Melhores métodos anticoncepcionais durante a amamentação

Dr. Pedro Pinheiro

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Introdução

Mulheres que fazem aleitamento exclusivo dos seus bebês costumam não ovular nem menstruar. A própria amamentação serve como método contraceptivo e sua taxa de sucesso é de 98% nos 6 primeiros meses.

Quando o aleitamento exclusivo é interrompido, geralmente aos 6 meses, o bebê começa a mamar menos e o estímulo para supressão da ovulação diminui. Em geral, a mulher volta a ovular entre o 6.º e o 10.º mês após o parto, mas isso pode ocorrer antes ou depois consoante a frequência da amamentação. Há mulheres que voltam a ovular com menos de 2 meses e outras que ficam até quase 1 ano e meio sem ovular nem menstruar.

Uma vez que a sua ovulação volte a ocorrer, você já pode engravidar novamente. Para a maioria das mulheres, a ovulação ocorre 2 semanas antes do início da menstruação. Isso significa que você pode engravidar mesmo que ainda não tenha menstruado novamente.

Como é impossível prever o momento do retorno da ovulação, e como a primeira ovulação após o parto acontecerá antes da primeira menstruação após o parto, as mulheres em aleitamento que tenham vida sexual ativa precisam escolher um método contraceptivo para evitar o surgimento de uma nova gravidez com tão pouco tempo de intervalo para a última.

Neste artigo discutiremos as opções mais adequadas de contracepção para as mulheres que estão amamentando.

Quando a mulher que amamenta deve voltar a usar método anticoncepcional?

Mulheres que têm um bebê e optam por não iniciar aleitamento materno costumam voltar a ovular com aproximadamente 6 semanas. Esse intervalo acaba sendo o limite que a maioria dos médicos considera seguro para recomeçar a anticoncepção, mesmo nas mulheres que optam pelo aleitamento exclusivo.

Portanto, pelo risco de nova gravidez, não é aconselhado sexo sem um método contraceptivo após a 6.ª semana pós-parto.

Há, entretanto, uma corrente crescente de médicos que sugerem o reinício da contracepção imediatamente após o parto através de métodos não hormonais, como a camisinha ou DIU. É perfeitamente possível que o obstetra faça a implantação do DIU após a expulsão da placenta ou logo antes da alta hospitalar. Discutiremos as vantagens e desvantagens dessa conduta mais adiante.

Se a mulher deseja voltar a tomar anticoncepcionais hormonais, o tempo mínimo de intervalo para o parto é de 3 a 4 semanas. Muitos médicos, porém, preferem esperar até a 6.ª semana. O tipo de anticoncepcional é importante, pois o estrogênio tem efeitos deletérios sobre a amamentação e pode passar para o bebê através do leite.

Vamos resumir os prós e contras dos principais métodos contraceptivos que podem ser usados durante o aleitamento.

Anticoncepcionais hormonais

Os anticoncepcionais hormonais são habitualmente compostos de estrogênio e/ou progesterona. Destes dois, apenas a progesterona é permitida durante o aleitamento, pois o estrogênio apresenta três potenciais problemas:

  • Nos primeiros 30 dias pós-parto, as mulheres apresentam naturalmente um maior risco de desenvolver fenômenos trombóticos. O uso de estrogênio aumenta ainda mais esse risco (para saber mais, leia: Efeitos colaterais dos anticoncepcionais e Trombose venosa profunda).
  • O estrogênio pode alterar a qualidade e a quantidade do leite produzido, principalmente nos primeiros meses.
  • O estrogênio pode passar para o bebê através do leite, o que é potencialmente danoso, pois tanto o fígado quanto os rins da criança ainda são muito imaturos e não conseguem nem metabolizar, nem excretar o hormônio recebido.

Portanto, se a mulher amamentando optar por um método contraceptivo hormonal, as suas opções se restringem aos métodos que contenham exclusivamente progesterona. As melhores opções são:

Implante subcutâneo de etonogestrel — Implanon®

Esse implante é um anticoncepcional hormonal à base de etonogestrel (progesterona sintética), que tem um formato de um bastonete e deve ser inserido no tecido subcutâneo. Sua taxa de eficácia é maior que 99% e o seu efeito dura por 3 anos.

