Oxiuríase: infecção pelo verme Enterobius vermicularis

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Resumo do artigo: TL; DR

  • O Enterobius vermicularis é um verme branco e cilíndrico de cerca de 1 cm, causador da verminose intestinal chamada enterobíase ou oxiuríase.
  • O verme se reproduz ao implantar seus ovos na região do ânus, o que desencadeia o seu principal sintoma: a coceira anal, que pode ser intensa e prejudicar o sono.
  • Os seres humanos são o único hospedeiro natural deste verme, e a infecção é comum em crianças entre 5 a 10 anos de idade.
  • Pessoas infectadas podem não apresentar sintomas, mas em casos de infecção intensa, é comum surgir dor abdominal, nauseas e vulvovaginite nas mulheres.
  • O tratamento é simples e envolve medicamentos como Albendazol ou Mebendazol. Recomenda-se tratar todos os membros da família para evitar reinfecção.
  • Medidas preventivas incluem higiene rigorosa, lavagem regular das roupas de cama e toalhas, e cuidado com a limpeza dos brinquedos das crianças.

O que é o Oxiurus vermicularis?

O oxiúro (alguns chamam de oxiúrus ou oxiúros), conhecido cientificamente como Enterobius vermicularis ou Oxiurus vermicularis, é um helminto nematódeo (verme) de forma cilíndrica e cor branca, que mede cerca de 1 cm e provoca uma verminose intestinal denominada enterobíase, oxiuríase ou oxiurose. Na linguagem popular, o oxiúros é conhecido como tuxina.

A oxiuríase é uma parasitose cujo principal sintoma é a uma coceira anal, geralmente intensa e com predomínio noturno, o que costuma atrapalhar o sono dos indivíduos acometidos.

O ser humano é o único hospedeiro natural do oxiúro, e sua infecção ocorre em todos os países e grupos socioeconômicos. A enterobíase pode surgir em qualquer idade, mas é observada com maior frequência entre as crianças em idade escolar de 5 a 10 anos, sendo relativamente rara em crianças com menos de 2 anos de idade.

O Enterobius vermicularis é um verme que vive no intestino dos humanos, mais especificamente na região do ceco (início do intestino grosso) e do apêndice.

Após o acasalamento, o macho morre e é eliminado pelas fezes. As fêmeas grávidas permanecem no ceco e, à noite, se movem através do intestino em direção ao ânus, local onde costumam implantar seus ovos. Cada fêmea pode colocar até 10.000 ovos.

Após a deposição dos ovos, a fêmea tenta retornar para dentro do ânus, algumas conseguem, outras não, sendo eliminadas nas fezes.

Oxiúros
Oxiúros – aproximadamente 1,0 cm de comprimento

Transmissão do oxiúros

O Enterobius vermicularis tem um ciclo de vida relativamente simples, que se inicia com a deposição de ovos pelas fêmeas grávidas na mucosa da região perianal. A partir deste momento, a infecção costuma seguir três caminhos:

1. Autoinfecção

A presença dos ovos provoca intensa coceira anal. Se o paciente coçar a região do ânus, ele pode contaminar suas mãos e unhas com os ovos do verme. Se a mão contaminada for levada à boca em algum momento, o paciente volta a se contaminar. Os ovos ingeridos eclodem no intestino delgado, dando origem a uma nova geração de Enterobius vermicularis.

2. Retroinfecção

Após 3 semanas, os ovos implantados na região perianal eclodem e dão origem a novos vermes. Estes vermes podem entrar pelo ânus e seguir em direção ao ceco, onde irão se acasalar novamente.

3. Heteroinfecção

A transmissão do oxiúros para outras pessoas pode ocorrer através de mãos contaminadas com ovos.

O paciente coça o ânus, contamina suas mãos e pode transmitir os ovos ao preparar alimentos, manipular objetos ou cumprimentar outros indivíduos.

Pessoas que moram no mesmo ambiente de pacientes contaminados são as que têm mais riscos de serem contaminadas. Toalhas e roupas de cama estão frequentemente infectadas com ovos de Enterobius vermicularis, o que facilita o contágio dos cônjuges.

Os ovos começam a perder a capacidade de infectar após 1 ou 2 dias sob condições quentes e secas, mas podem sobreviver por mais de duas semanas em ambientes frescos ou úmidos.

Sintomas

A maioria dos pacientes infectados pelo oxiúros não apresenta sintomas. Em geral, os sintomas surgem quando o paciente já se reinfectou sucessivamente, a ponto de ter uma grande quantidade de vermes no seu trato intestinal, o que pode ocorrer somente meses depois da contaminação inicial.

