Vacina contra HPV: eficácia e segurança

Dr. Pedro Pinheiro

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Introdução

O Papilomavírus humano, mais conhecido pela sigla HPV, é um vírus transmitido pela via sexual capaz de provocar verrugas genitais e os cânceres do colo do útero,  ânus, pênis e orofaringe.

A cada ano, cerca de 270 mil mulheres em todo mundo morrem por conta de tumores no colo útero provocados pelo HPV. No Brasil, estima-se que, anualmente, haja cerca de 15.000 casos novos de câncer do colo uterino.

Felizmente, já existe uma vacina contra o Papilomavírus humano que é eficaz e bastante segura. Nas próximas décadas é possível haver uma queda vertiginosa dos casos de câncer de colo uterino, pois boa parte da população infantil atual está sendo imunizada contra o vírus.

Neste artigo falaremos sobre a vacinação contra o HPV, suas indicações, eficácia e efeitos colaterais. Vamos falar também sobre os mitos que cercam a vacina contra o HPV.

Se você está à procura de informações sobre o Papilomavírus humano ou verruga genitais, acesse os links:

Informações em vídeo

Antes de seguirmos em frente, veja esse curto vídeo, produzido pela equipe do MD.Saúde, que explica de forma simples a vacinação contra o HPV.

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Subtipos de HPV

Existem cerca de 150 subtipos do Papilomavírus humano, nem todos capazes de provocar verrugas ou tumores malignos. Destes 150 tipos, 12 deles provocam verrugas genitais, sendo os subtipos HPV-6 e HPV-11 os mais comuns, respondendo por 90% dos casos. 15 tipos de HPV provocam câncer de colo de útero, pênis, ânus e orofaringe, sendo os subtipos HPV-16 e HPV-18 os mais perigosos.

Em relação ao câncer, mais 70% dos casos são provocados pelo HPV-16 ou pelo HPV-18, motivo pelo qual esses dois subtipos são os alvos preferenciais das vacinas atualmente disponíveis.

Vacinas contra HPV disponíveis no mercado

Existem três vacinas diferentes contra o HPV no mercado: Gardasil, Gardasil 9 e Cervarix.

A vacina quadrivalente, chamada Gardasil, atualmente disponível gratuitamente no sistema público de saúde de vários países, atua contra os subtipos 6, 11, 16 e 18. Esta vacina, portanto, protege contra os subtipos do vírus do papiloma humano que mais causam câncer e verrugas genitais.

O Gardasil 9 é uma versão mais nova e completa da vacina, que protege contra nove subtipos de HPV (6, 11, 16, 18, 31, 33, 45, 52 e 58).

Quem deve se vacinar?

A vacina contra o HPV foi desenvolvida com o objetivo de reduzir os casos de câncer do colo de útero nas mulheres. Porém, por ser uma causa importante de câncer peniano e anal, correspondendo a cerca de 40% dos casos, a vacinação contra o HPV também pode ser feita em homens.

Atualmente, indica-se a administração da vacina quádrupla contra o HPV para homens e mulheres entre 9 e 26 anos. Em casos selecionados, quando o médico entender que a vacinação trará reais benefícios para o paciente, a vacina pode ser indicada também para pessoas acima dos 26 anos.

Atualmente, o Ministério da Saúde oferece a vacina quadrivalente no calendário de vacinação para meninas na faixa etária de 9 a 14 anos e meninos de 11 a 14 anos.

Já ter sido contaminado previamente com um subtipo de HPV não contraindica a realização da vacinação. Se uma mulher está ou esteve contaminada com o HPV-18, por exemplo, a vacinação quádrupla serve para preveni-la contra os outros 3 subtipos de  Papilomavírus humano.

Atualmente, por falta de estudos que comprovem sua segurança para o feto, a vacinação contra o HPV não está indicada para a gestantes. Por outro lado, durante o aleitamento materno não há contraindicações.

Como a vacina é feita com vírus inativo, ela pode ser administrada em pessoas com HIV ou qualquer outra causa de imunossupressão.

Eficácia da vacinação

Quando tomada ainda na infância, antes do início da vida sexual, a vacinação tem uma eficácia de quase 100% na prevenção de tumores malignos do colo do útero provocados pelos subtipos 16 e 18. Já quando administrada em mulheres mais velhas, já com vida sexual ativa e, portanto, com maior risco de já terem sido previamente expostas ao HPV, a eficácia cai para apenas 44%.

Nos homens nunca expostos ao HPV, a eficácia da vacina é um pouco mais baixa que nas mulheres, mas, ainda assim, atinge os 90%.