O implanon® pode ser inserido a qualquer momento após o parto e não tem nenhuma influência sofre a amamentação.

Anel vaginal de etonogestrel — Implanon®

O implanon® também é vendido sob a forma de anel vaginal. A sua implantação pode ser feita a qualquer momento após o parto e o anel deve ser trocado a cada 3 semanas.

Injeção intramuscular de Acetato de Medroxiprogesterona — Depo Provera® 150 mg

O Depo provera® 150 mg é uma injeção intramuscular de progesterona que deve ser aplicada a cada 12 semanas. A injeção pode ser administrada a qualquer momento no pós-parto e sua taxa de eficácia é maior que 99% (leia: 20 Métodos anticoncepcionais e suas taxas de sucesso).

Minipílula

A minipílula é uma pílula anticoncepcional composta exclusivamente por progesterona. Existem três opções de minipílula no mercado:

  • Noretisterona 0,35 mcg (nomes comerciais: Norestin, Micronor).
  • Desogestrel 0,075 mcg (nomes comerciais: Cerazette, Nactali, Juliet, Kelly).
  • Linestrenol 0,5 mcg (nomes comerciais: Exluton).

A minipílula pode ser iniciada a qualquer momento no pós-parto. Sua taxa de sucesso é um pouco mais baixa que as pílulas tradicionais, pois, para ter efeito máximo, ela precisa ser tomada diariamente mais ou menos na mesma hora. Um simples atraso de 3 ou 4 horas é suficiente para a pílula perder o seu efeito protetor.

Temos um artigo exclusivo sobre a minipílula, que pode ser acessado através do seguinte link: Minipílula: vantagens e desvantagens.

Pílula do dia seguinte

A pílula do dia seguinte composta por levonorgestrel pode ser utilizada por mulheres que estão amamentando.

Porém, é importante lembrar que essa é uma forma de contracepção de emergência, indicada apenas para situações excepcionais. O seu uso deve ser pontual. Não se deve utilizar a pílula do dia seguinte como método contraceptivo de uso frequente, principalmente durante o aleitamento materno, pois ela contém doses de hormônio maiores que as pílulas normais.

Para saber mais, leia: Pílula do dia seguinte – Como tomar, eficácia e efeitos.

Dispositivos intra-uterinos (DIU)

O DIU tem se tornado o método contraceptivo mais indicado pelos ginecologistas, devido à sua elevada eficácia, longa duração e baixa incidência de efeitos adversos graves.

Tanto o DIU de cobre como o DIU de progesterona podem ser implantados em mulheres que estão amamentando. A colocação do dispositivo pode ser feita 10 minutos após a expulsão da placenta, antes do momento da alta hospitalar ou somente após 6 semanas.

A vantagem da implantação do DIU após 6 semanas do parto é uma baixa taxa de expulsão espontânea do dispositivo. Enquanto a colocação do DIU logo após o parto apresenta uma taxa de expulsão de 20 a 40%, o DIU inserido após 6 semanas tem uma taxa de apenas 4%.

Falamos especificamente sobre o DIU no seguinte artigo: DIU de Cobre e DIU Mirena – Anticoncepcional Intrauterino.

Camisinha

A camisinha, seja masculina ou feminina, é uma opção óbvia de contracepção para as mulheres que estão amamentando, mas não querem tomar nenhuma substância hormonal nem implantar o DIU.

A camisinha tem uma taxa de eficácia um pouco mais baixa que o DIU e a pílula, mas ela apresenta uma vantagem que nenhum dos dois possui: evita a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis.

Explicamos o uso da camisinha no seguinte artigo: Eficácia da camisinha masculina.

Laqueadura tubária

Para as mulheres já com prole estabelecida e que têm certeza que não vão querer engravidar de novo, a ligadura das trompas é uma das melhores opções, pois não interfere em nada com o aleitamento materno.

