Capsulite adesiva (ombro congelado)

Dr. Pedro Pinheiro

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Tempo de leitura estimado do artigo: 3 minutos

O que é a capsulite adesiva?

A capsulite adesiva, conhecida popularmente como “ombro congelado”, é um quadro que se caracteriza por limitação dos movimentos e intensa dor no ombro, que pode durar de vários meses até anos. A capsulite adesiva é provocada por uma inflamação da cápsula que reveste a articulação do ombro.

O ombro congelado é um problema relativamente comum, acometendo cerca de 3 a 5% da população geral. A doença torna-se mais frequente a partir dos 55 anos, sendo rara antes dos 40 anos de idade. As mulheres são mais acometidas que os homens.

Estudos mostram que o ombro do braço não dominante é ligeiramente mais susceptível à capsulite adesiva; portanto, canhotos têm mais risco de lesão no ombro direito e destros têm mais chances de ter capsulite no ombro esquerdo.

Independentemente de qual ombro foi acometido primeiro, em cerca de 10% dos pacientes, o ombro contralateral também torna-se doente dentro de um intervalo de 5 anos.

Como surge

O ombro é uma articulação formada por 3 ossos: o úmero (osso do braço), a clavícula e a espátula (também conhecida como omoplata).

Capsulite adesiva

Acompanhe a ilustração acima para entender melhor a anatomia do ombro. A extremidade superior do úmero, chamada de cabeça do úmero, tem a forma de um globo e se encaixa na cavidade glenoide, que é uma fossa em formato esférico na lateral da escápula. O encaixe de um osso com extremidade convexa em uma fossa côncava cria uma articulação que permite ao osso mover-se de forma multiaxial, nos possibilitando uma grande amplitude de movimentos.

A articulação do ombro é envolvida pela cápsula articular do ombro, que é uma membrana que ao mesmo tempo cria estabilidade e permite a livre movimentação da articulação.

A capsulite adesiva é uma doença que provoca inflamação, fibrose, espessamento e rigidez da cápsula articular, levando à dor e à impotência funcional do ombro. A capsula, que normalmente é um tecido elástico, torna-se rígida e bastante dolorosa.

A capsulite adesiva é uma lesão ombro diferente da bursite e da tendinite do ombro. A bursite do ombro é provocada pela inflamação da bursa sinovial, que é uma espécie de almofada localizada no interior da articulação. Já a tendinite do ombro, como o próprio nome diz, é uma inflamação dos tendões do ombro.

Causas

A capsulite adesiva pode estar relacionada a traumas do ombro ou a doenças sistêmicas, que nada têm a ver a articulação do ombro, tais como diabetes, hipotireoidismo ou doenças cardiovasculares. O ombro congelado também pode ser uma doença idiopática, isto é, um problema que surge sem que possamos identificar uma causa clara.

Não sabemos exatamente qual é o mecanismo fisiopatológico que leva à formação da capsulite adesiva, mas alguns fatores de risco já estão bem estabelecidos. São eles:

Sintomas

Os dois principais sintomas do ombro congelado são a dor e a incapacidade funcional, que é a dificuldade de fazer os movimento habituais do ombro.

A capsulite adesiva habitualmente se desenvolve em três fases:

Fase dolorosa ou inflamatória

O quadro de capsulite adesiva inicia-se com progressiva dor ao movimento, que torna-se muito intensa e causa também gradual perda da capacidade de mover o ombro. Os sintomas agravam-se ao longo de semanas e costumam ser piores à noite. Ao contrario da bursite e da tendinite, cuja dor estão associadas a determinados movimentos do ombro, a dor da capsulite surge com qualquer tipo de movimento. Essa fase dura de 2 a 9 meses.

Fase de congelamento ou rigidez

Após meses de agonia, a dor começa a reduzir. Por outro lado, a rigidez do ombro torna-se mais intensa, impedindo a sua mobilidade. Nesta fase, que dura de 4 a 12 meses, a incapacidade funcional não está diretamente ligada à dor, o paciente simplesmente não consegue mover o ombro como antigamente porque ele encontra-se rígido ou “congelado”. Levantar o braço, coçar as costas, vestir um casaco ou fechar o sutiã podem se tornar tarefas impossíveis. Nesta fase, a dor só costuma surgir quando o paciente tenta mover o ombro para além do possível.

Fase de recuperação ou descongelamento

Após mais de 1 ano de dor e incapacidade funcional, o ombro começa a “descongelar”. O paciente vai, aos poucos, retomando a capacidade de mover os ombros de forma ampla e a dor desaparece completamente. Essa fase pode demorar de 5 a 24 meses para ficar completa.

O tempo de evolução da doença varia de caso a caso, mas é muito comum que o ombro congelado atrapalhe as atividades normais da vida do paciente por pelo menos 2 anos. Alguns pacientes podem ficar com sequelas, perdendo de forma definitiva cerca de 15% da mobilidade do ombro.

Diagnóstico

O diagnóstico do ombro congelado é feito habitualmente pelo médico ortopedista, através do exame físico e de exames complementares.

Um teste que pode ser utilizado para distinguir a capsulite adesiva de outras patologias dolorosas do ombro é o teste da injeção. O médico injeta uma quantidade de anestésico na articulação e nota se o paciente consegue voltar a mover o ombro de forma normal. Nos pacientes com ombro congelado, a anestesia alivia a dor, mas não melhora a mobilidade.