A vacinação quando feita em mulheres que já estejam infectadas com o HPV-16 ou HPV-18 aparentemente não causa danos, mas também não apresenta nenhum efeito benéfico sobre  a atual infecção. É importante salientar que a vacina serve para prevenir o HPV e não para tratá-lo.

Atualmente, ainda não sabemos por quanto tempo a vacina confere imunidade. Como as vacinas são relativamente novas no mercado, a maioria das pessoas sob estudo ainda não tem 8 anos de vacinação. Por isso, para sabermos por quanto tempo mais uma pessoa ficará imune ao HPV após a vacinação serão necessários ainda mais alguns anos de estudos.

Ao contrário do que ocorre em várias doenças infecciosas, ainda não existem sorologias pós-vacinação para o HPV, ou seja,  exames de sangue que sirvam para medir a concentração sanguínea de anticorpos contra o papilomavírus humano após a vacina.

Entre os grandes estudos científicos que comprovam a eficácia da vacina contra o HPV, podemos destacar três deles (referências no final do artigo):

The FUTURE II trial – Estudo publicado na revista New England Journal of Medicine, com 12.000 mulheres de 15 a 26 anos, duplo cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo. A vacina quadrivalente apresentou 98% de eficácia na prevenção de casos de NIC 2, NIC 3, adenocarcinoma in situ ou câncer de colo de útero.

The FUTURE 1 trial – Também publicado na revista New England Journal of Medicine. Estudo com 5.455 mulheres de 16 a 24 anos, duplo cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo. A vacina quadrivalente foi 100% efetiva na prevenção de verrugas anogenitais, neoplasias vulvar e vaginal, NIC1, NIC 2, NIC 3 e adenocarcinoma in situ.

PATRICIA (Papilloma trial against cancer in young adults) – Publicado na revista Lancet. Estudo com 18.000 mulheres entre 15 e 25 anos, duplo cego, randomizado, multicêntrico e controlado por placebo. A vacina bivalente apresentou eficácia de 93% na prevenção de casos de NIC 2, NIC 3, adenocarcinoma in situ ou câncer de colo de útero.

Recentemente, o governo da Austrália, país que oferece a vacina gratuitamente desde 2007 e que tem taxas de vacinação de quase 80% nas meninas até 15 anos, divulgou dados com excelentes resultados.

De 2005 a 2015 a prevalência de mulheres entre 18 e 24 anos infectadas com o HPV caiu de 22,7% para apenas 1,1%. Mantendo-se a atual política de vacinação, a previsão é de que a Austrália nas próximas 2 ou 3 décadas seja o primeiro país a conseguir erradicar completamente o câncer de colo uterino.

Doses da vacina

Para pessoas entre 15 e 26 anos, a vacina é geralmente administrada em 3 doses. A segunda dose é aplicada dois meses após a primeira, e a terceira dose é aplicada quatro meses após a segunda (meses 0,2 e 6). Portanto, leva-se aproximadamente seis meses para obter as três injeções.

Para pessoas entre 9 e 14 anos, apenas duas doses são necessárias. A segunda dose é aplicada seis meses após a primeira (meses 0 e 6).

As pessoas que já foram vacinadas com a vacina Gardasil quadrivalente, se desejarem, podem tomar a Gardasil 9  (3 doses), de forma a garantir proteção extra contra mais 5 subtipos de HPV.

Papanicolau nas mulheres vacinadas

Ter sido vacinada contra o HPV reduz consideravelmente o risco de câncer de colo uterino, mas não o afasta em 100%. Primeiro porque a vacina só cobre os 2 subtipos mais perigosos do HPV; segundo porque algumas mulheres já podem estar infectadas com algum tipo de HPV no momento da vacinação, não havendo efeito da vacina sobre essa infecção já em curso; e terceiro porque há casos, pouco comuns, é verdade, de câncer do colo do útero não provocados pelo HPV.

Portanto, de modo algum a vacinação exime a mulher de fazer o seu exame de Papanicolau rotineiro (leia: EXAME PAPANICOLAU – ASCUS, LSIL, NIC1, NIC 2 e NIC 3).

A vacina contra o HPV é segura?

Apesar de alguns boatos que volta e meia circulam entre a população, a vacina contra o HPV é bastante segura. Seu perfil de efeitos colaterais graves é semelhante aos de outras vacinas presentes no calendário vacinal.

Infelizmente, toda vez que surge uma nova vacina, espalham-se na Internet e nas redes sociais campanhas de desinformação sobre os riscos de se vacinar, que servem apenas para alarmar a população e boicotar as campanhas de vacinação.

Para quem acredita em teorias da conspiração, apenas um dado mostra como a vacina não faz parte de nenhum plano mirabolante de controle populacional de governos ou da indústria farmacêutica: nos últimos 10 anos, somente nos EUA, mais de 80 milhões de pessoas foram vacinadas contra o HPV.

