Morte súbita em bebês: causas e prevenção

Dr. Pedro Pinheiro

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O que é a síndrome da morte súbita do lactente?

A síndrome da morte súbita do lactente (SMSL) é a principal causa de morte em bebês com menos de 1 ano de vida. Ela é caracterizada por um quadro de morte súbita, inesperada e sem causa aparente, que ocorre, em geral, durante o sono noturno de um bebê aparentemente saudável e que permanece inexplicada após uma extensa investigação, incluindo a autópsia.

A síndrome da morte súbita do lactente, também chamada de síndrome da morte súbita infantil ou “morte do berço” é uma situação rara, porém traumática, pois ela é totalmente inesperada.  A sua real incidência no Brasil é desconhecida, mas imagina-se que seja semelhante a de outros países, com média de 1 a 5 casos para cada 10.000 bebês. Nos E.U.A, ocorrem, a cada ano, cerca de 2500 casos de morte súbita em bebês.

O diagnóstico da síndrome da morte súbita do lactente só pode ser estabelecido depois de descartadas outras possíveis causas de morte, como maus-tratos, acidentes, envenenamento, infecções ou doenças genéticas previamente desconhecidas. Em apenas 15% dos casos de morte súbita é possível identificar uma causa para morte.

A morte súbita do bebê ocorre habitualmente em crianças com idade entre 1 mês e 1 ano de vida, mas 90% dos casos acometem bebês com menos de 6 meses. A época mais perigosa, com maior número de casos, é entre 2 e 4 meses. A maioria dos bebês morre durante o sono, geralmente entre meia-noite e 6 da manhã, e não há sinais de que eles tenham tido qualquer tipo de sofrimento. 60% dos casos ocorrem em meninos.

É importante destacar que a SMSL não é um sinal de negligência dos pais. Essa forma de morte súbita não é causada por vacinações nem é contagiosa. Bebês e crianças que tiveram contato recente e próximo com um bebê falecido não correm nenhum risco. Também não existem evidências de que a SMSL tenha algum fator hereditário. O risco de uma família que já teve um caso de morte súbita infantil ter um novo episódio com um segundo filho é de apenas 1%.

Causas

Como acabamos de referir, para ser considerada síndrome da morte súbita infantil, o bebê falecido não pode ter nenhuma causa identificável de morte. Isso não significa, porém, que a SMSL não tenha uma causa. Com certeza tem, nós é que ainda não conseguimos identificá-la.

Entre as teorias mais aceitas atualmente, uma tem ganhado bastante destaque. Imagina-se que a SMSL ocorra por um atraso na maturidade do tronco cerebral do bebê, área do sistema nervoso central que controla a respiração, os batimentos cardíacos e a pressão arterial. Bebês propensos à morte súbita têm maior dificuldade de acordar quando submetidos a situações de estresse, como baixa oxigenação ou excesso de calor.

A teoria da imaturidade do sistema nervoso central é corroborada pelo fato da morte súbita ser mais comum em bebês prematuros ou com baixo peso ao nascimento.

Fatores de risco

Somente a imaturidade do sistema nervoso cerebral não parece ser suficiente para explicar a ocorrência da morte súbita nos bebês. O mais provável é que o quadro de SMSL seja multifatorial, ocorrendo quando um bebê com maior predisposição é submetido a uma ou mais situações de risco, como as que serão explicadas a seguir.

Estudos mostram que em 95% dos bebês que sofreram uma morte súbita inexplicável é possível identificar pelo menos 1 fator de risco. Em 88% dos casos, 2 ou mais fatores de risco podem ser apontados.

Dormir de bruços pode causar morte súbita em bebês

Entre os principais fatores de risco, um deles se destaca: dormir de bruços, ou seja, com a barriga para baixo.

Posição de risco para síndrome da morte súbita do lactente
Posição de risco para síndrome da morte súbita do lactente

A partir da década de 1990, várias sociedades internacionais de pediatria lançaram campanhas para estimular os pais a colocar os bebês para dormir de barriga para cima. Nos E.U.A, em 1992, cerca de 75% dos bebês dormiam de barriga para baixo. Após 10 anos de campanha, essa taxa caiu para apenas 11%. Esta simples mudança na posição de dormir foi responsável por uma redução de 58% nos casos de morte súbita em bebês.