A radiografia e a ultrassonografia não são bons exames para o diagnóstico da capsulite adesiva, mas eles ajudam no diagnóstico diferencial, pois podem identificar outras causas de dor no ombro, como bursite e tendinites.

Se após o exame físico, teste da injeção e exames de imagem, o médico ainda estiver na dúvida do diagnóstico, a ressonância magnética é o exame mais adequado para avaliar a saúde da cápsula articular. Nas fases inciais da doença, porém, a ressonância pode não conseguir identificar a capsulite.

Tratamento

Como a capsulite adesiva é uma doença autolimitada, que resolve-se sozinha após vários meses, o tratamento inicialmente visa o controle da dor e o restabelecimento de parte dos movimentos do ombro.

Fase dolorosa

A dor pode ser inicialmente tratada com analgésicos comuns, tais como paracetamol ou dipirona (metamizol).

Anti-inflamatórios são medicamentos com boa eficácia, mas o seu uso diário por vários meses seguidos deve ser desencorajado devido aos efeitos colaterais gástricos, renais e cardiovasculares. Em casos de dor de difícil controle, o médico pode prescrever analgésicos mais fortes, à base de derivados da morfina.

A injeção intra-articular de corticoides (infiltração) é uma boa opção para o controle da dor nos primeiros meses, principalmente para aqueles pacientes que não melhoram com o uso de analgésicos ou anti-inflamatórios diariamente. Corticoides por via oral não são indicados pelo elevado risco de efeitos colaterais.

Fase de rigidez

Após o alívio da dor, o médico pode indicar exercícios e fisioterapia para melhorar a mobilidade do ombro afetado. Os exercícios devem ser começados de forma leve, sempre utilizando a dor como parâmetro.

Tratamento cirúrgico

O tratamento cirúrgico, habitualmente feito por artroscopia, costuma ficar restrito apenas aos casos mais graves e que não obtêm resposta satisfatórias com outros tipos de tratamento.

O objetivo da cirurgia é “libertar” a cápsula, permitindo que a articulação possa voltar a se mover livremente. Em geral, a cirurgia é feita apenas após um ano de doença, numa fase em que há menos inflamação e mais fibrose da cápsula.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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Comentários e perguntas

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12 respostas para “Capsulite adesiva (ombro congelado)”

  1. Mª Eduarda

    Gostei de identificar, nessa pandemia, o que eu tenho. Ja fui fazer os exames e a ressonância identificou a capsulite adesiva. Comecei a fazer fisioterapia. Sete meses de inferninho. A dor está diminuindo agora. Não é mais a dor intensa do 5 primeiros meses. Desisti de tomar os analgésicos, pois não faziam a menor diferença.

  2. Maria Do Alívio Rocha Alberto

    Dr Pedro seu artigo sobre Tendinite e /Tendinoses é muito bom e esclarecedor. Que pena não o termos por aqui, mais perto de nós,para nos atender e/ou encaminhar . De todo o modo, fico-lhe grata. Desejo sucesso onde vc escolheu para praticar seu ofício. Se for Portugal , saudações Luso/Brasileira .

  3. gisele 31 anos

    Dr muito bom seu artigo,tenho duvidas sobre meu ombro,sinto fortes dores no ombro esq a meses q irradia p/o lado esq do meu peito e sobe p/ o meu pescoço,fiz uma ressonância e constou um tendão rompido, supraesp,fui em um outro ortopedista que pediu p/fazer um novo porque acha que é capsulite adesi

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Mas se tem um tendão rompido, qual é a dúvida?

  4. Fernanda

    Fantástico este artigo! Estou com problema no meu ombro esquerdo há 9 meses e ainda não tinha um diagnóstico fechado, mesmo após realizar exames de ultrassonografia e ressonância magnética! Porém após a leitura deste texto não tenho mais dúvidas: é capsulaste adesiva!!!

  5. Bernardo Aranha

    Pedro, vc saberia indicar algum profissional na cidade do Rio que realize o procedimento de Bloqueio do Nervo Supraescapular, conforme descrito nesse artigo: http://www.scielo.br/pdf/rba/v62n1/v62n1a13.pdf
    Obrigado,
    Bernardo

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Não, Bernardo, eu estou fora do Brasil há mais de 10 anos. Já não tenho mais contatos profissionais por aí.

  6. Alexandre

    Oi Doutor, muito obrigado pelo artigo. É bem esclarecedor. Eu to na fase inicial ainda, tem um mês.

  7. Jonh West

    Obrigado ao Dr. Pedro por publicar esse artigo tão bem escrito. O texto é muito esclarecedor e responde a todas as perguntas que envolvem o assunto.

  8. Maria Aparecida Cinta Pasquale

    Obrigado pelo esclarecimento,tenho o diagnóstico de capsulite no ombro esquerdo,que recentemente fiz uma cirurgia para ligamento de 2 tendões,hj com 25 dias pós cirurgico estou com dores no antibraço ,gostaria de saber se essas dores provem da capsulite, uma vez que fiz tratamentos fisioterápicos por 7 meses para depois fazer a cirurgia…será q voltou,por eu ainda estar com tipóia e estar com o braço imobilizado?
    As dores almentam a noite,quase ñ consigo dormir.
    Por favor se puderem me esclarecerem?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Maria, eu não entendi bem a sua história. A cirurgia foi no ombro? E essas dores no antebraço já existiam antes ou surgiram após a cirurgia?

  9. Ana Lúcia

    Obrigada por esse esclarecimento