Se 80 milhões de pessoas estivessem realmente sendo envenenadas através da vacina, como alguns boatos de Internet alegam, estaríamos atualmente testemunhando umas das maiores tragédias humanitárias de todos os tempos.

Só como comparação, o holocausto dizimou de 6 a 10 milhões de indivíduos, número que é até 8 vezes menor que o de pessoas que já foram vacinadas contra o HPV, somente nos EUA.

Além das 80 milhões de pessoas que já foram vacinadas, mais de 50 mil pacientes já participaram de estudos científicos nos EUA sobre a eficácia e a segurança da vacina. Em nenhum estudo houve qualquer sinal que pudesse indicar que a vacina contra o HPV fosse perigosa para a população.

Efeitos colaterais

É sempre lembrar, que assim como qualquer vacina, a vacina contra o HPV pode causar efeitos colaterais leves, como dor no local na injeção, dores de cabeça, tonturas e náuseas. Como a vacina será administrada em milhões de pessoas, é natural que nos próximos meses e anos sejam reportados vários casos de efeitos colaterais leves. Isso, porém, não significa que a vacina seja perigosa e não deva ser tomada. Várias outras vacinas presentes no calendário vacinal há décadas também apresentam efeitos colaterais leves frequentes.

Só como exemplo, um estudo americano conduzido pelo CDC (Centers for Disease Control and Prevention) demonstrou que entre 2006 e 2013 foram administradas mais de 57 milhões de doses da vacina quadrivalente.

O número de casos de efeitos colaterais reportados foi de cerca de 21 mil, ou seja, 0,03% das vacinações. Destes 21 mil, 19 mil foram efeitos colaterais leves, como dor no local da injeção. Nos restantes 2000 casos considerados moderados a grave (0,003%), a maioria foi de náuseas, vômitos, mal-estar, dor de cabeça, tonturas, hipotensão, febre, desmaios e fraqueza generalizada.

Até 2011, 34 mortes haviam sido reportadas após a administração da vacina. Porém, em nenhuma delas foi possível estabelecer uma relação direta com o fato do paciente ter sido vacinado recentemente.

Também não há evidências de que a vacina contra o HPV aumente o risco da ocorrência da síndrome de Guillain-Barré. Um estudo também conduzido pelo CDC entre 2006 e 2012 mostrou que após 1,4 milhão de doses da vacina Gardasil contra o HPV, a taxa de novos casos de Guillain-Barré nas mulheres vacinadas era semelhante a taxa de Guillain-Barré na população não vacinada.

Dois efeitos colaterais, porém, parecem ser mais comuns na vacina contra HPV do que em outras vacinas: síncope (desmaios) e trombose venosa. Ainda assim, dos 31 casos reportados de trombose venosa dos membros inferiores, 29 ocorreram em pacientes que apresentavam fatores de risco para trombose, como uso de anticoncepcionais hormonais ou história de doenças da coagulação.

Portanto, não há dados para afirmar que a vacina tenha tido alguma relação com os casos de trombose.

Pelo baixo, mas real, risco de desmaios, sugere-se o que o paciente fique 15 minutos em repouso após a vacinação. É importante destacar que desmaio após vacinação é um evento relativamente comum para todos os tipos de vacina, principalmente nos pacientes jovens com medo de agulha.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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Comentários e perguntas

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11 respostas para “Vacina contra HPV: eficácia e segurança”

  1. Jenaina

    Quem tomou a vacina do HPV e engravidou no mesmo mês, coloca a mãe ou o feto em risco?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Não.

  2. lays

    Bom, apareceram pquenas verrugas na area genital, estou muito. Preocupada

  3. sandra

    Minha filha está com verrugas genitais. Existe alguma vacina que elimine o vírus do organismo dela?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Não, mas na maioria dos casos, com o tempo o próprio corpo irá eliminar o vírus.

  4. Bianca

    tomei a vacina contra o hpv e minha menstruacao esta atrasada, a vacina pode ocasionar isso??

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Não costuma, mas pode ser.

      1. Bianca

        Porque não costuma ?? tipo eu tomei hpv uns 5 dias antes da minha menstruação descer…

        1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
          Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

          Porque a vacina não interfere com o ciclo hormonal. Não é esperado que ela atrase a menstruação.

  5. RenataCMS

    Existe risco de morrer tomando essa vacina?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD.Saúde

      Não existe medicamento isento de riscos. Nem a chamada medicina natural apresenta tratamentos 100% seguros. A questão não é saber se a vacina contra HPV apresenta riscos, mas sim qual é o percentual de risco. Neste caso, o risco de morte é muito, muitíssimo baixo, praticamente irrelevante.