A posição com maior risco é a de bruços. Deixar o bebê dormir de lado também é perigoso, apesar de não tanto quanto de bruços. A forma mais segura de pôr o seu bebê para dormir é de barriga para cima.

Por imaturidade do sistema nervoso central, bebês muito novos parecem ter menos capacidade de reconhecer que estão sufocando, por isso, não costumam acordar nem mudar de posição quando estão com dificuldade para respirar durante o sono. Dormir de barriga para baixo dificulta a respiração do bebê e facilita que ele fique com a cara voltada para o colchão, o que favorece a obstrução das vias aéreas. Por esse motivo, colchões muito moles ou a presença de travesseiro, panos ou lençóis ao redor da cabeça do bebê também devem ser evitados.

Dormir no mesmo quarto dos pais diminui o risco de morte súbita, mas dormir na mesma cama que eles aumenta, pois torna a superfície do colchão mais irregular. Alguns pediatras também não recomendam que bebês gêmeos durmam no mesmo berço.

Morte súbita do lactente
Colchão que impede que o bebê vire-se durante o sono

Também é importante evitar que o bebê durma durante muitas horas em locais que não sejam a cama do berço. Cadeirinhas para carro, bebê-conforto ou carrinho de bebê são feitos para transportar o bebê e não devem substituir a cama durante a noite.

Ambientes quentes podem ser perigosos para o bebê

Outro fator que costuma estar ligado à morte súbita do bebê é o calor. Quartos com temperatura muito elevada ou bebês que dormem com excesso de roupa e com muitas cobertas estão sob maior risco.

Como os bebês perdem muito calor pela face, dormir de barriga para baixo em quartos quentes torna-se perigoso, pois além de não conseguir respirar bem, a face encostada à cama tem menor capacidade de dissipar calor.

Relação do cigarro com a morte súbita de bebês

Outro importante fator de risco para morte súbita de bebês é o tabagismo materno. Mães que fumam durante a gravidez ou que voltam a formar logo após o parto, expondo o bebê ao fumo passivo, aumentam muito o risco da SMSL.

O contato precoce com a fumaça ou com as toxinas do cigarro ainda no período intrauterino altera o funcionamento normal cardiovascular e respiratório, tornando o bebê mais susceptível a episódios de sufocamento na cama.

Mães que usam drogas ilícitas ou abusam de álcool também têm maior risco de terem um bebê que apresente morte súbita.

Outros fatores de risco

Segundo a Biblioteca Nacional de Medicina dos Estados Unidos, os seguintes pontos também estariam relacionados à morte súbita infantil:

  • Multiparidade (gêmeos, trigêmeos, etc.).
  • Nascimento prematuro.
  • Tem um irmão ou irmã que sofreu SMSL.
  • Intervalo de tempo curto entre gravidezes.
  • Mãe adolescente.
  • Viver em condições de pobreza.
  • Ausência de pré-natal ou início tardio do mesmo.
  • Dormir na mesma cama que os pais.

Como reduzir o risco de morte súbita?

O que deve ser evitado:

  • Como já explicado neste texto, a atitude que mais reduz o risco de morte súbita do lactente é colocar o bebê para dormir de costas, com a barriga para cima. Bebês muito pequenos não mudam de posição durante o sono. Se você o puser de barriga para acima, assim ele ficará, caso a cama seja firme e não tenha irregularidades.
  • Bebês devem dormir na cama, evite deixá-lo a noite toda no carrinho ou no bebê-conforto.
  • Evite objetos na cama que possam ser puxados de forma acidental para a cara a do bebê, como panos ou lençóis.
  • Bebês não precisam de travesseiros nem cobertor.
  • Evite colchões muito macios.
  • Não deixe o bebê dormir na sua cama durante a noite.
  • Não fume na gravidez nem após o parto.
  • Não deixe o quarto do bebê ficar muito quente. Se você mora em locais frios, cuidado para não vestir o bebê com excesso de roupas.