A laqueadura é um método contraceptivo definitivo e com taxa de eficácia de 99,5%. O procedimento costuma ser feito logo após o parto ou dentro de, no máximo, 24 horas.

Explicamos a laqueadura tubária em detalhes no seguinte artigo: Laqueadura tubária – Ligadura de trompas.

Amamentação como método contraceptivo

Como já referido, a própria amamentação serve como método contraceptivo, pois a elevação da prolactina, hormônio responsável pela produção de leite, também age inibindo os hormônios que estimulam a ovulação.

O problema da amamentação como método contraceptivo é que ele é pouco confiável, principalmente após o 6.º mês. A eficácia deste método depende da intensidade, da frequência do aleitamento e da sua exclusividade como fonte de alimentação do bebê.

Nos primeiros 6 meses são importantes os seguintes fatores:

  • Intervalos regulares entre cada mamada, não havendo intervalos maiores que 4 horas durante o dia ou 6 horas durante a noite.
  • Amamentação exclusiva ou quase exclusiva, correspondendo a, pelo menos, 90% da alimentação do bebê.
  • Evitar o uso excessivo de bombas de tirar leite, pois a sucção do bebê costuma ser muito mais efetiva para estimular a produção de prolactina.

Se você não consegue garantir as três condições acima, é temerário confiar apenas na amamentação como método contraceptivo.

Após 6 meses, o bebê começa a receber alimentos comuns e as frequências e intensidades das mamadas caem progressivamente. Quanto menos o bebê mama, maior é o risco da mãe voltar a ovular.

Após os 6 meses, nenhuma mulher deve confiar exclusivamente na amamentação como método para evitar a ovulação.


Referências


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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16 respostas para “Melhores métodos anticoncepcionais durante a amamentação”

  1. Simone

    Olá faço a injeção medroxiprogesterona posso tomar a pílula do dia seguinte?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Se você faz a injeção corretamente, não precisa.

  2. Mari

    Olá

    Minha bb tem 1 ano e 5 meses estou amamentando

    Qual anticoncepcional mais indicado para tomar?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Qualquer um dos indicados no texto. O melhor costuma ser o DIU, mas é uma questão de discutir com a sua ginecologista.

  3. Sarah Moraes

    Doutor, tirei uma trono e tenho um bebê de 6 meses que ainda está em aleitamento Materno combinado com a alimentação, continuo com o norestin ou tem outro anticoncepcional mais indicado?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Não é preciso trocar se você está bem adaptada ao anticoncepcional.

  4. Lucineia

    bom dia Doutor meu Bebê tem 8 meses se alimenta bem pouco e estou amamentando,tomo anticoncecional Nactali, Quando devo trocar ?pra ñ correr o risco de uma nova gravides?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Não é preciso trocar se você está bem adaptada ao atual.

  5. kaliane

    olá doutor, minha bebê tem 8 mês e não quer mais mamar. Minha menstruação não desceu qual o melhor remédio pra evitar que eu possa tomar sem que correr risco de engravidar?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Kaliane, você pode escolher qualquer uma das opções explicadas no texto. Não precisa ser um remédio para tomar, pode ser o DIU, por exemplo. O ideal é discutir com o seu ginecologista.

  6. Natália

    Olá doutor!

    Faz 5 semanas q ganhei meu bebê e estou amamentando. Posso tomar a pílula do dia seguinte? Ou não corro risco de engravidar ainda?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      5 semanas e ainda amamentando é muito pouco provável engravidar.

  7. Andressa

    Eu tomo norestin, e minha bebê tem 8 meses e está comendo, mas eu amamento ela, tenho que trocar meu anti por hormônios combinados ou continuo o norestin?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Enquanto você estiver amamentando, o ideal é manter o norestin (minipílula).

  8. Teresa

    Bom dia doutor Pedro, adorei a matéria. muito informativa.
    Posso ter relações sem camisinha no primeiro mês após o parto sem risco de engravidar? Estou amamentando.

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Sim, não é esperado que uma mulher volte a ovular ainda no primeiro mês pós-parto. Ainda mais se estiver amamentando. O risco começa a subir somente a partir da 6ª semana.