Quando o verme provoca sintomas, o mais comum é a coceira anal. Em alguns casos, a coceira é intensa e deixa o paciente inquieto e com dificuldade de dormir. Os vermes adultos podem migrar para locais além do ânus, como a região vaginal. Nas mulheres pode haver vulvovaginite (inflamação da vulva e da vagina), coceira e corrimento vaginal.

Oxiúrus adultos na região perianal
Oxiúrus adultos na região perianal

Ocasionalmente, em paciente que se auto contaminam repetidamente, a carga de vermes nos intestinos pode ser tão alta, que o paciente passa a sentir os sintomas típicos das parasitoses intestinais, tais como dor abdominal, dor para evacuar, náuseas e vômitos. A obstrução do apêndice pelos vermes é possível, podendo provocar um quadro de apendicite aguda.

Os pacientes que coçam a área anal freneticamente podem provocar escoriações na mucosa, facilitando a infecção das feridas por bactérias.

Diagnóstico

Como a eliminação do Enterobius vermicularis pelas fezes pode ser errática, ou seja, não apresenta um calendário regular ou previsível, o exame parasitológico de fezes comum não costuma ser positivo para o verme ou seus ovos. Com este exame, somente 10% dos pacientes infectados conseguem ser diagnosticados.

A oxiuríase é mais facilmente diagnosticada através do método de Graham, no qual se usa uma fita adesiva na pele ao redor do ânus para que os ovos localizados nesta região adiram à fita. Estes ovos, então, são colocados sobre uma lâmina de vidro e visualizados sob um microscópio.

Material colhido da unha de crianças infectadas também pode ser útil para avaliação microscópica, pois frequentemente contém ovos de oxiúros.

Tratamento

O tratamento da oxiuríase é simples e deve ser feito preferencialmente em todas as pessoas que moram na mesma casa.

As opções mais usadas para tratar a oxiuríase são:

  • Albendazol, 10 mg/kg em dose única, até o máximo de 400 mg. Repete-se a dose em duas semanas.
  • Mebendazol, 100 mg, 2 vezes ao dia*, durante 3 dias consecutivos. Repete-se a dose em duas semanas.
  • Pamoato de pirantel, 10 mg/kg, dose única, até o máximo de 1000 mg.

* 100 mg em dose única é uma alternativa sugerida por alguns autores.

A taxa de cura com estes esquemas é elevadíssima, acima de 95%. Entretanto, se as pessoas que moram na mesma casa não forem também tratadas, o risco de reinfecção é alto.

Também de forma a prevenir reinfecções, roupas de cama, toalhas, cuecas, calcinhas e pijamas devem ser lavados e trocados diariamente por pelo menos 2 semanas. Brinquedos devem ser lavados a cada 3 dias por pelo menos 3 semanas. As unhas devem ser cortadas bem rente para dificultar a deposição de ovos entre as mesmas durante o ato de coçar o ânus.

Como o verme costuma colocar seus ovos durante a noite, tomar banho e lavar a região perianal de manhã, assim que acordar, ajuda a eliminar esses ovos, diminuindo o risco de surgimento de uma nova geração de vermes dentro de 3 semanas. Também é importante lavar bem as mãos antes de cada refeição e após qualquer evacuação.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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100 comentários em “Oxiuríase: infecção pelo verme Enterobius vermicularis”

  1. No início da matéria é afirmado que só o ser humano é o hospedeiro desse verme, porém minha filha tem três gatas que estão infestadas e já dei albendazol e pyverm tanto em gotas quanto em comprimidos e mesmo assim não está matando o parasita. Não é nem reinfestaçao, é que não está matando os vermes mesmo. Por isso estou pesquisando outro medicamento.

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    • Não é o mesmo verme. Enterobius vermicularis só infecta humanos. Animais domésticos são infectados por outras espécies, por isso o tratamento não está funcionando. Não é oxiuríase o que os seus gatos têm.

      Responder
  2. Olá Dr.
    Andei a pesquisar e apareceu-me esta matéria que, por sinal, é muito boa e completa.
    Tenho uma comichão imensa no ânus. Acordo de noite com comichão também. E penso estar a alastrar-se para a zona genital.
    Já o ano passado tive estes sintomas, quando começa a vir o tempo mais quente e se transpira. Porém, corri vários médicos, desde médico de família, a dermatologista e ninguém me soube dizer o que era, pois diziam que não tinha nada. Esta última, referiu que era uma dermatite de contacto. Contudo, o tratamento não fez efeito.
    Como podem dizer que não tenho nada, se a coceira no ânus é enorme?
    Fiz exame às fezes e deu negativo. Não me fizeram mais nenhum teste parasitológico. Não me recordo como a comichão passou (o ano passado), porque nada do que coloquei, via tópica, fez efeito.
    Esses tratamentos que o doutor descreve, têm de ser prescritos por um médico, ou são de venda livre?
    Obrigada!

    Responder