O papel da pele íntegra
A pele é o maior órgão do nosso corpo. Ela é também nossa principal arma de defesa contra germes, sendo o nosso escudo protetor que impede o contato dos micróbios do ambiente com o nosso meio interno.
Apesar da pela ser colonizada por bilhões de bactérias potencialmente causadoras de doença, nós não ficamos doentes porque elas não conseguem entrar no nosso corpo. A pele íntegra nos protege.
Os problemas começam a surgir quando esta proteção é rompida, como nos casos de feridas e lesões da pele. A partir deste momento, estabelece-se uma porta de entrada para os germes externos que poderão levar a infecções.
Tipos de lesão na pele
Podemos dividir as feridas da pele pelo mecanismo de lesão:
- Incisas ou cortantes: são aquelas causadas por faca, bisturi, lâmina, etc.
- Perfurante: causada por objetos pontiagudos como pregos e alfinetes.
- Escoriação: quando a lesão ocorre na superfície da pele, como quando caímos e ralamos o joelho ou qualquer outra parte no chão.
- Laceração: é uma escoriação mais profunda e que acomete o tecido subcutâneo
- Contusas: lesões traumáticas de grande força que lesam os tecidos abaixo da pele, como em um soco ou trauma da cabeça. Normalmente causam equimoses (manchas roxas ao redor da lesão).
- Queimaduras: lesão da pele por calor, descarga elétrica, frio excessivo ou contato com produtos químicos abrasivos.
A maioria das lesões apresenta mais de um tipo de característica, como perfuro-cortantes, corto-contusas, etc.
As feridas também podem ser classificadas pelo grau de contaminação.
- Limpas: são as feridas provocadas intencionalmente por médicos nos procedimentos cirúrgicos.
- Contaminadas: São aquelas que tiveram contato com materiais sabidamente sujos como terra, mordidas de animais ou humanos, cortes na rua, etc.
- Feridas infectadas: são as que apresentam sinais de infecção.
15 dicas de como tratar as feridas
O tratamento das feridas depende das características descritas acima. O que vamos descrever a seguir são as principais medidas que você pode tomar em casa para impedir que uma ferida infeccione.
1- Antes de manusear qualquer lesão, lave as mãos com água e sabão (ou álcool gel, se disponível).
2- Pequenos cortes, perfurações superficiais e escoriações podem ser tratados apenas com limpeza local. Água e sabão neutro são suficientes na maioria dos casos. Outra opção é irrigação com soro fisiológico. Deve-se limpar até desaparecer qualquer sinal de sujeira ou corpo estranho, como terra, grama, etc.
3- Lesões mais profundas e cortes mais extensos devem ser avaliados por um médico para que ele possa dizer se há necessidade de realizar sutura com pontos. De qualquer modo, a limpeza primária pode ser feita ainda em casa com água corrente ou soro fisiológico. Se notar presença de corpo estranho na ferida, vá ao médico.
4- Nos casos de queimaduras leves, sem rompimento da pele, a limpeza é feita com água e sabão de modo suave. Nunca estoure as bolhas! Não use manteiga, margarina, ou qualquer outra substância não esterilizada. Queimaduras mais graves devem ser avaliadas por médicos (leia: Queimaduras – Graus, complicações e tratamento caseiro).
5- O uso excessivo de substâncias desinfetantes pode atrapalhar o processo de cicatrização. Mais uma vez, água e sabão são suficientes para a maioria das lesões pequenas. Deixe que o médico indique a utilização de anti-sépticos. Evite usar álcool ou iodo em feridas abertas sem a indicação do médico, já que estas substâncias podem irritar a lesão e piorar a inflamação.
6- Mantenha a ferida sempre limpa. Procure protegê-la com um curativo ou Band-Aid, principalmente se forem em locais como mãos e pés, que entram em contato com áreas contaminadas com frequência.
7- Escoriações ou lesões úmidas devem ser cobertas somente com curativo não aderente (Band-Aid) para evitar que o mesmo grude na ferida e cause nova lesão quando for ser retirado. Não utilize algodão. Nunca use fita adesiva diretamente na lesão.
8- Se a lesão está sangrando, use um pano limpo, gaze ou compressas para comprimi-la. Se o sangramento é intenso ou em jato, comprima a lesão com força e vá imediatamente a uma emergência.
9- Nunca lamba as feridas. Você não é cachorro e a sua saliva contém milhões de bactérias que podem causar infecções graves se entrarem em contato com uma ferida. A nossa boca é tão contaminada por bactérias, que uma mordida humana é considerada uma lesão muito mais grave que uma mordida de cão ou gato.
10- Em caso de mordida de animais procure saber do estado vacinal do animal e vá a um médico. São feridas que infeccionam com muita facilidade. A raiva não tem cura e a mortalidade é de quase 100% (leia: RAIVA HUMANA).
11- Se após algumas horas surgirem qualquer sinal de infecção da lesão, como edema, uma área de vermelhidão, febre ou saída de pus, procure atendimento médico, mesmo que a lesão seja pequena.
12- Se não for vacinado ou tiver tomado a última dose há menos de 10 anos, procure um hospital para tomar a vacina contra tétano, inclusive em casos de mordidas e queimaduras. Leia: TÉTANO. VACINA E SINTOMAS
13- Se você for diabético ou imunossuprimido, tenha especial atenção às suas lesões, pois o risco de infecção é mais alto. Na dúvida, visite um médico.
14- Se você tem uma ferida que não cicatriza apesar de todos os cuidados, procure atendimento, isto pode ser sinal de diabetes mellitus ou alguma outra doença.
15- Se após alguns dias a ferida estiver muito avermelhada, dolorosa e com a pele quente, isso é sinal de infecção. Procure um médico, pois é possível que seja necessário iniciar antibiótico.
Complicações das feridas de pele
A maioria das pessoas já passou por situações em que tiveram lesões e machucados na pele, não deram muita atenção e nada aconteceu. Em geral, pequenas lesões são negligenciadas pelos pacientes devido à baixa frequência de complicações.
O problema é que mesmo lesões pequenas e aparentemente inocentes podem complicar.
Quadros de infecção do tecido subcutâneo, como a erisipela ou celulite, podem surgir de feridas que parecem bobas. Até picadas de inseto podem infectar, como aconteceu na foto acima.
Portanto, cuide bem das suas feridas. Lavar com água e sabão é barato, não dá trabalho nenhum e pode prevenir infecções graves.
Autor(es)
Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.
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