Relação entre HPV e câncer do colo do útero

Dr. Pedro Pinheiro

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HPV

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Introdução

O câncer do colo do útero, também chamado de câncer de colo uterino, câncer de cérvix uterino ou câncer cervical, é o segundo tipo de câncer mais comum no sexo feminino, perdendo apenas para o câncer de mama. Mais de 90% das neoplasias malignas do colo do útero são causados pelo vírus HPV, uma infecção transmitida pela via sexual e atualmente prevenível através de vacina.

Neste artigo vamos falar sobre a relação do vírus HPV com o câncer de colo uterino.

O que é HPV?

O Papilomavírus humano, ou vírus do papiloma humano, mais conhecido como HPV, é um vírus que possui mais de 150 subtipos. O vírus HPV só causa doença nos seres humanos, sendo ele o responsável pelo surgimento das verrugas comuns de pele e das verrugas genitais, chamadas também de condiloma acuminado. Neste texto falaremos apenas da relação do HPV com o câncer do colo do útero, se você quiser saber mais sobre HPV e verrugas comuns e genitais, acesse o seguinte link: VERRUGAS COMUNS | VERRUGAS GENITAIS.

Apesar das verrugas serem uma alteração de pele muito comum, o que torna o HPV um sério problema de saúde é a sua associação com o câncer do colo uterino. Entre os cerca de 150 subtipos conhecidos, dois deles estão presentes em mais de 70% dos casos de câncer do colo do útero: HPV-16 e HPV-18. O HPV também está associado à ocorrência de outros tipos de câncer, como o câncer do pênis, vagina, vulva e ânus.

É importante destacar que quando falamos da relação do HPV com o câncer do colo uterino estamos nos referindo a um risco estatístico. Estar infectado com o HPV, principalmente pelos 2 subtipos citados acima, aumenta substancialmente o risco de desenvolvimento do câncer uterino, mas não significa que a paciente obrigatoriamente desenvolverá um câncer. Na verdade, a maioria das mulheres contaminadas pelo HPV não irá ter câncer.

O HPV é um vírus transmitido pela via sexual, sendo, na verdade, a doença sexualmente transmissível mais comum do mundo (leia: O QUE É DST?). Estima-se que até 10% da população mundial esteja contaminada com o vírus e que até 50% das mulheres (e dos homens) terão contato com o mesmo em algum momento das suas vidas.

HPV tem cura?

A maioria dos casos de infecção pelo HPV são assintomáticos e transitórios. Após 2 anos, 80 a 90% dos pacientes curam-se espontaneamente, apenas pela ação do seu sistema imunológico. Portanto, para a maioria das mulheres, o HPV tem cura, e ela ocorre sem a necessidade de qualquer tratamento.

Os problemas surgem nos restantes 10 a 20% que não conseguem se livrar do HPV e desenvolvem infecção permanente pelo vírus. São estas pacientes que correm risco de desenvolver o câncer de colo uterino.

Em geral, são necessários cerca de 20 anos de infecção para que o Papilomavírus humano possa provocar um câncer do colo de útero. Por este motivo, o exame preventivo regular com o ginecologista é importante para detectar precocemente qualquer sinal de lesão maligna em desenvolvimento (falaremos do exame Papanicolau mais abaixo).

Para saber mais detalhes sobre a cura do HPV, leia: O VÍRUS HPV TEM CURA OU TRATAMENTO?

Associação entre HPV e o câncer do colo do útero

Existem 15 subtipos de HPV que são considerados de alto risco para o câncer do colo de útero. Porém, como já referido, pelo menos 70%  dos casos de câncer são causados apenas pelos subtipos HPV-16 e HPV-18. Quanto mais tempo uma mulher permanece infectada pelo HPV, maior é o risco dela desenvolver câncer.

O tabagismo aumenta o risco de câncer do colo uterino causado pelo HPV, motivo pelo qual toda mulher com infecção comprovada pelo vírus apresenta ainda mais um motivo para abandonar o cigarro (leia: COMO E POR QUE PARAR DE FUMAR CIGARRO ).

Outro importante fator de risco é a coinfecção pelo HIV (leia: SINTOMAS DO HIV E AIDS (SIDA)). A associação entre HIV e HPV não só aumenta ainda mais o risco de câncer de colo uterino, como costuma provocar tumores extremamente agressivos, que se propagam rapidamente pelo corpo.

Papanicolau e o diagnóstico do câncer de colo do útero

O exame de Papanicolau, também conhecido como exame preventivo, é atualmente a forma indicada para o rastreio do câncer de colo uterino.

