso de fármacos ou substâncias que possam agravar os sintomas da doença de Willis-Ekbom. Os mais comuns são:

  • Cafeína.
  • Cigarro.
  • Antidepressivos (exceto bupropiona).
  • Antipsicóticos.
  • Metoclopramida.
  • Anti-histamínicos com ação sedativa.

A prática de exercício físico, ioga, meditação, alongamentos e massagens regulares também ajudam nos casos mais leves.

Nos pacientes em hemodiálise, a troca de estratégia dialítica para sessões diárias e mais curtas também costuma resultar.

Se nenhuma das medidas acima tiver sucesso, o tratamento farmacológico deve ser iniciado.

Medicamentos mais indicados

As drogas mais utilizadas são os agonistas da dopamina, havendo preferência por aqueles que têm uma meia-vida mais longa (quatro a seis horas), como pramipexol, ropinirol ou rotigotina. A levodopa é uma opção menos eficaz, pois sua meia-vida é mais curta (90 minutos). Este fármaco costuma ser usado apenas nos pacientes com sintomas mais brandos e pouco frequentes.

A gabapentina e a pregabalina também são medicamentos eficazes e podem ser usadas como primeira opção de tratamento farmacológico.

Nos pacientes com sintomas pouco frequentes, o clonazepam pode ser usado.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

Saiba mais

Artigos semelhantes

Ficou com alguma dúvida?

Comentários e perguntas

Deixe um comentário


6 respostas para “Síndrome das Pernas Inquietas: sintomas e tratamento”

  1. Maria de Lourdes

    Bom dia! Eu estava lendo esse texto, muito interessante parabéns. Meu marido me fala que eu mexo as pernas durante a noite,assim como fala o texto. Então resolvi pesquisar.não percebo estou dormindo. Mas durante o dia não interfere em nada dou conta dos meus afazeres. Nunca procurei um médico a respeito disso. Evito tomar remédio …além de exercício físico, qual tipo de alimentação ajuda essa síndrome? Obrigado .

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Não há nenhuma alimentação específica para a síndrome das pernas inquietas.
  2. Douglas K
    Devo consultar um médico se eu tiver suspeitas da síndrome das pernas inquietas, mesmo achando que o médico tem coisa mais importante pra fazer e pacientes com urgências maiores?
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      Sim, nem todo atendimento médico precisa ser uma urgência. Consultas médicas feitas no consultório ou ambulatório não são urgências.
  3. RITA DE CASSIA ALVES DOS REIS
    O remédio Gabaneurin não e apenas para tratamento de epilepsia? Quem tem síndrome das pernas inquietas e fibromialgia pode tomar?
    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro
      A gabapentina pode ser usada para várias doenças, não só epilepsia. Síndrome das pernas inquietas e fibromialgia são dois exemplos disso.