O que pode ajudar:

  • Dormir no mesmo quarto dos pais (não na mesma cama) até os 6 meses.
  • Uso de chupetas exclusivamente à noite para dormir a partir do primeiro mês de vida. Atenção: chupetas antes do primeiro mês podem atrapalhar o aleitamento materno e após os 2 anos podem atrapalhar a dentição.
  • Aleitamento materno diminui o risco de SMSL.
  • Mantenha a temperatura do quarto ao redor dos 23ºC, de forma a que o bebê possa ficar confortável sem precisar se agasalhar excessivamente.

Existem no mercado alguns monitores de respiração e batimentos cardíacos para bebês. Os estudos, porém, mostraram que esses aparelhos não diminuem o risco de síndrome da morte súbita do lactente, por isso, não são recomendados.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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14 respostas para “Morte súbita em bebês: causas e prevenção”

  1. Renata

    Minha bebê tem 40 dias e ela dorme na minha barriga. E tbm dorme na cama comigo. Tem perigo de morte súbita?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Essa forma de dormir acarreta em maior risco.

  2. Poliane

    No caso, não tem problema o bebê dormir de bruços a partir dos 6 meses?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      O ideal é que ele durma de barriga pra baixo apenas quando já conseguir mudar de posição sozinho. Até lá, a barriga pra cima é mais seguro.

  3. Hozana

    Meu filho tem 2 meses, estava deitado na rede com manta crosta em baixo, eu estava tomando banho e ele chorou, fraco, estranho. Fui vê_ lo e ele Tava com a manta no rosto, parou de chorar, só com os olhos abertos, e muito mole, sem nenhuma reação, balancei p ver se ele tava sonhando e nada. Fiquei pegando nele e foi retornando aos poucos….. Será que foi asfixia? Devo levá-lo ao médico?

    1. Avatar de Pedro Pinheiro
      Pedro Pinheiro

      Pode ter sido. Acho que vale a pena sim ele ser visto pelo pediatra. Só para ter certeza que ficou tudo bem mesmo.

  4. Priscila Guimarães

    Dr meu filho morreu de morte súbita, e na hora estava deitado de barriga pra baixo na minha barriga, será q isso pode ter ajudado mais ter acontecido isso?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Priscila, antes de mais nada, lamento pela sua perda. Sim, ficar de barriga para baixo é considerado um fator de risco para morte súbita em bebês.

  5. Kelly Melegari

    Dr. Dormir de barriguinha pra cima, não corre o risco de engasgar? No hospital que fiquei intentada eles pedem para que deixem o bebê deitado de lado e meio inclinado para não engasgar.

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Barriga pra cima é a forma mais segura. Para evitar o risco de engasgo, o ideal é não pôr o bebê imediatamente para dormir depois de mamar e sem antes ter arrotado. Se conseguir deixar o tronco discretamente mais alto que as pernas também reduz o risco de engasgo. De lado, o risco de engasgo é menor, mas o de morte súbita parece ser maior. Porém, é bom lembrar que ambas as situações são raras. A imensa maioria dos bebês nem engasgam nem têm morte súbita.

  6. Bruna Baratela

    Dr, boa noite. Sou odontóloga e tenho trabalhado em um artigo cientifico sobre pacificadores. Um dos meus tópicos em defesa deles é a prevenção da SMSL. Mas gostaria de saber porque a chupeta ajuda, qual é a relação? Obrigada

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Sabemos através de metanálises e estudos observacionais que os bebês que usam chupeta apresentam menor risco de morte súbita, porém, o mecanismo pelo qual a chupeta exerce os seus efeitos protetores ainda não é conhecido.

      Veja esse artigo: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed?term=25169652

  7. RenataCMS

    Dr, quando o bebê faz um ano a mãe já pode ficar descansada quanto ao risco de morte súbita infantil?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde
      Dr. Pedro Pinheiro - MD. Saúde

      Sim. Na verdade, a partir dos 6 meses, o risco de morte súbita em bebês, que já é naturalmente pequeno, torna-se quase desprezível, pois menos de 10% dos casos ocorrem entre 6 meses e 1 ano. A fase mais preocupante é mesmo entre 2 e 4 meses.