O Papanicolau não serve para diagnosticar o câncer, quem faz o diagnóstico é a biópsia do colo do útero. O Papanicolau é apenas um exame de rastreio, ou seja, ele apenas ajuda o médico a identificar quais são as mulheres com maior risco que precisam ser submetidas à colposcopia e biópsia.

O exame de Papanicolau é feito durante o exame ginecológico, com o auxílio de um espéculo vaginal (bico de pato). O ginecologista visualiza o colo do útero e, através de uma espátula de madeira e de uma escovinha, colhe material da região. O material coletado contém células do colo uterino, que são enviadas para avaliação microscópica, visando detectar lesões pré-malignas ou lesões malignas ainda em fases iniciais. A coleta de material também serve para realizar a pesquisa do HPV e outras infecções, como clamídia, gonorreia, sífilis, Gardnerella, etc.

Em geral, recomenda-se o exame preventivo anualmente em todas as mulheres sexualmente ativas. Se o Papanicolau identificar células com características pré-malignas, a paciente precisa ser submetida à biópsia do colo do útero.

O que é NIC (neoplasia intraepitelial cervical)

A neoplasia intraepitelial cervical (NIC) é uma lesão pré-maligna, que pode ser identificada pela biópsia do colo uterino. A NIC não é um câncer, mas sim uma lesão do tecido do colo uterino com alto risco de se transformar em um. Dependendo de fatores como tamanho e local da lesão e do subtipo tipo de HPV detectado, as neoplasias intraepiteliais cervicais são dividas em 3 grupos, em ordem crescente de risco de transformação maligna: NIC 1, NIC 2 e NIC 3.

A maioria dos casos de NIC 1 curam espontaneamente em um prazo de até 2 anos, não precisando de tratamentos mais agressivos. Os casos de NIC 2 e NIC 3 também curam-se sozinhos com grande frequência, porém, como o risco de progressão para o câncer é mais alto, essas lesões precisam ser tratadas.

Caso a biópsia detecte a presença de uma lesão NIC 2 ou NIC 3, o mais indicado é realizar a excisão da zona onde há alterações pré-malignas das células. É importante salientar que as excisões apenas retiram a parte do tecido com risco de transformação maligna, mas o HPV continuará presente no organismo. Retiramos apenas aquela região onde o tecido é composto por células que podem, a longo prazo, virar câncer.

Se a biópsia identificar a presença de um câncer de colo do útero já estabelecido, faz-se necessária a realização de outros exames, procurando identificar a presença de metástases. Geralmente inicia-se com uma tomografia computadorizada de pelve e abdômen.

Se você quiser saber mais sobre o rastreio do câncer de colo uterino, leia também os seguintes artigos:

Vacina para HPV

Naquelas pessoas que desenvolvem infecção permanente pelo HPV, ou seja, que o sistema imunológico não é capaz de eliminar o vírus, não há tratamento curativo disponível. Estas pessoas ficam infectadas pelo vírus pelo resto da vida, estando sempre sob risco de desenvolverem lesões malignas, principalmente se forem o HPV-16 ou HPV-18. Por isso, o advento da vacina foi uma passo importante na luta contra o câncer do colo uterino, pois esta impede a contaminação de pessoas ainda não infectadas.

Existem duas vacinas contra o HPV: uma inclui os subtipos 6, 11, 16 e 18, e outra os 16 e 18. Portanto, a vacina inclui os principais, mas não todos, subtipos relacionados ao câncer de colo uterino. Isso significa que a vacinação não elimina a necessidade do exame preventivo anual já que ela não exclui em 100% o risco de câncer.

A vacinação é feita em três etapas, sendo que a segunda e a terceira dose são administradas 2 e 6 meses após a primeira, respectivamente.

A vacina tem sido indicada a partir dos 9 anos de idade e deve ser preferencialmente oferecida às meninas sem vida sexual ativa. Lembre-se que a vacina é uma prevenção e não tratamento do HPV. Não adianta vacinar quem já teve contato com o HPV. Por esse motivo, a vacinação em mulheres maiores de 26 anos não tem o mesmo efeito protetor, uma vez que boa parte das pacientes já foi exposta ao HPV durante a sua vida.

Os que são a favor da vacinação em mulheres mais velhas argumentam que mesmo que a vacina não sirva para combater o HPV já existente, ela pode proteger contra outros subtipos que a paciente possa ainda não ter sido exposta.

A vacina não é feita com vírus vivo atenuado e, por isso, é bastante segura. Todavia, como ainda não existem trabalhos comprovando a sua segurança na gravidez, ela não está indicada neste grupo.

Para informações mais detalhadas sobre a vacina contra HPV, acesse o link: VACINA CONTRA HPV.

Autor(es)

Dr. Pedro Pinheiro

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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