Alergia ao sêmen: causas, sintomas e tratamento

Dr. Pedro Pinheiro

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O que é a alergia ao sêmen?

A hipersensibilidade ao plasma seminal humano, conhecida popularmente como alergia ao sêmen, alergia ao esperma ou simplesmente alergia ao sexo, é uma rara reação alérgica que costuma surgir em mulheres que desenvolvem reação após terem contato com algumas proteínas presentes no sêmen.

os sintomas da alergia ao sêmen costumam surgir logo após o ato sexual. Essas reações podem ficar restritas à região da vagina ou se estenderem por todo o corpo.

O sêmen ou fluido seminal é o líquido produzido pelas gonadas masculinas, que contém os espermatozoides e é ejaculado durante o orgasmo. Se tirarmos os espermatozoides do sêmen o que nos sobra é o plasma seminal, um líquido rico em proteínas, enzimas, substâncias alcalinas, açúcares e muco.

O que chamamos de alergia ao sêmen é, na verdade, uma alergia às proteínas que existem no plasma seminal.

Essa reação de hipersensibilidade ao plasma seminal é bastante rara, ocorre quase que exclusivamente em mulheres e não é específica para um determinado parceiro. A mulher que tem alergia ao esperma desenvolve reação ao contato com qualquer plasma seminal, não adianta trocar de namorado.

Muitas vezes, o quadro alérgico pode parecer específico para um parceiro, pois a alergia pode surgir anos depois da mulher já ter iniciado a sua vida sexual. Pode até mesmo surgir com o marido depois de anos de casamento.

A maior parte das mulheres que sofrem com esse problema tem entre 20 e 30 anos, mas há casos em que alergia ao sêmen surge somente após os 50 anos. Também é possível que a hipersensibilidade surja na adolescência, logo na primeira relação sexual da vida da paciente.

É provável que a alergia ao esperma seja mais comum do que se imagina, pois o problema parece pouco diagnosticado porque muitas mulheres sentem-se inibidas de dizer ao médico ou ao parceiro que têm alergia ao sexo.

Além disso, essa alergia também é muitas vezes diagnosticada de forma errada como uma inflamação da vagina de origem infecciosa, pois os sintomas podem ser parecidos, por exemplo, com os de uma vaginite. Muitas mulheres passam anos tratando um suposta infecção, quando na verdade têm alergia ao sêmen.

Fatores de risco

Mais de 80% das mulheres com hipersensibilidade ao plasma seminal têm história de alergias mais comuns, como asma, dermatite atópica, urticária ou rinite alérgica. Há porém, casos de alergia ao sêmen em mulheres sem histórica alguma de outras alergias.

Entre os fatores de risco já reconhecidos, podemos citar:

  • Ficar longos períodos sem ter relação sexual.
  • Menopausa.
  • Uso de DIU (leia: DIU de Cobre e DIU Mirena – Anticoncepcional Intrauterino).
  • Histerectomia (retirada cirúrgica do útero).
  • Parceiro vasectomizado.
  • Parceiro com história de retirada parcial ou completa da próstata (prostatectomia).

Sintomas

A reação ao esperma costuma surgir dentro de 30 minutos após a ejaculação, e os sintomas duram cerca de 24 horas, apesar de haver casos um pouco mais demorados. Cerca de 70% das mulheres têm uma reação alérgica generalizada, enquanto nas 30% restantes, a reação é apenas local e fica restrita à região da vagina e vulva.

Em 10 a 15% das mulheres, a reação alérgica é tardia, surgindo várias horas depois do fim da relação sexual. Esses são os casos que costumam ser confundidos com vaginites de origem infecciosa.

Na vagina, os sinais e sintomas incluem ardência, sensação de calor, inchaço, vermelhidão e coceira. Os sintomas locais demoram mais a desaparecer e podem durar alguns dias.

Entre os sintomas sistêmicos, os mais comuns são a urticária, rinite, inchaço nos lábios, conjuntivite alérgica e dificuldade respiratória. Mulheres com reações sistêmicas também costumam ter reações locais na região vaginal.

Reações anafiláticas potencialmente fatais, com hipotensão arterial e colapso cardiovascular, ocorrem apenas em uma minoria das mulheres e até hoje não foi descrito nenhum caso de morte por alergia ao sêmen.

Tratamento

Os casos leves podem ser prevenidos com a tomada de um comprimido anti-histamínico (antialérgico) alguns minutos antes do início da relação. Esses medicamentos, porém, funcionam mal para os casos mais intensos.

A melhor forma de lidar com a hipersensibilidade ao plasma seminal é com o uso frequente da camisinha, que efetivamente previne o surgimento dos sintomas por evitar o contato direto do sêmen com a mucosa vaginal. O preservativo deve ser colocado antes do início da atividade sexual, pois o líquido pré-ejaculatório pode ser suficiente para desencadear a reação alérgica.

A camisinha, porém, não resolve o problema das mulheres que pretendem engravidar. Nestas, o tratamento pode ser feito com dessensibilização ao esperma. Esse tratamento consiste em uma repetida aplicação intravaginal ou subcutânea de pequenas e diluídas amostras do plasma seminal, de forma a ir acostumando o sistema imunológico ao antígeno. A via subcutânea tem resultados melhores.

Esse procedimento deve ser feito somente com um imuno-alergista e em ambiente hospitalar apropriado para atender uma reação anafilática, caso esta surja. O processo de dessensibilização ao sêmen é semelhante aos processos de dessensibilização a outros alérgenos.

Para que o organismo mantenha-se dessensibilizado, o casal precisa manter uma frequência de 2 a 3 relações sexuais desprotegidas por semana. Se não houver contato frequente com o sêmen, a dessensibilização desaparece com o tempo e os sintomas alérgicos retornam.

Fertilidade

Apesar de ser muito incômoda, a alergia ao esperma não provoca infertilidade. Mulheres com essa alergia conseguem engravidar normalmente, principalmente aquelas com reação leve e localizada.

O problema maior ocorre nas mulheres que já desenvolveram reação grave ao sêmen e, compreensivelmente, não estão dispostas a arriscarem uma nova exposição ao sêmen nem estão aptas a fazer o tratamento de dessensibilização. Nestes casos, a gravidez é possível por vias artificiais, como a fertilização in vitro ou inseminação artificial.


Referencias


Autor(es)

Médico graduado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com títulos de especialista em Medicina Interna e Nefrologia pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), Sociedade Brasileira de Nefrologia (SBN), Universidade do Porto e pelo Colégio de Especialidade de Nefrologia de Portugal.

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20 respostas para “Alergia ao sêmen: causas, sintomas e tratamento”

  1. Isabel da consolação Nogueira

    Tenho muitas infecções urinárias nunca descobriu a causa .mas acho que tenho alergia a esperma. Pois passo tempo sem relação é sem dor .quando tenho relação tenho que tomar atentibiotico ….o que posso fazer existe tratamento ? Ou só tranxar com camisinha?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      É mais provável você ter cistite pós-coito. Dê uma lida neste artigo: Cistite da lua-de-mel: infecção urinária após sexo.

  2. Vânia

    Meu marido é vactominado a muitos anos, agora estou com alergia ao sêmen, tem haver com o procedimento?. Medicamentos não estão resolvendo.

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Não consigo ver relação.

  3. Leonicio Cândido da Silva

    Bom dia eu faço sexo com minha esposa porém sem caminha, isto causa neste caso como não tenho nenhuma relação extra conjugal, mesmo assim tem incidência de ocorrer algum problema de saúde na parceira?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Você está perguntando em relação à alergia ou sobre doenças em geral, com DST?

  4. Novais

    Doutor, minha esposa sente ardência assim que ejaculo dentro da vagina, pode ser isso?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Sim, pode.

  5. Ilza

    Olá Doutor! Sempre que termino de transar fico toda empolada, porém a minha vagina fica normal sem ardência e coceira. Mesmo assim pode ser alergia ao sêmen?

    1. Avatar de Dr. Pedro Pinheiro
      Dr. Pedro Pinheiro

      Sim, não dá para descartar.

  6. Kaio

    Doutor apareceu algumas marquinhas no formato de fios, eu pesquisei e cheguei aqui nesse site, sabe me dizer se e alergia ao semem ?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Marquinhas onde?

  7. Denise Rezende

    Dr. Como realizar a confirmação de que realmente tenho alergia ao semem?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Você precisa de uma consulta com médico especializado em imunoalergia.

  8. Jennifer santos

    Doutor estou com esses sintomas da alergia ao sêmen! Um antialérgico é suficiente?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      Não costuma ser, mas você pode experimentar.

  9. Cilene Fiaux

    Dr. estou com todos os sintomas acima sobre alergia ao esperma do meu marido, não engravido a um ano, a ginecologista passa sempre remédio para fungos, bactérias e nada, meu marido fez espermograma está tudo normal, estamos tratando pelo SUS, qual médico devo procurar, preciso curar isso, sinto depois da ejaculação que minha vagina coloca o esperma todo para fora, e fico uma semana com um corrimento esverdeado esponjoso, meus exames já tudo normal e do marido também, o que faço?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      O especialista é mesmo o ginecologista.

  10. Jéssica

    Doutor, parei de tomar a pílula anticoncepcional tem menos de um mês, e estou sentindo meu corrimento mais ralo,e em maior quantidade, também venho sentido dores no pé da barriga durante a relação sexual em qualquer posição, e estou num nível de estresse muito grande. Queria saber o que está causando a dor? Se tem a ver com remédio ou estresse, ou doença?

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      Dr. Pedro Pinheiro

      O mais importante é ver se a dor não está sendo provocada por alguma infecção ginecológica.